O diploma, de 12 de Janeiro, recorda que 13% da população em Cabo Verde vive em situação de pobreza extrema, situação agravada desde 2020 pela crise económica provocada pela pandemia de covid-19, pela grave seca que afecta o arquipélago e pela crise inflacionista provocada pela guerra na Ucrânia.
O fundo social MAIS, anunciado em Dezembro de 2021 pelo Governo, aprovado em Conselho de Ministros um ano depois e que agora será operacionalizado, visa a “eliminação da pobreza extrema” através do reforço das “políticas sociais de protecção dos grupos vulneráveis”.
Segundo as informações avançadas pela Lusa, a actividade do fundo será financiada, conforme prevê o decreto-lei, com 55 escudos da taxa paga pelos turistas por cada noite de estadia em Cabo Verde, através de transferência a partir do Fundo do Turismo.
Prevê também a transferência de uma “percentagem das receitas de privatizações e concessões a ser regulamentada em diploma próprio”, bem como “comparticipações, dotações, transferências, subsídios ou doações”, via Orçamento do Estado ou por “quaisquer outras entidades públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras ou internacionais”.
O Governo prevê privatizar ou concessionar a actividade de empresas públicas nos sectores dos transportes aéreos e marítimos, produção e distribuição de água, importação e distribuição de medicamentos, entre outros.
Serão beneficiados pelo fundo MAIS “pessoas em situação de extrema pobreza, abrangendo, predominantemente os grupos-alvo”, como “agregados familiares pobres em comunidades sem cobertura adequada de serviços sociais básicos”, famílias que “indiciam a deterioração das suas condições de vida devido a choques, designadamente, seca, crise alimentar, pandemias e desastres naturais” ou as lideradas por mulheres, “preferencialmente as que residem no meio rural, e que tenham crianças menores de 15 anos”.
Também imigrantes, agregados familiares “que tenham sob seus cuidados crianças de zero a cinco anos, pessoas idosas ou pessoas com deficiência, em situação de dependência”, bem como “pessoas com deficiência” que vivem em situação de isolamento, doentes crónicos, vítimas de violência doméstica e de violência baseada no género, ex-toxicodependentes, ex-reclusos e retornados forçados e voluntários, além de pessoas “em situação de rua”.
O decreto-lei que institui o fundo MAIS estabelece uma comissão de acompanhamento integrando responsáveis pelas políticas sociais do Governo, dos municípios, das organizações não-governamentais, das Igrejas e câmaras de comércio.
O Governo anunciou em 06 de Janeiro último a aprovação da Estratégia Nacional para a Erradicação da Pobreza Extrema até 2026, situação em que se encontram quase 12.200 famílias no arquipélago.
“É uma estratégia transversal que impõe uma responsabilidade também para os vários sectores e é uma estratégia que pretende, acima de tudo, reforçar o sistema de protecção social focalizando no aumento da cobertura dos programas sociais e da transferência de rendimento”, explicou, em conferência de imprensa, na Praia, a ministra da Presidência do Conselho de Ministros, Janine Lélis.
A Estratégia Nacional para a Erradicação da Pobreza Extrema até 2026 foi aprovada no dia anterior em reunião do Conselho de Ministros e “define as ações estratégicas necessárias”, como a “expansão do rendimento social de inclusão” e apoios diretos às famílias com crianças.
“Vai-se também utilizar o mecanismo da promoção da inclusão produtiva através das medidas de formação e apoio à criação do próprio negócio para os adultos e ainda expandir a cobertura da pensão social”, enumerou.
“Cerca de 13,1% da população cabo-verdiana vive na condição de extrema pobreza, considerando que são pessoas que têm menos do que o que corresponderia a 135 escudos por dia para a satisfação das suas necessidades básicas”, explicou a ministra.
Acrescentou que os dados actuais “apontam para a existência de 12.184 agregados familiares a viver em extrema pobreza”.
Segundo Janine Lélis, os estudos apontam que a “transferência de rendimento tem sido eficaz para tirar as pessoas da extrema pobreza”, pelo que será “uma aposta” a manter pelo Governo.
“Sendo certo que é preciso trabalhar para erradicar a pobreza extrema. Mas é preciso também incentivar e cultivar medidas de autossuficiência para quando as pessoas estiverem na condição de realmente poder aproveitar as oportunidades de desenvolvimento económico”, destacou.