Unhas estampadas com flor, borboleta, marcas famosas e efeitos de mármore. No pequeno espaço das unhas cabe uma infinidade artística que combina técnica e criatividade da manicure, conforme o gosto da cliente.
As pequenas telas de arte exigem muita paciência e prática das profissionais que muitas vezes têm de fazer alongamentos feitos em gel ou acrílico.
Manicure há dez anos, Claudira Mendes começou a trabalhar com as unhas quando tinha apenas 15 anos de idade e sem nenhuma formação na área.
Conforme conta, ao descobrir o seu dom, logo começou a trabalhar num grande salão de beleza, onde ficou durante quatro anos. Agora, trabalha por conta própria.
“Divido o espaço onde trabalho com uma outra pessoa que é barbeiro. Por mês, faço unhas a cerca de 50 pessoas, ou seja, cinco a sete pessoas por dia. Trabalho com mulheres de todas idades, muito jovens, jovens e pessoas com mais idade”, relata.
Na última época festiva, a profissional chegou a atender até dez pessoas por dia, dobrando assim o número de atendimento diário e o lucro.
O serviço mais procurado no espaço da Claudira são os alongamentos. O trabalho dura, em média, uma a quatro horas para ser concluído. Um outro serviço com muita procura é a esmaltação em gel. Ambos exigem manutenção mensal.
Segundo Claudira Mendes, muitas clientes levam as suas próprias referências do que querem fazer nas unhas e quando não têm noção do que fazer usa a sua criatividade para sugerir o tipo de estampa.
“Uso autocolantes para fazer algumas estampas, mas prefiro ser eu mesma a desenhar; é o que faço na maioria das vezes. Gosto de arte. Aliás, ser designer de unhas é um trabalho que com muita dedicação é possível lucrar muito pois não é uma moda passageira”, afirma.
Leide Rodrigues tem 23 anos e trabalha como manicure desde os 21. O gosto por esta profissão surgiu depois de ver uma oferta de formação.
“Foi uma boa escolha porque gosto de trabalhar com unhas. Dependendo da época do ano assim tende a ser a procura”, avança.
Por exemplo, diz que na época natalícia chegou a trabalhar das 7h00 da manhã às 2h00 do dia seguinte, tanta era a procura.
Esmaltação em gel e alongamentos foram os mais procurados. Esses custam 800 e 1.200 escudos, respectivamente.
À semelhança de Claudira, as clientes da Leide levam a sua própria referência de unha, o que não a impede de fazer sugestões, mas também de fazer experiências com as clientes mais antigas, que considera serem também amigas.
Valorização da profissão
Para Leide Rodrigues, manicures e designers de unhas ainda não são muito valorizadas.
“O meu espaço fica num bairro periférico (Ponta d’Água) e muitas pessoas desta localidade preferem fazer as unhas num bairro mais nobre por acharem que há maior qualidade, embora tenhamos feito a mesma formação”, acredita.
Leide aponta ainda como desvalorização da profissão o facto de as pessoas terem a ideia de que as manicures são obrigadas a refazer as suas unhas no caso de estas se partirem.
“A culpa da unha se partir nunca é da pessoa, recai sempre na manicure que fica com fama de ter feito mal o seu trabalho, isso quando não reclamam do preço esquecendo-se que temos de comprar os materiais e ainda fazer muito esforço para fazer um desenho bem feito”, lamenta.
A jovem designer defende que as pessoas deveriam valorizar mais o trabalho daquelas que trabalham para que as suas unhas estejam “impecáveis”, já que elas comprometem a sua própria saúde por passarem muitas horas sentadas.
“Sinto muitas dores nas costas por estar curvada durante horas e a dor é mais intensa quando tenho a agenda cheia. Por vezes sinto dores nas pernas de tanto sustentar o peso dos pés de alguém ao fazer as unhas dos pés”, lamenta.
Às profissionais da área, a jovem pede que valorizem a sua profissão, algo que não fazem “quando cobram muito barato”.
“Não podemos cobrar um valor muito baixo apenas porque as pessoas reclamam do preço. O nosso trabalho não é fácil. Sem falar que se trata de uma arte, muitos desvalorizam, mas é arte”, defende.
