“Participar da Web Summit foi uma enorme oportunidade para nós como empresa e start-up. A nossa presença foi de muita valia, pudemos conhecer empresas/startups da mesma área de actuação, estabelecendo contatos e parcerias”, diz ao Expresso das Ilhas Sónia Monteiro, da Cartec, jovem empresa proprietária da startup Panha Bentu.
Opinião semelhante é partilhada por Leonardo Fernandes, da startup Cabo Verde Tour. “Participar neste evento é fazer parte daquela que é a principal e maior conferência em novas tecnologias, inovação e empreendedorismo do mundo. Apresentei o meu produto, a minha inovação, e pude demonstrar o impacto que irá causar, o valor que irá acrescentar ao meu país que quer ser um Hub, tanto a nível da nossa sub-região, como também a nível global”.
Como resumiu a The Atlantic, a Web Summit é “onde o future vai nascer”. Esta foi a sexta edição presencial da maior conferência de tecnologia e empreendedorismo do mundo, que acontece em Lisboa, em 204 mil metros quadrados na zona do Parque das Nações. Entre os oradores, este ano, estiveram o co-fundador da Airbnb, o linguista e activista Noam Chomsky, ou a rainha da Jordânia, para falarem de tópicos que vão da tecnologia à ciência dos dados, do design à sustentabilidade ambiental.
“Entendi que não é um evento só sobre tecnologias, mas também sobre interatividade pessoal e multidisciplinar”, sublinha Leonardo Fernandes, “voltei ao meu país com uma perspetiva mais alargada, um horizonte aberto do mundo, tanto na minha vida pessoal como na profissional. Regressei zumbindo de novas ideias, recarregado de novas energias e consolidado na paixão pelo meu trabalho, porém com mais capacidade e possibilidade de reunir com possíveis parceiros e investidores resultantes da rede de contato que fiz através da networking”.
“A participação no Web Summit foi espetacular e com certeza foi uma mais- -valia para o nosso projeto”, diz Dáfine Medina da startup Banco do Tempo. “O espírito com que se retorna do Web Summit é de fazer acontecer, com ainda mais ânimo e entusiasmo. No Web Summit somos contagiados pela magia da transformação e inovação e além de conseguir visualizar uma excelente evolução do nosso projeto, ainda voltamos cheios de novas ideias e novos projetos de inovação para contribuir com o desenvolvimento do nosso país”.
A cerimónia de inauguração do evento, criado pelo irlandês Paddy Cosgrave, decorreu ainda no feriado de 1 de Novembro e contou com uma presença surpresa: a primeira-dama ucraniana Olena Zelenksa. Nos três dias seguintes houve centenas de conferências num recinto muito movimentado onde se cruzaram pessoas dos quatro cantos do mundo. Nos vários palcos que compõem a Web Summit falou-se de educação, informação e inovação.
“A participação foi definitivamente positiva e necessária para qualquer empresa ou empreendedor que queira fazer negócios e parcerias num dos palcos tecnológicos mais cobiçados do mundo”, diz ao Expresso das Ilhas Abel Mendonça, da startup Afrikan Coders. “As empresas/startups de Cabo Verde só poderão dar um salto significativo se saírem da sua zona de conforto para um modelo de globalização onde estes empreendedores passarão a estar em contacto directo com os maiores investidores e empresas tecnológicas de nível mundial. A Afrikan Coders saiu do evento com o sentido de dever cumprido. Foram realizados vários contactos com investidores e potenciais parceiros”.
O futuro digital
Este ano, Cabo Verde levou a Lisboa foi uma delegação de mais de 50 pessoas, incluindo as 10 startups seleccionadas através do programa GoGlobal – um concurso público nacional.
