La Niña e ventos de Norte e Leste reduziram chuva em Cabo Verde

PorAndré Amaral,15 set 2024 8:52

A época chuvosa deste ano vai a meio e as previsões feitas inicialmente acabaram por não se concretizar. País registou uma precipitação média de 47 milímetros de chuva quando o normal para esta época do ano seriam 244. Porto Novo, São Vicente, Maio, Praia, São Salvador do Mundo, São Lourenço dos Órgãos e Santa Catarina do Fogo são os municípios onde choveu menos.

As primeiras previsões para a época de chuvas deste ano eram animadoras. O Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica previa, para os meses de Julho, Agosto e Setembro, chuvas precoces, com dias sem chuva curtos e forte probabilidade de as chuvas serem dentro do normal para a época climatológica, com maior incidência nas ilhas de Sotavento. “Tínhamos previsto para o período de Julho, Agosto e Setembro, chuvas normais com tendência acima da normalidade climatológica, que seria de 244 milímetros”, adianta ao Expresso das Ilhas a meterologista e administradora executiva do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG), Denise de Pina.

As primeiras chuvas confirmavam as previsões e, a partir do dia 8 de Julho, houve uma acumulação de 20 milímetros de chuva. “Foi o dia que tivemos as primeiras chuvas e, de facto, foram precoces e foram com alguma intensidade em algumas localidades”, recorda Denise de Pina.

O que acabou por não acontecer foram as curtas sequências de dias sem chuva.

“Já em termos das sequências secas, de dias sem chuva, que tínhamos previsto de serem curtas, foram muito mais longas daquilo que foi previsto. Depois de dia 8, já só voltou a chover, em algumas localidades, talvez um mês depois. Então, as sequências secas foram, de facto, muito longas”.

Uma situação que tem afectado todo o país, mas com especial incidência nos municípios de Porto Novo, São Vicente, Maio, Praia, São Salvador do Mundo, São Lourenço dos Órgãos e Santa Catarina do Fogo que têm registado valores de precipitação abaixo do que era esperado.

“Esses concelhos estão abaixo da média climatológica para Julho e Agosto”, confirma.

Mesmo com a chuva que se tem verificado em alguns concelhos do país, “estamos ainda muito aquém do previsto”, confirma Denise de Pina. “Porque a média ronda os 244 milímetros. E ainda estamos muito aquém, a média nacional está muito aquém. Estamos em 47 milímetros”.

Previsões

Olhando agora para o futuro próximo, Denise de Pina diz que “nestes primeiros dez dias de Setembro, já podemos observar alguma precipitação, de uma forma também mais generalizada, de certa forma, porque a parte sul do arquipélago quase diariamente tem chovido”, o mesmo acontecendo em Santo Antão e em São Nicolau.

“Para os próximos dez dias, entre 11 e 20 deste mês, ainda esperamos alguma precipitação. Hoje [quarta-feira], já emitimos um comunicado associado a uma onda tropical, que vai passar aqui pelo arquipélago, e vai fazer com que ocorra alguma precipitação, principalmente aqui na zona do sul do arquipélago, mas também em Barlavento Ocidental”.

A previsão para o final de Setembro aponta para uma redução da humidade e Denise de Pina diz que não há “muita precisão na previsão de que vai ocorrer chuva. Já para Outubro, estamos, em termos de previsão sazonal, numa situação neutra o que quer dizer que existe também uma grande imprevisibilidade no que vai acontecer em Outubro”.

La Niña

Uma das explicações para a escassez de chuva em Cabo Verde está, segundo esta meteorologista, um fenómeno novo, que especialistas em todo o mundo estão a designar como La Niña Atlântica, “que se está a desenvolver na zona equatorial e está a arrefecer as águas superficiais do oceano, inibindo assim uma convecção mais profunda e mais forte, que, como sabemos, é o que favorece a ocorrência de chuva aqui em Cabo Verde”.

“Normalmente, este fenómeno La Niña é um fenómeno que acontece no Pacífico, mas este ano está a observar-se isso na zona equatorial aqui no oceano Atlântico”, acrescenta Denise de Pina.

Ventos e humidade

Denise de Pina refere igualmente que se estão a verificar “outras condições atmosféricas” que estão a fazer com que as previsões iniciais não se concretizem.

“Temos uma predominância de ventos norte e de leste”, da costa africana, “há ventos secos nos níveis superiores. Este ano estamos a observar também que há uma certa humidade. Estamos a sentir muito calor, o desconforto térmico está a ser muito elevado. Mas no nível superior, o ar está seco. Então, não permite o desenvolvimento convectivo forte que irá favorecer a queda de precipitação. Essa é outra das razões porque o ano está sendo anormal”, conclui.

___________________________________________________________________

O que é La Niña?

La Niña Atlântica é a fase fria de um padrão climático natural a que os cientistas chamam modo zonal do Atlântico. Este padrão, tal como o ENSO (El Niño-Southern Oscilation), oscila entre fases frias e quentes de poucos em poucos anos. Normalmente, as temperaturas da superfície do mar no Atlântico equatorial oriental têm um ciclo sazonal algo surpreendente. As águas mais quentes do ano ocorrem na primavera, enquanto as águas mais frias do ano – abaixo dos 25 graus Celsius – ocorrem de Julho a Agosto. A Terra tem uma faixa de precipitação durante todo o ano à volta dos trópicos. Impulsionada pelo forte aquecimento solar, esta faixa de precipitação migra para norte durante o verão no Hemisfério Norte. As tempestades regulares atraem o ar de sudeste sobre o Atlântico equatorial.

Estes ventos constantes de sudeste são suficientemente fortes para arrastar as águas superficiais para longe do equador, o que traz para a superfície água relativamente fria das camadas oceânicas mais profundas. Este processo, conhecido como ressurgência equatorial, forma uma língua de água relativamente fria ao longo do Atlântico equatorial durante os meses de Verão. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1189 de 11 de Setembro de 2024.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:André Amaral,15 set 2024 8:52

Editado porAndre Amaral  em  16 set 2024 10:58

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.