Cabo-verdianos apostam no minimalismo e estilo moderno, especialmente no Natal

PorSheilla Ribeiro,28 dez 2024 9:04

A decoração de interiores em Cabo Verde tem passado por uma transformação, com muitas famílias adoptando um estilo mais minimalista e moderno. Especialmente durante o Natal, o desejo de ter a casa bem decorada leva muitos a investirem mais no lar, usando poupanças feitas especialmente para este fim.

Nas décadas passadas, a decoração típica dos lares cabo-verdianos era marcada pela presença da emblemática estante cristaleira, recheada de taças cuidadosamente organizadas, acompanhada por um conjunto de sofás de três peças, uma mesa de TV e uma mesinha de centro.

Hoje, porém, um novo estilo vem ganhando espaço: o minimalismo e a modernidade têm conquistado as famílias, que buscam ambientes mais organizados e funcionais.

No entanto, essa mudança não diminui a importância do Natal, época em que os cabo-verdianos não medem esforços para deixar a casa bonita e acolhedora, investindo em detalhes que trazem aconchego e elegância para receber familiares e amigos.

Nesta reportagem, o Expresso das Ilhas falou com Síntia Mascarenhas, uma dona de casa apaixonada por decoração de interiores, e que estava pelas ruas da capital a fazer compras para o aconchego do lar.

“Para começar, sempre gostei de decorar a casa, de ter cada detalhe organizado. Este ano, o que me motivou a decorar para o Natal são as lembranças da minha infância e também porque quero que os meus filhos tenham as mesmas lembranças boas que eu tenho. Quero ver as suas caras de felicidade, a empolgação, a alegria de sair para fazer compras, organizar tudo”, conta com entusiasmo.

Para tornar a ocasião especial, Síntia investiu em cortinas novas, almofadas temáticas, enfeites para a árvore de Natal, luzes brilhantes e até mesmo pequenas mudanças na decoração geral da casa.

“Os mínimos detalhes fazem a diferença. Eu amo fazer tudo isso e estar sempre a cuidar da minha casa, dar os toques que fazem total diferença. Para mim, é uma terapia”, descreve.

Apesar do cuidado em manter a casa organizada e decorada, Síntia admite que o custo não é uma preocupação.

“Não me preocupo com o preço, o importante é entrar em casa e sentir paz e felicidade. Ter a casa do jeito que eu quero não tem preço”, afirma.

Embora tenha perdido a conta dos gastos feitos com decoração, Síntia reconhece que investiu mais em 2024 do que no ano passado, comprando os itens aos poucos e planeando. Conforme garante, pretende continuar a decorar em 2025.

Mais do que estética

Solange Soares é outro exemplo de como a decoração de interiores se tornou um aspecto central na vida de muitos cabo-verdianos, especialmente durante a época festiva.

Conforme conta, a decoração não é apenas estética, mas também uma forma de expressar a sua personalidade e criar um ambiente de paz e harmonia.

“Não consigo identificar exactamente o momento em que comecei a interessar-me por decorar a casa, mas acredito que chega uma fase da vida em que percebemos a importância de investir no nosso ambiente. Estar num espaço organizado, que reflecte a nossa personalidade e transmite paz”, relata.

O Natal é uma época que Solange considera especial, não apenas pelo significado festivo, mas também pelas oportunidades únicas que surgem.

“A época festiva traz consigo uma variedade incrível de opções e promoções. Muitos artigos que antes só conseguíamos comprar online passam a estar disponíveis nas lojas locais, com preços mais acessíveis”, explica.

Adepta do estilo minimalista, Solange prefere tons neutros como nude, castanho, rosa e branco, que, no seu ponto de vista, proporcionam um ambiente sereno.

“Não sigo um conceito rígido de decoração, prefiro adaptar as tendências às peças que já tenho em casa”, indica.

Esta entrevistada revela que utiliza truques criativos para economizar, como renovar móveis com papel de parede. Aliás, conta, foi o que fez com a mesa de TV antiga. Comprou papéis de parede em tons claros e colou na mesa, que agora parece nova.

Apesar de planear gastos mais controlados, Solange admite que este ano os investimentos foram além do esperado.

“Gastei entre 50 e 60 mil escudos, incluindo alguns equipamentos para a casa. Inicialmente, planeei gastar apenas no básico, como cortinas, tapetes e decorações de Natal, mas acabámos por ir além disso”, confessa.

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Para esta dona de casa, decorar a casa vai além de simples tarefas, é um processo terapêutico e gratificante.

“Dedico-me inteiramente, passo horas sem sentir o tempo passar, e o resultado é sempre recompensador. O orgulho e a satisfação ao ver a transformação são simplesmente indescritíveis”, sustenta.

Para o ano, Solange pretende continuar a actualizar detalhes ao longo dos meses, evitando gastos elevados na próxima época festiva.

A Casa como espelho da personalidade

Tiana Silva interessou-se pela decoração a partir do momento em que decidiu reformar a casa dos pais.

