“O incêndio foi de tipo superficial e abrangeu apenas a camada herbáceo-arbustiva, exaurindo todo o pasto existente, colocando em forte risco de erosão os terrenos nas zonas acima referidas. Destruiu alguns currais/pocilgas e cabeças de gado e afectou, fortemente, a biodiversidade no local (plantas endémicas e locais de nidificação de aves endémicas e protegidas)”, lê-se na resolução aprovada na terça-feira em Conselho de Ministros que aprova este plano.
“Graças às condições meteorológicas e ao enorme esforço da equipa de combate, o incêndio não progrediu em direcção aos povoamentos florestais mais densos e infra-estruturas na parte interior do Parque Natural da Serra da Malagueta [PNSM], o que seria ainda de maior gravidade”, acrescenta-se.
Face aos “danos” e ao seu “impacto no ambiente e nas condições de vida das famílias”, o Governo entende que se torna “muito pertinente a implementação de medidas que permitem a restauração dos ecossistemas afectados e o apoio à reposição das actividades agropecuárias”, aprovando assim “medidas de recuperação das áreas e actividades agropecuárias afectadas pelo incêndio florestal no PNSM e nas zonas limítrofes”.
Essas medidas envolvem o apoio às famílias afectadas pelo incêndio florestal – 50 quilómetros a norte da cidade da Praia e que chegou a ser combatido por 260 operacionais -, nomeadamente “na recuperação dos currais/pocilgas, reposição dos animais e sua alimentação”, também na “recuperação das áreas ardidas, mediante limpeza e remoção do material queimado e de plantas invasoras e construção de dispositivos anti-erosivos”, com a “sementeira de pasto e plantação de espécies endémicas”, na protecção das aves endémicas e os respectivos ninhos, com a “limpeza e manutenção/reconstrução de caminhos vicinais e na formação e sensibilização sobre medidas de prevenção contra incêndios florestais”.
Estas medidas têm uma validade de 12 meses e a resolução estabelece que os critérios de atribuição de apoio às famílias afectadas pelo incêndio florestal e a lista concreta de beneficiários serão objecto de uma portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da Agricultura e Ambiente e da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social.
Cabo Verde cumpre hoje o segundo de dois dias de luto oficial nacional pela morte de oito militares e um técnico do Ministério do Ambiente durante o combate a um incêndio florestal na Serra Malagueta.
“Os falecimentos ocorridos representam para as famílias, para o Governo e para toda a nação cabo-verdiana perdas irreparáveis”, lê-se na resolução do Conselho de Ministros que aprovou o luto oficial nacional.
A resolução estabelece que a bandeira nacional é colocada a meia haste em todos os edifícios públicos no país, bem como nas representações diplomáticas e consulares de Cabo Verde, sendo cancelados os espectáculos e manifestações públicas.
O incêndio deflagrou no sábado pelas 10:30 na Serra Malagueta e Figueira das Naus, 50 quilómetros a norte da Praia. Durante o dia de domingo, uma viatura das Forças Armadas de Cabo Verde despistou-se cerca das 17:20, acidente que provocou a morte a oito militares, tendo ainda morrido nestas operações um técnico do PNSM.
“O Governo lamenta profundamente os fatídicos acontecimentos que dizimaram vidas humanas que se encontravam numa nobre e árdua missão juntamente com os bombeiros do Tarrafal e da Assomada”, lê-se na resolução sobre o luto oficial nacional.
O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (CEMFA), António Duarte, garantiu na segunda-feira que está em curso uma investigação às causas que provocaram o acidente que levou à morte de oito militares no combate a um incêndio.
Em conferência de imprensa realizada na Praia, o CEMFA referiu que, quando transportava 31 militares para o apoio ao combate ao fogo na Serra da Malagueta, ilha de Santiago, “por razões ainda a ser apuradas”, a viatura militar embateu e acabou por capotar, provocando a morte imediata a cinco operacionais. Dois militares acabariam por morrer na unidade de saúde do Tarrafal e um na unidade de Santiago Norte, além de 23 feridos, oito dos quais estão ainda internados no hospital da Praia.
António Duarte explicou que está “em curso” uma investigação para apurar “as circunstâncias em que se deu o acidente”, mas garantiu que o condutor, uma das vítimas mortais, era um militar “experiente” e que a viatura, entregue às Forças Armadas em 2021, estava “preparada para fazer a projecção” de forças no terreno.
Acrescentou que para o combate a este incêndio já tinham sido mobilizados 36 militares no sábado e que as conclusões à investigação a este acidente deverão ser conhecidas dentro de 15 a 20 dias.
O incêndio obrigou à retirada de dez famílias da localidade de Figueira das Naus e a Polícia Nacional anunciou, entretanto, a detenção de um homem suspeito de ter ateado este incêndio no interior daquele parque.