Redes sociais originam desinformação mas evitam conflitos com divulgação imediata de resultados

PorAndré Amaral,26 out 2024 7:38

Perito sul-africano esteve na Praia onde abordou o tema do impacto das redes sociais nas eleições. Em conversa com o Expresso das Ilhas, Victor Shale lembra as dificuldades que a maioria dos países africanos sente em cada período eleitoral e defende que a internet e, especialmente, as redes sociais, apesar dos problemas, vieram trazer benefícios tanto à organização de eleições como à divulgação dos resultados.

Victor Shale esteve em Cabo Verde a participar, a convite da Comissão Nacional de Eleições, na conferência ‘Preservação da Integridade das Eleições face à Desinformação e Informações Falsas durante o Período Eleitoral’.

Durante a sua comunicação, Victor Shale lembrou as dificuldades que existem na maioria dos países africanos de cada vez que se realizam eleições.

Em entrevista ao Expresso das Ilhas, Victor Shale explica que as “eleições são a maior operação logística e o empreendimento mais dispendioso (para além de uma guerra) em qualquer país”.

A maioria dos países africanos, reforça, “não dispõe de recursos para organizar operações eleitorais sem o apoio de doadores”.

“A nível social, as eleições estão repletas de emoções que conduzem frequentemente a conflitos relacionados com as eleições. Este facto aumenta a pressão sobre os recursos já limitados, uma vez que os países têm de garantir a segurança”, destaca.

Além disso, Victor Shale defende que as alterações climáticas e problemas sanitários, como aconteceu com a COVID, e agora, com a Mpox são outro entrave à realização de actos eleitorais.

“As alterações climáticas provocam inundações e emergências de saúde pública. Tudo isso tem um impacto directo nas eleições porque as pessoas são deslocadas. Como vimos com a COVID-19, há também restrições à deslocação das pessoas”.

Tudo isso “torna a campanha eleitoral um desafio”.

Redes sociais e imediatismo da informação

Na sua intervenção durante a conferência, Victor Shale abordou o tema do papel das redes sociais nos processos eleitorais.

Mas qual é o impacto das redes sociais no processo eleitoral?

“As redes sociais têm impactos positivos e negativos no processo eleitoral. O advento das redes sociais permitiu que as comissões eleitorais comunicassem eficazmente com o eleitorado”, refere.

Assim, as partes interessadas nas eleições, como os partidos políticos, “também chegaram mais eficazmente ao público-alvo”.

No entanto, as redes sociais também têm consequências negativas, “especialmente em termos de desinformação e discriminação. Muitos países africanos são confrontados com problemas de desinformação que afectam frequentemente a integridade das eleições e das comissões eleitorais. A desinformação também tem sido utilizada para vitimizar mulheres, jovens e pessoas com deficiência. Esta situação tem afectado a sua participação nas eleições”, adverte Victor Shale nesta entrevista que acrescenta que “ao reflectirmos sobre os meios de comunicação social e a desinformação temos de estar atentos ao que chamaríamos a multi-crise dos desenvolvimentos políticos que estão a desafiar as práticas estabelecidas globalmente no nosso continente africano e nos nossos países.

Ainda assim, mesmo com estes pontos negativos, Victor Shale defende que as eleições “beneficiam enormemente da comunicação e transmissão dos resultados eleitorais em tempo real”.

“Isto ajuda a evitar a ansiedade e os conflitos que muitas vezes surgem devido a atrasos excessivos no anúncio dos resultados. No entanto, a comunicação dos resultados deve ser efectuada através da autoridade legal, como a CNE, para garantir que a informação é suficientemente protegida”.

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Quem é Victor Shale?

Victor Shale é um especialista em eleições, gestão de conflitos e governança democrática, com mais de 20 anos de experiência. Ocupou cargos de destaque em organizações focadas na integridade eleitoral e nos processos democráticos, como o Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável na África (EISA) e a Comissão Eleitoral da África do Sul. Possui um doutoramento em Política pela Universidade da África do Sul (UNISA) e um MPhil em Transformação de Conflitos pela Universidade de Port Elizabeth. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1195 de 23 de Outubro de 2024.

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Autoria:André Amaral,26 out 2024 7:38

Editado porFretson Rocha  em  26 out 2024 11:58

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