O curso, que teve início no dia 25 de Julho, com a duração de um mês, é ministrado pelo Ministério da Educação através da Direção Nacional de Educação (DNE), financiado pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional e Desenvolvimento (AECID), no montante de cerca de 30 mil de euros.
Segundo a directora do Ensino Técnico Profissional e Educação de Jovens e Adultos, Carolina Reis, o curso tem como objectivo, sensibilizar e formar as mulheres agricultoras no meio rural sobre novas técnicas agrícolas e de rega como medidas de adaptação e resiliência às mudanças climáticas em Cabo Verde. Para além deste curso, Carolina Reis informou que irão dar continuidade, desta feita, com o curso sobre empreendedorismo social, durante mais duas semanas, que vai permitir a essas mulheres melhor gerir os seus negócios. De igual modo, afirmou, vão poder dinamizar ou criar o seu pequeno negócio ligado à questão da agricultura, facilitando deste modo, a comercialização dos seus produtos.
“Ao longo da implementação destes dois cursos iremos também realizar actividades de sensibilização da população sobre a temática do uso eficiente da água, mudanças climáticas, utilização da rega gota a gota, onde essas mulheres estão inseridas e não só”, acrescentou.
Como vai ser administrado
O curso, segundo Carolina Reis, iniciou nesta época que considera “bastante delicada”, tendo em conta o período de chuvas, mas essa responsável disse acreditar que as mulheres contempladas poderão perfeitamente conciliar a formação com o trabalho de campo, uma vez que as lições serão emitidas por meio da rádio educativa e possivelmente em outras rádios comerciais.
“Mas temos uma outra forma de fazer chegar estas aulas a essas mulheres, através da estratégia de criar um grupo de escuta a nível local, caso tiverem dificuldades de acompanhar as aulas, iremos também ter possivelmente apoio de algumas rádios comunitárias”, sublinhou.
Em que consiste o curso?
Cabo Verde é um exemplo perfeito de vulnerabilidade às mudanças climáticas. A insularidade do arquipélago e as características climáticas (comum à região do Sahel) terão efeictos graves sobre aos já sensíveis ecossistemas, bem como as pessoas que dependem deles, devido às mudanças climáticas. Nesta prespectiva, o curso visa abordar temas como rega e as mudanças climáticas em Cabo Verde.
A Comunicação Nacional Inicial de Cabo Verde (INC-1999) à Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, identificou a água, florestas, o desenvolvimento costeiro, agricultura e pecuária como os sectores mais vulneráveis às mudanças climáticas.
“Com essas preocupações em mente, pretende-se ministrar no decorrer do curo, temas como recursos hídricos em Cabo Verde: Desafios na transformação da agricultura, boas práticas de adaptação ao Clima, fontes de água e de energia no meio rural, soluções e medidas no uso eficiente da água de rega, uma abordagem integrada. Também ministrar conteúdos do tema empoderamento das mulheres e resiliência ao clima” referiu.
Ainda de acordo com Carolina Reis, um dos temas a ser abordado é a questão dos “Riscos e Vulnerabilidades às Mudanças Climáticas” o “Uso Eficiente da Água na Rega” e “Rega gota-a-gota: sistema de rega excelente como medida de adaptação”. Os três últimos anos hidrológicos caracterizaram-se por precipitações muito deficitárias e esta situação de défice acumulado torna a disponibilidade de água bastante crítica em Cabo Verde, afectando tanto o abastecimento público, como as actividades produtivas.
“A degradação da qualidade da água e o défice no seu abastecimento, afecta de forma mais precoce e profundas as localidades situadas nas zonas altas, onde a água potável provém quase exclusivamente da exploração de furos e poços, cujo caudal diminuiu drasticamente. Alguns destes pontos de água estão falidos e a tendência é para o agravamento da situação”, disse.
Água como fonte de rendimento
A diminuição da produção hortofrutícola, com impacto muito negativo na disponibilidade de alimentos e na renda das famílias nas zonas rurais, está directamente associada ao défice de água. Efectivamente regista-se uma baixa drástica de produção, tanto nas áreas agroflorestais de altitude não irrigada, como no regadio, onde as parcelas passam a ser cultivadas parcialmente, ou são temporariamente deixadas no pousio, apenas por falta de água. Isto provoca a diminuição drástica da renda dos agricultores afectados e o aumento de preços de produtos hortícolas e frutícolas no mercado, o que não se compatibiliza com a capacidade financeira de muitas famílias de renda baixa, afectando, negativamente, a sua dieta alimentar.