Na mesma linha, Claudira Mendes diz que já há quem valorize o trabalho das manicures e designers de unhas, mas muitos ainda não levam a profissão a sério.
“E deviam levar porque é um trabalho árduo. Tanto que sinto dores na coluna de tanto sentar numa má postura, já que tenho de me curvar constantemente. São horas sentada e curvada”, exemplifica.
Procura por formação aumentou nos últimos anos
Patrícia Borges é proprietária da “Estética Real”, um salão de capacitação com oito anos de existência. Conforme revelou ao Expresso das Ilhas, a procura por formação em estética, mais precisamente em manicure, aumentou muito nos últimos quatro anos.
A formação de capacitação, segundo explica, dura um mês. Nas aulas as formandas são ensinadas a fazer manicure, pedicure, trabalhar com gel e esmaltação com gel, popularmente conhecido por gelinho. O número de formandas, refere, varia entre 10 e 15 por cada turma.
“A moda das unhas não é passageira, as mulheres estão cada vez mais vaidosas, mais preocupadas com a sua aparência física, pelo que a tendência é aumentar as clientes e o número de profissionais, já que é um trabalho bem prático”, considera.
Conforme Patrícia, em Cabo Verde há mercado suficiente para todas aquelas que procuram formação na área. Como exemplo, diz que mesmo que não consigam trabalhar num salão de beleza, sempre podem abrir seu próprio negócio.
“Qualquer uma pode abrir o negócio, mesmo sendo em suas casas. Basta terem duas cadeiras e uma mesa para ganharem a vida”, realça.
A “Estética Real”, conforme a proprietária, não é pioneira em formar profissionais de unhas. Aliás, Patrícia Borges refere que também é formadora no Instituto do Emprego e Formação Profissional.
Por conhecer bem o sector, Patrícia aponta como maior desafio a disponibilidade de matéria-prima.
“Não temos muitos fornecedores. Neste momento, temos um ou dois. Para mim, não é assim tanto um problema, porque sempre que vou para o exterior trago os meus produtos. Mas, para as formandas, que terminam a formação e que precisam de material de trabalho para iniciarem, é um pouco complicado”, reporta.
Dinheiro exclusivo para unhas
Carolina de Pina, 27 anos, conta que sempre gostou de ter as unhas bem tratadas. Mas foi apenas há quatro anos que despertou a paixão por unhas com desenhos bem elaborados.
“Via outras pessoas cujas unhas tinham desenhos bonitos, principalmente mulheres emigrantes, desenhos diferentes e tive vontade de fazer. Comecei e agora todos os meses faço um desenho diferente”, descreve.
Todos os meses, porque as técnicas de hoje permitem que um desenho fique perfeito durante 30 dias, ou mais, conforme o cuidado das unhas, profere.
“A cada 30 dias renovo a cor e o desenho das minhas unhas e o estilo também. Há meses em que eu gosto de unhas chamativas e há meses em que eu prefiro um desenho mais discreto. Hoje, tenho um dinheiro específico para as unhas, sempre no final do mês ponho de parte 1.600 escudos para as unhas tanto das mãos, como dos pés”, admite.
Para esta fã da arte das unhas, nos últimos aos as técnicas além da diversidade de desenhos, há também cada vez mais pessoas especializadas nesse serviço, o que é bom para o bolso. Mas, continua, também há cada vez mais adeptas desta moda.
“Actualmente, quem quiser uma unha bem feita tem de concorrer com outras pessoas, é tudo com marcação prévia. Há centenas de mulheres que querem fazer as suas unhas. Por exemplo, no final do ano não consegui vaga para fazer as unhas, estava tudo cheio”, refere como exemplo da demanda.
“Quanto mais concorrência, mais barato fica o serviço. Concorrência não apenas na quantidade de pessoas que oferecem este serviço, mas também na qualidade. Então hoje, temos designers para todos os bolsos, há quem cobra mais e há quem cobra menos pelo seu serviço”, menciona.
Carolina de Pina reconhece que preza mais quem sabe cuidar das suas unhas de acordo com as suas exigências. Tem de ser de acordo com o seu estilo e corte no tamanho ideal.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1101 de 4 de Janeiro de 2023.