Na Cidade da Praia haverá desfile de quatro grupos oficiais: Vindos d’ África de Achadinha/Bairro Craveiro Lopes, Samba Jó de Palmarejo, Bloco Afro Abel Djassi de Achada Santo António e Vindos do Mar de Achada Grande Frente.
Este ano, apesar de alguns constrangimentos, por falta de apoios, subida dos preços dos materiais e insegurança nos ensaios, os grupos estão empenhados em levar um bom desfile à Avenida Cidade de Lisboa.
Alguns grupos começaram muito tarde com os preparativos, por falta de verbas, mas estão a trabalhar sob rodas, para levar muita cor, brilho e folia aos praienses, pois todos querem ganhar prémios.
Faltam poucos dias para a festa do “Rei Momo”, e ainda os grupos estão à espera do restante dos montantes prometidos pela Câmara Municipal, para avançar com os trabalhos. Por outro lado, os grupos criticam as instituições sediadas na capital do país, porque não investem nesta manifestação cultural.
Este ano, o desfile está agendado para sair às 17h00. Samba Jó será o primeiro grupo a entrar na Avenida, seguido de Vindos do Mar, Bloco Afro Abel Djassi e Vindos d’África. Mas antes disso, a Avenida Cidade de Lisboa irá receber grupos de animação como Bididó e Ariah do Norte e vários outros. No dia 23 deste mês, haverá a entrega dos prémios aos vencedores do Carnaval, na Praça Alexandre Albuquerque, no Plateau.
Ainda em relação ao Carnaval, no domingo, 19, haverá desfile dos jardins-de-infância, a partir das 17h00.
Retoma
Segundo o representante de Samba Jó, João Elias Teixeira, a retoma do Carnaval está a ser algo muito complicado para o grupo, porque depois de dois anos de paragem, é como começar tudo de novo. “Estamos a dar aquele fôlego para ver se conseguimos estar no dia 21 na Avenida como deve ser”.
Começaram muito tarde com os preparativos, porque, segundo disse, primeiro não sabiam se este ano haveria Carnaval, segundo porque as verbas que tinham disponível já tinham terminado e estavam à espera da outra parte da Câmara Municipal da Praia.
“Tivemos verbas, por parte do Ministério da Cultura, que foi um avanço grande para nós. Da Câmara Municipal da Praia já recebemos uma parte e ainda não recebemos a segunda tranche, e com isso estamos parados”, lamenta.
Na mesma linha, a responsável do grupo Vindos do Mar, Amélia Monteiro, disse que a retoma não está a ser fácil, porque estão a deparar com vários constrangimentos, a nível de apoios e insegurança no bairro.
“Esta retoma é uma grande alegria para nós, principalmente para aquelas pessoas que estiveram dois anos parados. Neste momento temos pessoas que estão a ensaiar nos seus bairros, onde se sentem mais seguras, porque estamos com muitos problemas no nosso bairro”, explica.
Já para o presidente do grupo Vindos d’África, José Gomes (Breu), a retoma não está muito difícil, porque durante esses dois anos de paragem estiveram sempre a fazer algumas actividades culturais e sociais.
“Houve uma interrupção por causa da COVID-19, mas Vindos d’África não é só Carnaval é também uma associação de cariz cultural e social, e no espaço onde realizamos as nossas actividades culturais fazemos as nossas artes, artefactos a pensar no Carnaval. Então não tivemos dificuldade de paragem, a única dificuldade é aquilo com que a Praia sempre tem-se confrontado que são os apoios financeiros que sempre chegam tarde, isso é nosso constrangimento maior”, afirma José Gomes.
Por seu lado, o presidente do grupo Bloco Afro Abel Djassi, Kwame Gamal, afirma que a retoma será normal, pois durante a paragem tiveram oportunidade de organizar melhor o Carnaval. “Estamos tranquilos e com perspectiva de realizar um bom desfile”.
Enredo
Em relação ao enredo, o Samba Jó, que é um grupo com 12 anos de existência, promete levar para a Avenida “Cabo Verde, Uma realidade de Outrora”, e com esse tema, o grupo quer levar 350 figurantes distribuídos por sete alas. E vão levar dois carros alegóricos e uma réplica. A música do grupo foi feita pelo músico Constantino Cardoso.
Para João Elias Teixeira, este tema quer fazer com que as pessoas se lembrem dos tempos passados e das brincadeiras que faziam, e que hoje as crianças não estão a brincar. “Apesar de estarmos com pouco tempo de trabalho, esperamos levar mais de nós para a Avenida, vamos fazer bonito, levar muita folia e histórias que as pessoas não conhecem”.
Já o Vindos d’África, está quase a completar 40 anos de estrada. Vai desfilar com o tema “O Esplendor do Arco-Íris». O grupo irá levar para a Avenida 600 figurantes para serem distribuídos entre as diversas alas. A música foi feita pelo músico Elda Gonçalves, que é baterista do grupo musical Bulimundo.
Segundo José Gomes, este tema é uma forma de mostrar que mesmo com as dificuldades que existem na vida devemos sempre ter esperança. “Achamos que devemos trazer cores, para sair da escuridão do momento que passamos com a COVID. Então decidimos trazer cores que são vida e vivacidade que todos almejamos e desejamos. Ainda dentro deste tema vamos homenagear as pessoas que perderam a vida, durante a pandemia”.
O Vindos d’África promete um grande desfile na Avenida. “A nossa perspectiva é de levar o máximo que pudermos, fazer algo diferente e levar mensagem dentro do Carnaval, é isso que é nosso propósito. Ganhar os prémios também, estamos num concurso e respeitamos os outros grupos, mas o objectivo é de ter títulos”.
O Vindos do Mar vai desfilar com o tema “Mar: Uma Justa Homenagem”, onde vão levar 300 figurantes distribuídos por seis alas.
