Verónica Miranda, uma jovem de 31 anos, conta ao Expresso das Ilhas que a artrite reumatoide tem impactado “profundamente” a sua vida, mesmo antes do diagnóstico feito no início de 2024.
“Fui diagnosticada com artrite reumatoide este ano. Mas mesmo antes do diagnóstico eu já sabia que era artrite reumatoide. Faltava a confirmação”, narra.
Os sintomas começaram a manifestar-se em 2019, quando Verónica começou a acordar todos os dias com intensas dores nas articulações, limitando “severamente” os seus movimentos.
“Desde então, todos os dias acordo com muitas dores nas articulações ao ponto de não me poder movimentar”, relata.
Esta condição debilitante afecta não só as actividades diárias da jovem, como o trabalho, lazer e vida social, mas também causa impacto emocional.
“Não me permite movimentar como eu quero, e quando é assim, muitas vezes prefiro dormir a sair para me divertir com amigos”, explica.
Para tentar controlar os sintomas, Verónica recorre a um regime de tratamento médico que inclui injecções e prednisolona, um comprimido. No entanto, mesmo com a medicação, as dores persistem.
“Para mim, a artrite reumatoide é causadora da pior dor que um ser humano pode sentir. É algo que não consigo explicar, sobretudo de madrugada e de manhã, que é quando a dor é mais forte. No meu caso, as dores foram aumentando de intensidade com o tempo», desabafa.
Apesar dos desafios, a jovem está determinada a lidar com a sua condição.
“Estar nessa situação é frustrante para mim. Fico zangada comigo mesma, mas estou a aprender a lidar com tudo isso”, partilha.
Conforme diz, o seu médico recomendou actividades como natação para ajudar no controlo da dor, mas a falta de tempo devido ao trabalho tem sido um obstáculo.
Perspectiva médica
Segundo a reumatologista Dúnia Correia, a artrite reumatoide é uma doença autoimune de causa desconhecida, caracterizada por artrite erosiva crónica e danos sistémicos dos órgãos internos.
Ou seja, explica, o sistema imunológico ataca as células saudáveis do corpo, incluindo as articulações, como se fossem estranhas ao organismo.
Correia afirma ser importante o diagnóstico precoce da artrite reumatoide, enfatizando que a doença pode afectar qualquer faixa etária, embora seja mais comum entre os 35 e os 50 anos.
“A artrite reumatoide é muito mais comum em mulheres do que nos homens. E, em idade mais avançada, essas diferenças são niveladas. Também podemos referir-nos a outros factores que contribuem para o desenvolvimento da artrite reumatoide. Consideram-se factores ambientais desconhecidos ou não confirmados, como por exemplo, a infecção viral, ou infecção por bactérias, o tabagismo ou também a obesidade”, explana.
Contudo, a reumatologista refere que o risco da artrite reumatoide é maior em parentes consanguíneos de pacientes.
Sintomas
No que diz respeito aos sintomas, Dúnia Correia esclarece que a manifestação da doença na fase inicial pode ser moderada e que geralmente há uma deterioração do estado geral.
A especialista descreve a manifestação inicial da artrite reumatoide, que pode incluir artralgia (dor articular), perda de peso, febre baixa e rigidez matinal persistente.
“Quanto maior for a actividade da doente, maior é a duração de rigidez matinal. Há pacientes cuja rigidez matinal demora mais. Há outros casos em que até ao meio-dia, por exemplo, o paciente tem dificuldade em fechar a mão”, exemplifica.
Uma outra característica da doença tem a ver com alterações locais, ou seja, alteração a nível da articulação na área afectada, bem como a vermelhidão da pele no local da lesão.
“Na raça negra é um pouquinho mais difícil ver esse tipo de vermelhidão, mas quando a pessoa é mais clarinha fica muito mais fácil”, observa.
A especialista ressalta a simetria das lesões articulares como um ponto crucial no diagnóstico da artrite reumatoide.
