“Há oito anos que estamos nesta luta. Evidentemente que o transplante renal para estes doentes é absolutamente fundamental. É uma situação muito complexa, mas já estudamos a possível cooperação portuguesa, as maiores dificuldades são baratas e facilmente resolúveis e já tenho, pelo menos oralmente, o apoio da cooperação portuguesa”, explica.
Norton de Matos reafirma que, do ponto de vista técnico, “estão reunidas condições” para a realização de transplantes renais no arquipélago.
“A problemática da aplicação da lei é no doador cadáver, isso é que é muito complexo. Para doador vivo, estamos prontos, isso não tem confusão nenhuma, exceto a legalização da situação (…) Com facilidade, com a técnica actual, a cirurgia é extremamente simples. E, portanto, é só andar para a frente. Precisam, evidentemente, de algum apoio técnico, cirurgiões, urologistas, a técnica laparoscópica, mas isso está previsto, já estudámos o problema, e isso é perfeitamente viável. Temos cá dois nefrologistas que podem seguir depois os doentes. O que nós sabemos, já há muitos anos, é que um doente, um insuficiente renal transplantado, ao fim de um ano, gasta menos dinheiro do que em diálise”, afirma.
Além do impacto financeiro no Sistema Nacional de Saúde, o médico destaca a melhoria da qualidade de vida dos doentes transplantados.
“Portanto, nem sequer há agravamento de custos e liberta as máquinas de diálise para outros doentes que estão a chegar e daqui a pouco não têm onde os meter. E isto é absolutamente fundamental, sobretudo com a população muito jovem que existe em Cabo Verde (…) Além de que o transplantado vive mais tempo que o doente em diálise e tem uma qualidade de vida que não é discutível”, adianta.
O cirurgião vascular alerta para a sobrelotação dos centros de dialise na Praia e Mindelo.
“Neste momento, já estão os dois centros muito sobrecarregados, no limite de pessoal, de apoio, de máquinas. Estatisticamente, a gente sabe que nas populações europeias, e cá também, há cerca de um por mil em insuficiência renal. Aqui, com 500 mil habitantes, vai chegar a 500, já cá deviam estar, ou estão a morrer, ou estão a caminho. Eles estão no limite, todas as semanas, todos os dias, aparecem novos doentes, e não há onde os meter rapidamente”, alerta.
Norton de Matos, que viaja a Cabo Verde desde 2015, para missões nos centros de diálise, sublinha que a entrada em vigor do diploma para realização de transplantes de órgãos é crucial para ajudar o país na resposta aos doentes renais.