Conforme Amélia Monteiro, este tema é uma forma de prestar homenagem aos pescadores e peixeiras daquela comunidade pescatória.”Queremos que as peixeiras e os pescadores tenham mais ânimo no seu trabalho, para trabalharem com coragem que um dia vão vencer”.
A responsável do grupo avançou que a música do grupo foi feita pelo músico Nhofe Fibra. Este ano, o grupo promete um Carnaval diferente dos anos anteriores com objectivo de ganhar algum prémio. “Estamos convictos de que vamos ganhar algum prémio, e espero que o Carnaval deste ano seja melhor que dos anos anteriores”.
O Bloco Afro Abel Djassi vai levar o tema “A Herança Africana”, para a Avenida Cidade de Lisboa.
Constrangimentos
Todos os grupos relatam que estão com problemas no que se refere às verbas, para poderem continuar com os trabalhos e com os ensaios dos seus elementos, devido à insegurança e falta de espaços adequados.
O Samba Jó, conforme o seu representante, tem tido vários constrangimentos com o lugar de ensaios e falta de verbas, para continuar os trabalhos. “Este ano estamos a ensaiar na rua, fechamos uma rua para ensaiarmos. E começamos os ensaios, no dia 2 deste mês. Estamos com pessoas suficiente para desfilar connosco, mas como o ensaio é na rua, muitos estão com algum complexo de ensaiar na terra. O calcetamento está com muita terra e as pessoas estão com alguma timidez de fazer a coreografia, e as coisas estão complicadas por aqui. Na quarta-feira passada, 08, a Câmara nos mandou ensaiar na Capelinha, no bairro da Fazenda, aos fins-de-semana, vamos ver se conseguimos ensaiar na sexta e sábado, nos poucos dias que ainda nos restam”.
Já o Vindos d’África relata o vandalismo que tem sofrido nos ensaios, mas que tem contado com o apoio da Polícia Nacional. “Estamos com constrangimentos no nosso bairro, porque estamos com muito acto de vandalismo, e temos que agradecer à Polícia Nacional que nos tem dado uma grande colaboração”.
O Vindos do Mar, também relata a insegurança no bairro que tem feito com que muitos figurantes realizem os ensaios nos seus próprios bairros e não no bairro de Achada Grande Frente. “Neste momento, temos pessoas que estão a ensaiar nos seus bairros, onde se sentem mais seguras, porque estamos com muitos problemas no nosso bairro. Embora por esses dias têm acontecido poucos casos de vandalismo, todo o cuidado é pouco”.
O Bloco Afro Abel Djassi é único grupo que, conforme Kwame Gamal não tem tido problemas com os ensaios, pois o mesmo acontece na escola secundária Cesaltina Ramos.
Apoios
A Câmara Municipal da Praia disponibilizou aos grupos uma verba de 300 mil escudos cada, faltando ainda 700 mil escudos que a autarquia promete disponibilizar em tempo oportuno.
A autarquia praiense pretende assumir os prémios referentes aos três primeiros classificados: Melhor Rei, Melhor Rainha, Rainha de Bateria, Porta-Bandeira, Mestre-Sala, Melhor Música, Melhor Carro Alegórico e Melhor Bateria, num montante de que ultrapassa os 1200 contos, bem como o subsídio atribuído previamente aos grupos inscritos na competição para custear a produção de fantasias, carros alegóricos e demais itens, num montante de 4 mil contos, um aumento de 50% em relação ao ano de 2019.
Em relação aos prémios, o primeiro classificado receberá o montante de 450 mil escudos, segundo lugar 280 mil escudos, terceiro 170 mil escudos, Rei e Rainha 60 mil escudos, Rainha de Bateria 20 mil escudos, Porta-Bandeira 20 mil escudos, Melhor Música 20 mil escudos e Melhor Carro Alegórico 60 mil escudos.
O Ministério da Cultura já disponibilizou aos grupos de Carnaval da Praia o montante de 1.200 contos, repartido entre Samba Jó, Vindos do Mar, Vindos d´África e Bloco Afro Abel Djassy, no montante de 300 mil escudos cada.
Kits batucada
No passado dia 4 deste mês, o Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, fez a entrega simbólica de 135 instrumentos, num valor de cerca de 700 mil escudos, aos quatro grupos oficiais que este ano desafiaram-se a levar os foliões para a Avenida no dia 21 de Fevereiro.
Os kits de batucada foram, na sua maioria, feitos pelo mestre Mick Lima, de São Vicente. Durante a sua intervenção o governante sublinhou que criando todas as condições necessárias, os carnavalescos terão maior capacidade de conseguir levar para a Avenida Cidade Lisboa maior qualidade da festa do “Rei Momo”.
“Este é o início de um processo que espero não seja assim tão longo de amadurecimento do Carnaval da Praia e da sua expansão, também, como um projecto social que decorre durante o ano inteiro”, sublinha.
O titular da pasta da cultura e das indústrias criativas apelou, mais uma vez, para o ajuste de esforços junto das empresas privadas para financiarem o Carnaval. “O Carnaval não é somente uma responsabilidade do Estado, principalmente aqui na Cidade da Praia onde temos a sede das grandes empresas. Estas devem olhar para o Carnaval como uma oportunidade de marketing, publicidade e dotarem parte desses grupos com apoio social para fazerem este trabalho ao longo do ano. Existindo vontade e, existindo a disponibilidade das pessoas no Carnaval, faz todo o sentido que o Governo apoie o Carnaval da Praia”.
Além dos apoios monetários, os grupos também conseguiram uma parceria, junto da ENAPOR, para a disponibilização, em tempo útil, dos atrelados.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1107 de 15 de Fevereiro de 2023.