“O cartão de visita da artrite reumatoide é a artrite das pequenas articulações das mãos. É simétrica em ambas as mãos”.
A persistência e a irreversibilidade das lesões nas articulações podem levar a dificuldades significativas no autocuidado e na realização de movimentos quotidianos.
“Resumindo e concluindo, muitos pacientes quando têm uma deformação grave não conseguem nem cuidar de si mesmos”, enfatiza, destacando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A artrite reumatoide, como ressaltado pela especialista, não se limita apenas às articulações, podendo afectar outros órgãos internos e apresentar manifestações sistémicas.
Diagnóstico
Ao abordar o diagnóstico, Dúnia Correia explica que os nódulos reumatoides são formações densas e arredondadas de tecido conjuntivo, com tamanhos variando de alguns milímetros a 1,5 e 2 centímetros de diâmetro.
Esses nódulos são normalmente indolores ao toque e podem ser encontrados em áreas como a superfície extensora do antebraço, região dos cotovelos, tendões das mãos e tendões de equilíbrio.
Os sintomas que o paciente está experimentando também são importantes para o diagnóstico, além da avaliação de outros aspectos como a presença de nódulos reumatoides e a realização de exames complementares.
Para confirmar o diagnóstico de artrite reumatoide em pacientes com poliartrite e avaliar o prognóstico da doença, a reumatologista recomenda a solicitação do factor reumatoide. No entanto, ela ressalta que não é indicado pedir esse exame apenas para avaliar a actividade da doença ou para o diagnóstico ou exclusão de outras condições autoimunes ou reumáticas em pessoas saudáveis ou com artralgia (dor nas articulações sem inflamação).
Além do factor reumatoide, outros exames importantes mencionados por Dúnia Correia incluem o anti-CCP, que é mais específico para o diagnóstico da artrite reumatoide, a velocidade de sedimentação globular e o hemograma, que podem revelar informações relevantes sobre a condição do paciente.
Exames de imagem como raio-x, ecografia articular e ressonância magnética também podem ser necessários para uma avaliação completa.
Tratamento
No que se refere ao tratamento, Dúnia Correia menciona a abordagem terapêutica que inclui anti-inflamatórios não esteroides, corticosteroides e drogas modificadoras de doenças como o metotrexato.
Conforme especifica, o tratamento inicial com anti-inflamatórios não esteroides para aliviar a dor e os sintomas de inflamação nas articulações em muitos casos podem não ser suficientes para controlar a doença.
“O tratamento, em primeira linha, está o anti-inflamatório não esteroide. Ou seja, o anti-inflamatório não esteroide prescrito para aliviar a dor e os sintomas de inflamação nas articulações. Mas muitas vezes o anti-inflamatório não esteroide é insuficiente”, explica a especialista.
Para casos mais graves, Dúnia Correia refere o uso de corticosteroides como prednisolona ou metilprednisolona, além de drogas modificadoras de doenças, como o metotrexato, considerado a escolha- padrão da terapia básica da artrite reumatoide.
“A escolha padrão da terapia básica da reticulocitose é o metotrexato. Há várias outras drogas, mas acho que é melhor falar só daquilo que é padrão. O padrão é metotrexato, mas há pacientes que não toleram metotrexato e têm efeitos colaterais. Podemos substituir por outros, como medicamentos biológicos”, afirma.
Além da medicação, a reumatologista ressalta a importância de um estilo de vida saudável, incluindo moderação no consumo de álcool devido ao impacto do tratamento no fígado.
Também aponta a relevância da fisioterapia e do acompanhamento psicológico para pacientes que enfrentam dificuldades em aceitar a doença.
“Recomendamos aos pacientes a ter um estilo de vida saudável, fazer a medicação e a fisioterapia. Alguns pacientes que têm necessidade de acompanhamento, recomendamos o psicólogo porque muitos não aceitam a doença. E quando o paciente não aceita a doença, fica difícil fazer o tratamento”, conclui.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1166 de 3 de Abril de 2024.