O Expresso das Ilhas conversou com o presidente da FCAC, Denílson Monteiro, que explicou que a campanha nacional de início às aulas consiste em chamar a atenção dos pais e encarregados de educação, no sentido de perceberem que a educação é algo que deve ser partilhada, tanto pela família como pela escola.
“A campanha nacional de início às aulas basicamente chama a atenção dos encarregados de educação que a escola irá complementar o que em casa começa a ser ensinado. Tem como principal objectivo auxiliar os pais e encarregados de educação a preparar os seus filhos e educandos antes das aulas iniciaram”.
Este responsável explica que é preciso trabalhar nos alunos a empatia e o respeito ao próximo. Os pais devem trabalhar no sentido de fazer com que o seu educando entenda que nem todas as crianças são iguais. Trabalhar o respeito pelo aluno com menos condições financeiras, o respeito e a empatia pelo aluno deficiente, pelo aluno que aprende num ritmo mais lento.
Trabalhar principalmente para fazer com que os alunos entendam que atribuir nomes pejorativos aos colegas não irá ajudar em nada, pelo contrário, pode provocar transtornos, traumas e medos a longo prazo.
“Os pais e encarregados de educação devem ensiná-los que a diferença é normal e que andar com os mesmos sapatos todos os dias, carregar a mesma mochila não é sinal para tratar ninguém com diferença. A preocupação é sobretudo com as crianças que vão iniciar as aulas pela primeira vez. Para o ensino secundário, foi feita a constatação de várias divergências entre adolescentes e jovens nos liceus. Por este motivo, queremos chamar a atenção dos pais, porque as crianças funcionam conforme a educação que lhes são transmitidas no seu lar, muitas vezes estes educadores deixam a responsabilidade da educação para a escola, sem acompanhar os filhos e preocupando-se apenas com a nota final”.
Participação da família na educação
O presidente da FCAC avalia a participação das famílias cabo-verdianas na vida escolar e educação dos alunos como deficitária. Este responsável associa esta fraca participação na vida escolar dos filhos ao facto de a sociedade cabo-verdiana ser predominantemente formada por famílias monoparentais, na maioria com mães chefes de família, o que acaba sobrecarregando essas mulheres que muitas vezes sem querer e por falta de tempo, acabam por deixar a educação dos filhos nas mãos dos professores.
“Precisamos que os pais tenham mais cuidado com os seus filhos na escola, que possam no mínimo tirar uma hora por dia para saber como foi a escola, se está algo a acontecer e se for o caso, agir em tempo certo e oportuno”.
Pais educam, escolas complementam
Denílson Monteiro, diz que a maioria dos pais em Cabo Verde só descobrem que algo errado está a acontecer com os filhos em situações extremas. Denílson Monteiro sublinha que hoje em dia é mais fácil abordar certos assuntos que antes eram considerados tabu. A abordagem da questão das substâncias ilícitas torna-se cada vez mais precoce, porque segundo este responsável, estão cada vez mais perto das escolas.
O bullying escolar que é um conjunto de comportamentos agressivos que ocorre entre crianças e jovens no espaço da escola, que acarreta ofensas verbais, ameaças, humilhações e ataques físicos, é um outro tópico que o presidente da FCAC insiste que deve ser trabalhado em casa, para fazer com que os alunos entendam que não podem fazer com os outros aquilo que não gostariam que os outros fizessem com eles.
Importância do suporte familiar
A FCAC aconselha os familiares a procurarem estar mais perto da vida educativa dos seus educandos. Não esperar só no final do ano lectivo para saber se o seu educando passou ou não de classe. Denílson Monteiro acrescenta que a Família e a escola actuam juntas na formação das crianças e dos jovens, proporcionam o suporte e os incentivos necessários para que se desenvolvam de forma integral e alcancem todo o potencial que possuem.
“É fundamental que todos os dias os encarregados de educação procurem saber junto da escola, junto do professor o comportamento do aluno. A qualquer sinal de mudança de comportamento devem procurar saber qual o problema e resolvê-lo da melhor forma possível. Educação é fundamental para qualquer criança e será mais fácil, saudável e mais rico quando une pais e professores nesse processo”.
Visão pedagógica
O presidente da FCAC destaca a fraca participação dos encarregados de educação na vida escolar dos alunos. Por exemplo, enfatiza este responsável, quando é marcada uma reunião de pais e encarregados de educação é sempre uma minoria que se empenha em participar. A maioria tem sempre desculpas para as suas ausências.
Por sua vez, a professora Alcídia Horta sublinha que é de extrema importância a participação dos pais na vida escolar. Esta educadora conta que os alunos cujos pais estão sempre perguntando sobre o comportamento, as notas, faltas por atraso ou ausência e participam com regularidade nas reuniões ou comparecem quando são solicitados, seus filhos são mais fáceis de encaminhar.
A professora conta ainda que os alunos têm mais disciplina, em termos de comportamento, quando sabem que os pais vão procurar saber sobre a conduta dos filhos na escola. Um outro ponto referido pela professora é a questão da agressividade. Está educadora contou ao Expresso das Ilhas, com base na sua experiência como professora de muitos anos, que os alunos cujos pais se preocupam em saber o porquê de qualquer mudança de comportamento, ou comparecem na escola quando houver qualquer desentendimento do filho com colegas, esses alunos são mais cautelosos e evitam situações de conflito verbal e principalmente físico.
Na mesma óptica, a professora Helena Carvalho, refere que a vantagem de uma boa base familiar na educação dos alunos é fundamental para o sucesso escolar. Professora do ensino básico, Helena aventurou-se no estudo da educação religiosa, tendo entre os objectivos transmitir valores sociais e religiosos aos alunos. Esta educadora acredita que a família e a escola devem manter sempre um bom diálogo, demonstrar companheirismo e interesse pelos mesmos objectivos, que visam garantir uma melhor aprendizagem ao aluno, seja ela na sua formação pessoal ou social, comprometendo-se alcançar o sucesso na aprendizagem e na formação do indivíduo.
“A participação na reunião e na actividade escolar é muito importante e influencia bastante na aprendizagem do aluno e melhora as suas notas, porque os pais estão por dentro de tudo e podem ajudar os filhos nos deveres de casa como TPC, trabalhos de arte, etc., e com isso os alunos sentem-se mais motivados e responsáveis nos seus estudos e principalmente melhoram o comportamento, uma vez que sabem que o responsável está sempre atento a qualquer desvio”.
A campanha “Mi é primeru professor de nha fidjo”, durará todo o ano lectivo, em que serão levadas várias iniciativas às escolas, às comunidades para que juntos possam contribuir para uma educação com mais qualidade e todos possam respeitar e aceitar as diferenças dos outros.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1084 de 7 de Setembro de 2022.