Por mares nunca dantes mergulhados

PorJorge Montezinho,13 abr 2025 8:28

Entre 24 de Março e 1 de Abril a expedição OceanX esteve nos mares de Cabo Verde para uma série de pesquisas nunca antes feitas. A "Around Africa Expedition", uma expedição pioneira de quatro meses liderada pela OceanX em colaboração com a OceanQuest, foi lançada, na África do Sul, a 30 de Janeiro, e a bordo do navio de investigação e media de última geração, OceanXplorer, pretende ampliar os limites da exploração e investigação científica dos oceanos ao longo da costa africana.

“Foi uma oportunidade única para expandir o conhecimento científico do mar profundo”, disse ao Expresso das Ilhas Yara Rodrigues, Vogal Executiva para a pesquisa no Instituto do Mar e coordenadora desta campanha em Cabo Verde.

A missão incluiu investigações científicas focadas na exploração do oceano profundo, com ênfase nos montes submarinos “noroeste” próximos à ilha de Santo Antão. Além disso, houve programas de capacitação voltados para Early Career Ocean Professionals (ECOPs) e Young Explorers, ampliando o impacto da expedição na pesquisa oceânica e no desenvolvimento de capacidades em toda a África.

O IMar liderou a campanha em Cabo Verde, juntamente com a UTA, a UNICV, a BIOSFERA, e parceiros institucionais como a Inspeção Geral das Pescas e a Associação Sphyrna. Colaboraram ainda parceiros internacionais, como a Universidade do Vale do Itajaí (Brasil), a Universidade de Cape Town (África do Sul) e a Universidade de Cardiff (Reino Unido).

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“Fui a 500 metros de profundidade e a minha percepção sobre o meu país mudou. Vi o quão extraordinário tudo isto pode ser” - Yara Rodrigues, Vogal executiva do IMar

A investigação focou-se nas águas profundas de Cabo Verde, abrangendo áreas como oceanografia física, química e biológica, geologia, ecologia ecossistémica e modelagem dos montes submarinos da ilha de Santo Antão.

“Foi a primeira vez que fomos à profundidade de mil metros e num submarino”, explicou Yara Rodrigues. “Já tínhamos alguns estudos sobre montes submarinos, [há 10 no país], num paper realizado com o apoio de pesquisadores da Alemanha [Geomorphology and Age Constraints of Seamounts in the Cabo Verde Archipelago, and Their Relationship to Island Ages and Geodynamic Evolution – Geomorfologia e restrições de idade dos montes submarinos no arquipélago de Cabo Verde e a sua relação com as idades das ilhas e a evolução geodinâmica]. E agora podemos ver o que é que existe de biodiversidade, o que há em diferentes profundidades: 150 metros, 350 metros, 500 metros, até 1000 metros. E fomos até 1000 metros, não só com aparelhos operados remotamente, mas também com submersíveis pilotados por um cientista e acompanhados por cientistas que foram directamente ver o que é que estava a acontecer”.

As vantagens de conhecer

A expedição integra a campanha "Around Africa Mission 2025", recentemente reconhecida como uma contribuição para a Década do Oceano. O percurso teve início em Moroni, Comores, e terminará em Nice, França, coincidindo com a Conferência dos Oceanos de 2025. Ao longo do trajecto, o OceanXplorer fez escalas em Cidade do Cabo, Walvis Bay, Mindelo, seguindo posteriormente para Las Palmas.

“Estamos a explorar áreas inexploradas. A investigar ecossistemas marinhos pouco conhecidos, como esses montes marinhos do Noroeste, em Santo Antão”, refere Yara Rodrigues, “e isto pode revelar novas espécies, novos processos ecológicos, que são essenciais para entender, de forma geral, a biodiversidade oceânica”.

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Mas também dar um passo maior em relação ao avanço da pesquisa sobre mudanças climáticas. “Sabemos que o oceano desempenha um papel essencial e crucial na relação do clima e os estudos sobre dinâmicas de biodiversidade e impactos poderão ajudar a prever mudanças futuras e propor, de uma forma geral, que tipo de estratégias e de mitigação nós podemos ter”, sublinha a Vogal Executiva do IMar.

