Oito em cada dez atendimentos nas urgências do HBS são de doentes não urgentes

PorNuno Andrade Ferreira,25 mar 2023 9:20

PCA do Baptista de Sousa e director da Central de Consultas analisam desafios do hospital e explicam mudanças implementadas.

Longos tempos de espera nas urgências, demora para marcação de consultas e exames, falta de meios complementares de diagnóstico e escassez de consumíveis. Eis algumas das críticas mais vezes repetidas sobre o funcionamento do Hospital Baptista de Sousa (HBS). Críticas que os responsáveis da unidade de saúde refutam, ao mesmo tempo que explicam algumas das mudanças que foram feitas ao atendimento de utentes.

Urgências

Uma ida ao banco de urgência do HBS significa, não raras vezes, uma espera prolongada e são muitos os relatos de quem desesperou até ser atendido. Para Ana Brito, presidente do Conselho de Administração (PCA) do hospital central, a principal causa para a demora está na procura do serviço por parte de doentes não urgentes, que deveriam obter assistência numa estrutura de saúde da rede de cuidados primários.

“Temos os bancos de urgência, mais o de adulto, sobrecarregados de pessoas que, quando fazemos a triagem inicial, são os tais ‘verdes’ ou ‘azuis’, pessoas não urgentes ou sem urgência. São cerca de 80% os doentes que vão às urgências, tanto adultos como pediátricos, que não têm urgência. Não digo que não tenham nada. Têm algum problema, que deve ser resolvido, e temos de estudar muito bem como resolver esses problemas”, refere a responsável.

Um banco de urgência sempre cheio pressiona os profissionais de saúde. A PCA do Baptista de Sousa alerta que a pressão “prejudica bastante qualquer um”, incluindo médicos e enfermeiros, que ficam com menos tempo disponível para atender doentes que necessitem de cuidados diferenciados.

Tempos de espera

A Central de Consultas terá sido a área onde se processou o maior número de mudanças no modo de funcionamento. A informatização da gestão de consultas e exames e a triagem de pacientes alteraram o paradigma, passando-se a diferenciar tempos de resposta consoante a situação clínica de cada utente.

O director da Central, Fernando Lopes, garante que “não há tempo de espera quando [o doente] é prioritário”. Dados disponibilizados pelo HBS, consultados pelo Expresso das Ilhas, colocam os actuais prazos para consulta entre 1 e 2 dias, para doentes ‘muito prioritários’, e até 90 dias, para consultas de especialidade de utentes com ‘prioridade normal’.

No caso das análises clínicas, em caso de prioridade elevada, as colheitas são feitas no dia seguinte ao do pedido. Sem prioridade específica, os pacientes poderão esperar entre algumas semanas e alguns meses.

“O que logramos com a Central de Consultas é a equidade. 122 mil pessoas foram agendadas para consultas e exames em 2022. Já não há o tradicional sistema de eme te ba dob fala”, comentao médico.

TAC

Há vários anos que o Baptista de Sousa aguarda pela instalação de um equipamento para realização de tomografias computorizadas (TAC). Prometida repetidas vezes, a máquina de TAC ainda não chegou. O acordo que o hospital mantém com um privado permite à unidade realizar sete exames por mês, o que é manifestamente pouco para as necessidades.

A PCA do HBS acredita que ainda este ano será possível ter operacional uma máquina de TAC própria.

“Neste momento, há um concurso que o Ministério da Saúde já está a terminar. Acho que ainda este ano o Hospital Baptista de Sousa vai ter o seu equipamento próprio”, antecipa Ana Brito.

Consumíveis hospitalares

A falta de reagentes e de outros consumíveis também é ciclicamente notícia. Ana Brito lembra que o hospital depende da Emprofac, responsável pela importação, admitindo que têm existido dificuldades pontuais na cadeia logística.

“Ultimamente, temos feito um trabalho com a Emprofac e nem temos tido grandes rupturas. Fazemos uma gestão diária com a Emprofac, para sabermos como gerir melhor este problema”, declara.

O papel que o hospital central continua a ter no sistema de saúde, substituindo muitas vezes as unidades de saúde primárias, por exemplo nos exames complementares de diagnóstico, é um desafio extra à gestão de stocks.

Obras

Depois da elaboração do master plan do HBS, os investimentos de modernização têm acontecido a ritmos diferentes. O Centro de Hemodiálise e a ampliação das Urgências são duas das obras já finalizadas.

Ana Brito também destaca a construção de uma nova cozinha hospitalar, que aguarda equipamentos, uma nova lavandaria e uma unidade de endoscopia. Os cuidados neonatais foram melhorados.

Em relação ao novo Centro Ambulatorial (CA), onde funcionarão consultas, exames, cirurgias e hospital de dia, a obra entrou na fase de acabamentos e aguarda novos financiamentos, para a sua conclusão. A PCA do HBS estima que “dentro de alguns meses, talvez em 2024” possa estar operacional.

O projecto do CA foi alterado durante a execução, para poder acolher um polo de oncologia, com salas de quimioterapia.

“Esta é uma grande obra que nos deu trabalho a construir, porque estivemos a projectar, tivemos que procurar aconselhamento de engenheiros e arquitectos de fora para ajudar a equipa que trabalha aqui connosco”, observa.

Sobre a prometida nova maternidade, a gestora garante que os projectos de especialidade já estão prontos e que os trabalhos deverão começar em breve. Financiado pela China, com o envolvimento de arquitectos chineses, o dossier sofreu atrasos, consequência das restrições de viagem impostas por Pequim, no âmbito da sua política de combate à covid-19. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1112 de 22 de Março de 2023.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,25 mar 2023 9:20

Editado porJorge Montezinho  em  14 dez 2023 23:28

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