MTB atrai praticantes e torna-se produto turístico

PorNuno Andrade Ferreira*,4 mar 2023 7:44

Amantes de mountain bike destacam o potencial de Cabo Verde para a prática da modalidade, apontando para um produto turístico de alto valor. Pedem a atenção das autoridades para a criação de um mercado interno.

Praticada ao redor do mundo, a mountain bike (MTB/BTT) está em alta num tempo de crescente reencontro com a natureza, maior consciência sobre a importância da prática de exercício físico regular e procura de novas formas de mobilidade.

O ciclismo de montanha adapta-se a ciclistas de diferentes idades e níveis de preparação física. É possível pedalar em bicicletas que custam 20 mil escudos ou em verdadeiras obras primas da engenharia e aerodinâmica, que custam tanto quanto um carro zero quilómetros.

Cabo Verde não foge à regra e são cada vez mais os amantes de MTB pelo país.

No Mindelo, Rui Freitas fala de uma paixão de criança, aprimorada com o tempo.

“É um desporto de alta performance. Faço bicicleta fora de estrada, como um hobby, que acaba por ser também um desporto. Tenho conhecido sítios em São Vicente que sem a bicicleta seria impossível”, comenta.

Outro praticante, Philippe Fortes, diz que há um grande potencial por explorar.

“Sou um praticante e apaixonado por bicicletas. Concretamente sobre São Vicente, a ilha tem um enorme potencial. Sou do Calhau, então, tive oportunidade de explorar muitas trilhas pelos lados de Saragarça, Sandy Beach, sem falar de Norte Baía, Salamansa, Jôn d’Débra. Há muito por explorar”, desvenda.

Também em Santo Antão, a escolha é muita, como explica o ciclista João Nascimento.

“Tendo em conta que é a ‘ilha das montanhas’, temos uma diversidade enorme de trilhas, diferentes tipologias, das mais fáceis até às mais difíceis. Até já recebemos praticantes que vêm de fora para experimentar e têm gostado imenso do nosso potencial, nomeadamente, a altitude, o terreno com diferentes tipos de secções numa única trilha”, observa.

A MTB não é só uma modalidade desportiva. Também tem valor económico, existindo nas ilhas projectos que apostam neste nicho, transformando o ciclismo de montanha em produto turístico. Emanuel Ramos, proprietário da empresa Rent a Bike, fala de um segmento de características únicas.

“É uma modalidade com futuro. Criei a empresa porque era uma modalidade que já praticava e, muitas vezes, encontrava na montanha turistas interessados na prática. Ainda estamos a começar, mas há espaço para crescer. Temos de trabalhar, também, a questão da promoção. Eu próprio tenho feito isso, através da divulgação de vídeo e fotos”, declara.

A criação de mais ciclovias poderá ajudar a conquistar novos adeptos das ‘duas rodas’.

“A bicicleta, para além de ser um grande amigo do ambiente, é um ginásio móvel. Para a saúde pública, é uma grande aliada. Acho necessária a criação de vias para os ciclistas. Seria vantajoso para as ilhas planas, onde as pessoas já usam a bicicleta como meio de locomoção”, vislumbra João Nascimento.

Constrangimentos

Sem lojas especializadas, Cabo Verde vive do mercado de segunda mão ou da importação directa de bikes, por parte dos amantes da modalidade. Adquirir acessórios e peças de reposição também é uma ‘dor de cabeça’.

Jandir Medina, que pedala há vários anos, comenta que os ciclistas sofrem com aquilo a que chama da “exiguidade do mercado”.

“O nosso principal problema é adquirir peças de bicicleta. O mais comum é ir até às lojas locais, nomeadamente ‘chinesas’, mas nem sempre dão o produto com a qualidade que procuras. Há necessidade de termos profissionais na área, lojas especializadas e, sobretudo, condições alfandegárias atractivas para que se possa montar este tipo de empresas”, sintetiza.

O empresário Emanuel Ramos passa pelas mesmas dificuldades.

“Qualquer coisa para a bicicleta, mandamos vir de fora. São muitos constrangimentos, principalmente com as bicicletas modernas, que são muito sofisticadas. Na própria importação da bicicleta o custo é muito elevado”, refere.

A MTB tem tudo para dar certo em Cabo Verde. A orografia do arquipélago oferece diferentes graus de dificuldade, o ciclismo é sustentável e amigo do ambiente, a prática regular de exercício físico é uma recomendação das autoridades nacionais e internacionais de saúde.

Consciente deste leque de benefícios, a comunidade mountain bike espera pela atenção do governo, no sentido de isentar ou reduzir direitos aduaneiros aplicáveis a bicicletas, peças e acessórios, o que ajudaria a criar um novo sector de actividade em toda a linha, da venda à reparação.

João Nascimento está convencido de que é fundamental resolver os problemas de mercado para que Cabo Verde se consolide no mapa da MTT e do ciclismo, em geral.

“Se existissem alguns incentivos, poderia facilitar, porque tudo vem de fora, algumas coisas perdem-se pelo caminho. Hoje estamos a falar de bicicletas que não são baratas, mas que te oferecem segurança, porque o material é de qualidade”, refere.

Emanuel Ramos sublinha que o mercado das bicicletas evoluiu e que são precisos benefícios fiscais para que os operadores se possam organizar e oferecer um serviço de qualidade.

“É um desporto a ganhar terreno em Cabo Verde, com bastante potencial, temos talentos excepcionais e devem também dar uma atenção a isso”, avalia.

Para quem procura dar os primeiros passos na prática de MTB, depois de comprada a bicicleta é possível encontrar online um mundo de aplicações, sites e canais YouTube que tornam mais fácil o processo e elevam os treinos a outro nível.

A Strava será a app mais popular, permitindo interacção entre usuários, sugerindo e registando percursos e recolhendo informações sobre distância percorrida, altitude e velocidade. Endomondo, Bike Map e Mountain Bike Runtastic são alternativas.

*com Lourdes Fortes

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1109 de 1 de Março de 2023.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira*,4 mar 2023 7:44

Editado porSara Almeida  em  5 mar 2023 15:52

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