Os especialistas têm alertado para o aumento das temperaturas das águas, que têm levado à migração de algumas espécies de peixes em busca de águas mais frias e os pescadores do município do Tarrafal de Santiago, assim como de outras comunidades piscatórias, também já relatam factos e situações vividas em diversas épocas do ano.
Além da diminuição do peixe dia após dia, está também patente a escassez de outras espécies marinhas, obrigando os pescadores a procurarem outras formas de sustentabilidade.
Em entrevista à Inforpress, o presidente da Biosfera, Tommy Melo, explicou que a alteração da temperatura das águas faz com que alguns cardumes se desloquem maioritariamente mais para o norte, à procura de águas mais frias.
E, em Cabo Verde, realçou que é possível ver isso bem, exemplificando que existe uma espécie de cavala que chegou há alguns anos ao país e que antes havia muito poucos registos e que nesse momento está a ser capturada em grande quantidade.
Além das mudanças climáticas, também a extracção acelerada de areia das praias é apontada como uma ameaça crítica aos ecossistemas marinhos, uma situação que os pescadores já estão cientes.
O especialista confirmou este facto, explicando que uma praia de areia para se formar leva milhares de anos e o ecossistema que vive ali levou milhares de anos para se adaptar também àquela nova conformidade, e sem ser disso, realçou que existem muitas espécies que seguem o seu ciclo de vida e precisam dos fundos arenosos para o seu ciclo de vida.
“Obviamente que retirar em 10 anos toda a areia de uma praia que demorou milhares de anos a se formar, isso vai concretamente causar um desequilíbrio no ecossistema, principalmente nas espécies que necessitavam desse fundo de areia para o seu ciclo de vida”, disse, sublinhando que pode ser para a reprodução ou mesmo por viverem próximos ao substrato arenoso.
A sobrepesca nas limitadas zonas costeiras de Cabo Verde também é um aspecto que preocupa o ambientalista, pois, segundo o mesmo, Cabo Verde não tem uma plataforma continental como a existente em países vizinhos e a característica geográfica torna a região ainda mais vulnerável ao esgotamento dos recursos marinhos.
Como solução, Tommy Melo, assim como outras organizações ambientais, defende a criação e o fortalecimento de zonas de protecção e reservas marinhas, além da implementação de períodos de repouso para a recuperação das espécies.
“São soluções de gestão, meramente.Não é preciso aqui inventar nada, pois são soluções que já existem, já são aplicadas há muito tempo em outros países, e Cabo Verde já tem essas soluções, muito bem escritas em leis e em regulamentos”, assinalou, realçando que o que se precisa é colocar em prática, e fazer com que a fiscalização realmente ocorra.
No entanto, reconheceu que estas medidas exigem compensações para as famílias de pescadores que dependem das capturas para a sua subsistência, reforçando que o Governo tem que criar soluções alternativas de rendimento para essas famílias que vão ficar sem essa subsistência pelo facto das zonas de pesca que costumavam utilizar terem realmente de repousar para recuperar a fauna que existia.
E como uma alternativa viável de rendimento, este ambientalista falou do turismo sustentável, apontando a proximidade de Cabo Verde com a Europa, como sendo uma das vantagens.
Alertou, no entanto, que o ritmo acelerado da degradação ambiental, incluindo a sobrepesca, a extração de areia e construções costeiras, ameaçam reduzir o potencial turístico antes mesmo de ser totalmente aproveitado.
Neste sentido, defende ser urgente a aplicação, de forma efectiva, de políticas de protecção ambiental, preservando o ecossistema e promovendo alternativas sustentáveis para a população.
Estudos científicos indicam que a combinação das alterações climáticas e da sobrepesca ameaça seriamente os ecossistemas marinhos e as comunidades pesqueiras em Cabo Verde.
Projectos de colaboração, como o Coastal Fisheries Initiative, apoiados pela FAO, buscam promover práticas sustentáveis para mitigar esses impactos, com foco em treinamento e desenvolvimento sustentável para as comunidades pesqueiras locais.
Esses esforços visam proteger a biodiversidade e garantir meios de subsistência para os pescadores de Cabo Verde, especialmente em áreas onde a pesca artesanal é crucial para a economia.