“A maioria das famílias que vivem nas zonas rurais dependem da produção agrícola. A falta de água, ou a gestão desequilibrada acaba por prejudicar na actividade geradora de rendimento destas famílias. Na zona rural muitas vezes menos água significa menos recurso financeiro. Menos água equivale a baixa produção agrícola.” Comparou.
Para além disso, como explica esta responsável, a penúria de água e a aridez ambiental favorecem o surgimento de pragas e doenças, que contribuem também para a diminuição da produção. A diminuição da produção pecuária de ruminantes, dada a penúria de pasto e muitas vezes da água para o gado. Esta situação é mais grave nas zonas áridas e semiáridas, onde, infelizmente, prevalece ainda o sistema tradicional de pastoreio livre de bovinos, caprinos e ovinos. A redução da produção da carne e do leite e os seus derivados (manteiga e queijo) afecta, igualmente, os preços no mercado. Num primeiro momento, sobretudo em tempos de crise, os animais vivos e as suas carnes tornam-se mais baratos.
Contribuição do curso para o desenvolvimento económico
A falta de água contribui para que os preços aumentem, não só pela redução da oferta, mas também pelo aumento das expectativas, devido à aproximação da nova época das chuvas. A penúria de pasto e da água favorece o surgimento de parasitas e doenças nos animais, provocando também, por esta via, a diminuição da produção e da renda dos criadores. O agravamento da situação alimentar e nutricional das famílias, sobretudo no meio rural. Isto está directamente relacionado com as consequências da seca e resulta, obviamente, da redução do rendimento e do acesso físico e financeiro aos alimentos.
Carolina Reis aponta que uma das vantagens de dotar mulheres na agricultura com conhecimento sobre a gestão dos recursos, é o impacto positivo na economia das famílias, contribuindo para o desenvolvimento económico das zonas contempladas, uma vez que contribuirá para a redução do custo de produção da água e o aumento da produção agrícola.
“Espera-se com esta formação que as 250 mulheres agricultoras da ilha de Santiago estejam sensibilizadas e capacitadas sobre o impacto das mudanças climáticas no sector da agricultura, no uso eficiente da água, e a importância, e vantagens sobre utilização das técnicas de regas eficientes. Tudo isso terá um impacto positivo, contribuindo para o desenvolvimento económico das zonas contempladas, uma vez que contribuirá para a redução do custo de produção da água e o aumento da produção agrícola, com recurso a técnicas sustentáveis e modernas de rega”, acrescenta.
A coordenadora geral da Cooperação Espanhola em Cabo Verde, Patrícia Ramos, por sua vez, afirmou que o curso “Mulheres na Agricultura, Rega e Mudanças Climáticas” se trata de um dos projectos que fazem parte do programa de cooperação entre Espanha e Cabo Verde, como forma de imponderar as mulheres no sector agrícola do meio rural, através da formação em rega gota-a-gota.
“Podem ter a capacidade de melhorar a sua produção através da receita que vão ter e ter mais capacidades para participar na tomada de decisões no sector económico e da sua própria vida”, precisou a mesma fonte.
O curso insere-se no âmbito do Projecto Melissa, que se iniciou em 2019 para contemplar sobretudo mulheres empreendedoras, no quadro da cooperação entre Cabo Verde e a Região Autónoma das Canárias, e contempla seis concelhos da ilha de Santiago, nomeadamente São Domingos, Ribeira Grande de Santiago, São Miguel, Santa Cruz, Santa Catarina e Tarrafal, enquadra-se âmbito do protocolo de colaboração assinado entre a rádio Ecca e o Ministério da Educação. É financiado pela AECID (Agência Espanhola de Cooperação Internacional e de Desenvolvimento).
O curso será promovido e coordenado pela rádio ECCA Fundação Canárias e pela Direção Nacional de Educação, através do Serviço de Ensino Técnico Profissional e Educação de Jovens e adultos, e conta com a colaboração das delegações do Ministério da Educação e do Ministério da Agricultura e Ambiente onde o curso será implementado e com o apoio de outras instituições nacionais.
* Com agências
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1079 de 3 de Agosto de 2022.