“Após a pintura interior ficar pronta, percebi que o ambiente ‘pedia’ uma nova decoração, mais moderna e alinhada ao novo clima da casa”, relembra Tiana, que conta que recebeu a missão de revitalizar o espaço, a pedido da mãe.

Desde a infância, a decoração era uma tradição familiar. “A cada três meses ajudava a minha mãe a trocar os arranjos da casa, e preparar a casa para o Natal era uma tradição que mantivemos até hoje”, narra.

Agora, Tiana é responsável por dar vida nova aos cómodos, especialmente durante o período Natalino, quando a família recebe outros parentes para a ceia.

Com um gosto que combina o minimalismo ao moderno, Tiana diz ao Expresso das Ilhas que busca criar espaços aconchegantes, sem excessos.

“Não gosto de cómodos totalmente minimalistas ou extremamente modernos. Tento combinar os dois estilos para ter aquele aconchego de lar”, explica.

Mesmo convivendo com pais que preferem uma decoração mais tradicional, a jovem procura apresentar conceitos contemporâneos que favorecem o bem-estar dos moradores.

Tiana declara que os investimentos na decoração deste ano foram elevados, com gastos estimados em mais de 300 mil escudos.

“O recibo dos móveis do meu quarto, por exemplo, foi de 98 mil escudos. Se somar com o que gastei nos outros cómodos...”, exemplifica. Contudo, prossegue, o planeamento financeiro foi fundamental.

“Meses antes, comecei a poupar para isso, mas admito que houve compras por impulso ao ver algo que parecia necessário no momento”, admite.

Além de transformar o ambiente, Tiana afirma que a nova decoração impactou positivamente a convivência familiar.

“O meu pai agora prefere ficar na sala ao voltar do trabalho porque, segundo ele, a casa está mais aconchegante. E eu mesma adoro chegar em casa e aproveitar o meu quarto ou o novo sofá da sala”, comenta.

Transformando sonhos em realidade com a decoração de interiores

Ainda nesta reportagem, o Expresso das Ilhas falou com Djenny Fernandes, decoradora de interiores, que transforma espaços tornando-os aconchegantes e personalizados.

Apesar de ainda dividir o seu tempo entre o trabalho como comercial empresarial numa empresa de telecomunicações e a decoração, Djenny é categórica ao afirmar que essa segunda actividade traz enorme satisfação.

“É um trabalho muito cansativo, mas muito gratificante porque consigo realizar sonhos. Entro nas casas das pessoas para atingir o objectivo de ter um lar aconchegante do jeito que sonham”, assegura.

A paixão pela decoração começou cedo, influenciada pelas experiências familiares. “Sou a filha mais velha e sempre gostei de mudar a casa, mudar os móveis de lugar. A minha mãe nunca teve uma empregada, então eu fazia tudo. Quando construímos a nossa casa, íamos juntas procurar móveis e pesquisar formas de decorar”, relembra.

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Djenny Fernandes, Decoradora

Durante o confinamento imposto pela pandemia de COVID-19, Djenny aproveitou o tempo livre para explorar ainda mais a sua criatividade. “Comecei a decorar a minha sala, quartos, a fazer camas e mesas postas. Publicava tudo na internet, e as pessoas começaram a se interessar. Amigos pediam dicas e solicitavam que eu decorasse as suas casas”, diz.

De lá para cá, a decoradora já transformou cerca de 50 residências em Cabo Verde e até no exterior, com consultorias online para países como França e Portugal, e projectos realizados presencialmente na Suíça.

Cada projecto começa com uma consultoria para conhecer o espaço e entender as preferências do cliente. “Faço o papel de psicóloga para captar o estilo e as cores de que a pessoa gosta. Depois elaboro o projecto, o orçamento e uma lista de compras. Se o cliente aceitar, avançamos”, explica Djenny.

Apesar dos desafios, como a falta de materiais no mercado local, a decoradora encontra formas criativas de contornar essas dificuldades. Ou importa, ou busca alternativa junto das carpintarias com o qual tem parceria.

Tendências e preferências

Segundo Djenny, o gosto dos cabo-verdianos tem mudado. “Antes era comum ter estantes com cristaleiras, por exemplo. Agora, as pessoas buscam uma decoração minimalista, com poucas peças que chamam atenção, leveza e funcionalidade”, observa.

A profissional também percebe que as festividades, como o Natal, aumentam a procura por seus serviços. Tanto que não conseguiu aceitar todos os trabalhos solicitados.

“Setembro a Dezembro foi uma época cheia. Muitas pessoas querem as suas casas prontas para as celebrações e isso movimenta bastante o mercado”, conta.

Para Djenny, a decoração de interiores é um campo promissor em Cabo Verde.

“É um trabalho que começa a ser valorizado e com muita procura. Quem tem habilidade pode fazer formação e começar a trabalhar. É um trabalho de paciência e amor”, acredita.

O mercado, afirma, é grande, mas ainda há poucos profissionais da área. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1204 de 24 de Dezembro de 2024.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,28 dez 2024 9:04

Editado porAntónio Monteiro  em  28 dez 2024 11:50

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