Jacob Vicente falava aos jornalistas, à margem da conversa aberta sobre “abuso e violência sexual na infância, tramas e as suas influências na vida adulta”, promovida pela Associação Cabo-verdiana de Luta Contra Violência Baseada no Género (ACLCVBG), Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG) e do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA).
O psicólogo reconheceu que existe um conjunto de iniciativas legislativas neste sentido, mas salientou que não tem havido resultados.
“Estamos perante uma situação de privacidade social, por um lado, que está enquadrada dentro de uma política pública ineficaz e ineficiente, e temos estado a ter um conjunto de reacções institucionais perante determinados acontecimentos, mas não temos uma política pública no tempo e durante uma legislatura inteira que diz que vamos intervir nessas linhas”, disse.
Por outro lado, segundo adiantou, existem muitas pessoas a viver com trauma que acaba por afectar toda a família, e muitos adultos não conseguem ter estabilidade familiar por causa de um passado que o companheiro ou companheira desconhece completamente.
Na ocasião, Jacob Vicente realçou que a prioridade é criar uma base de atendimento às vítimas de abuso sexual e deixar de focar nas estatísticas e números, sendo que são as pessoas e famílias que sofrem com a dor e frustrações.
Na mesma linha, defendeu que o Estado deve comparticipar nas sessões de psicoterapias das vítimas, uma vez que, vincou, em Cabo Verde, “infelizmente, grande parte dessas crianças que hoje são adultos nunca fizeram uma terapia ou tiveram acompanhamento psicológico”.
Segundo disse, os dados apontam que existem dois tipos de actores de abusos sexual, ou seja, os pedófilos, que são pessoas com algum tipo de transtornos e representam 1% dos violadores e os abusadores sexuais que são adultos, o que corresponde a 99% dos agressores.
Jacob Vicente avançou ainda que grande parte dos agressores também já foram vítimas, ou seja, um jovem rapaz que é abusado durante a sua infância de forma constante tem uma tendência muito grande de vir a tornar-se um abusador e replicar o acto, porque adaptou-se à situação de ser abusado e passa a interpretá-la como normal e começa a fazer parte do seu comportamento.
O psicólogo entende que o plano estratégico deve ser socializado nos bairros onde acontecem os abusos, os estudos devem ter a preocupação de trazer um olhar mais multidisciplinar e é preciso alargar o conceito da discussão sobre o abuso sexual em Cabo Verde.