Em paralelo com a missão principal, foram organizados dois eventos: The Journey of a Tech Island, sobre a caminhada do país no desenvolvimento do ecossistema digital de Cabo Verde; e o Dreams & Demos -Special Edition Lisboa, uma iniciativa da Buldanho Inovação e Tecnologia, com o apoio da Cabo Verde Digital – o objectivo foi juntar startups, instituições públicas e privadase investidores para estabelecer parcerias/negócios.
O programa Cabo Verde Plataforma Digital e da Inovação faz parte do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2022-2026 (PEDS II) – no pilar economia – e tem, entre outros objectivos, atingir, até 2026, 50% de empresas cabo-verdianas que priorizem ter as suas bases de dados na Cloud nacional e elevar para 200 o número de aplicações «Made in CV» promovendo a inclusão e a igualdade de género. Dentro de quatro anos espera- se também ter no Parque Tecnológico, no mínimo, 30 inquilinos, 30 Startups, 3 empresas exportadoras, 3 Centros de Competências a operar e pelo menos 1 Centro de Assemblagem assegurando a inclusão e a igualdade de género.
“Cabo Verde, através das 10 startups presentes [no Web Summit], mostrou que está cada vez mais próximo de ser um Hub digital, tanto a nível da nossa sub-região da África Ocidental, como também a nível Global”, considera Leonardo Fernandes, da Cabo Verde Tour – Solução que visa a digitalização de museus e monumentos históricos de Cabo Verde, permitindo a realização de experiências imersivas em três dimensões (3D).
“Cabo Verde tem jovens cada vez mais capacitados e visionários no que diz respeito à evolução digital do nosso país com projetos muito interessantes e rentáveis, com os quais acredito ser possível elevar Cabo Verde gradativamente a um outro patamar”, sublinha Dáfine Medina, do Banco do Tempo – sistema de trocas de serviços que promove o encontro entre a oferta e a procura e cuja moeda de troca é o tempo.
“Outro ponto positivo”, continua a empreendedora, “são os programas desenvolvidos pelo Governo para acolher e incubar projetos de base tecnológica. Ainda há um grande trabalho a fazer, juntamente do Governo, para serem criadas melhores condições para operacionalização e implementação de projetos. Mas, de forma geral, consigo ver Cabo Verde com um grande potencial tecnológico e acredito que estamos num bom caminho”.
A Afrikan Coders é uma consultoria informática e outsourcing de mão-de-obra qualificada para trabalho remoto a partir de Cabo Verde. Segundo Abel Mendonça, procurar novos mercados, fora do arquipélago, é fundamental para a sobrevivência das empresas nacionais. “O mercado nacional é pequeno, não só pela questão de sermos dispersos, por ter um baixo número de população, bem como porque o poder de compra ainda é baixo. Observamos um interesse, cada vez maior, das empresas em digitalizar-se, contudo, a massificação de produtos digitais em Cabo Verde é um desafio. As tecnologias requerem uma mudança de mentalidade, caso contrário, ainda estaremos aquém de realmente efetuar uma transformação digital significativa”.
“Ser um país competitivo requer investimentos de base, apostar no Capital Humano, robustecer a massa critica do país, e essa aposta deve ser constante e de qualidade, não estamos falando apenas de números, isto é, de apenas formar jovens nessas áreas. Competir globalmente exige um investimento desde a escola primária, até o secundário. Irá levar o seu tempo, mas sabemos que a longo prazo terá resultado”, refere o empreendedor.
“Temos muito a oferecer nesse ecossistema e digital e temos atraído olhares de pessoas que querem investir em Cabo Verde”, diz Sónia Monteiro da Panha Bentu – Sistema que consiste num túnel de vento que é fixado à parte superior do veículo, contendo no seu interior um turbogerador que aproveita a energia proveniente do fluxo do ar para convertê-lo em eletricidade. “O futuro digital de Cabo Verde será escrito por jovens que acreditam e apostam no digital. E Cabo Verde está no caminho certo”, conclui a empreendedora.
Texto publicado originalmente na edição nº1094 do Expresso das Ilhas de 16 de Novembro