Em Cabo Verde foram usados ROVs [veículos operados remotamente], fez-se mapeamento em 3D, a batimetria toda da região através de eco-sondas [a batimetria é a técnica de medir e representar a profundidade de corpos de água, como rios, oceanos, lagos, barragens e represas. É um levantamento topográfico do relevo submerso], e foram recolhidos diferentes tipos de materiais; como água, esponjas e corais, para fazer os estudos de ADN ambiental. Isto vai permitir uma análise detalhada de ecossistemas profundos e novas abordagens para a conservação e monitorização da vida marinha.

“Todos os dados coletados podem ser utilizados em programas não só educacionais, mas também governamentais”, refere Yara Rodrigues. “Estes montes submarinos funcionam muito bem como habitats para diferentes espécies, mas também são áreas muito vulneráveis. Temos um conjunto de directivas da Unesco, que são baseadas em experiências globais, e agora estamos a ter a nossa experiência específica. Somos um país feito a 99% de água. Isso significa que são 99% de oportunidades para pesquisar”.

Reforço das capacidades e educação

A expedição "Around Africa" da OceanX e OceanQuest centra-se na exploração de ecossistemas de profundidade e montanhas submarinas (mapeamento de regiões desconhecidas do fundo do oceano, estudo de ecossistemas de montanhas submarinas e documentação de pontos críticos de biodiversidade em zonas como o Agulhas Plateau e a Madagascar Ridge) e biodiversidade oceânica (geração de conjuntos de dados abrangentes sobre padrões de biodiversidade oceânica, diversidade de bacterioplâncton e aerossóis).

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"A colaboração da OceanQuest com a OceanX sublinha o poder das parcerias para promover avanços científicos e descobertas oceânicas" referiu, em comunicado, Martin Visbeck, CEO da OceanQuest. "Ao trabalhar com parceiros locais e várias redes científicas africanas e internacionais, estamos a articular as competências regionais para garantir que os conhecimentos e os benefícios gerados por esta expedição criam impactos duradouros, tanto para as pessoas que dependem destas águas como para a comunidade mundial empenhada na gestão sustentável do oceano profundo”.

“Temos que aproveitar o que não conhecemos e estudar, dar respostas e soluções mais específicas a problemas gerais do dia-a-dia e que possam ajudar de forma exclusiva as comunidades”, diz Yara Rodrigues.

“A investigação científica no mar é bastante cara, preços absurdos que não conseguiríamos sustentar. E só com estas cooperações vamos conseguir avançar da melhor forma possível”, reforça a vogal executiva do IMar.

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“Além de uma oportunidade única para expandir o conhecimento científico do mar profundo e dos montes submarinos, fortalecer colaborações e trazer impactos positivos para a sociedade, queremos, realmente, que os resultados desta expedição possam contribuir para a formação de novas gerações de cientistas, para desenvolvimento de políticas de conservação e para, principalmente, o aumento da conscientização sobre a importância dos oceanos”, diz a coordenadora da expedição cabo-verdiana.

Novas descobertas

Desde o lançamento, a expedição mapeou ecossistemas desconhecidos e recolheu dados críticos sobre a biodiversidade nas águas africanas. Entre os seus avanços mais significativos está a primeira exploração de um monte submarino previamente conhecido, mas nunca explorado, a sul de Walter’s Shoal, ao longo da Dorsal de Madagáscar. Pela primeira vez na história, um Veículo Operado Remotamente realizou um levantamento visual, revelando um ecossistema de águas profundas deslumbrante, repleto de corais, esponjas e espécies de águas profundas nunca antes observadas nesta área.

Em Cabo Verde, além das pesquisas subaquáticas, um levantamento aéreo da megafauna, a partir do helicóptero permitiu observar inúmeros golfinhos, algumas orcas e outras espécies marinhas no seu habitat natural, “reforçando a importância da conservação desses ecossistemas”, como disse o IMar.

Agora, pretende-se que o legado da "Expedição Around Africa" vá para além dos seus objetivos científicos imediatos. Ao fomentar a colaboração internacional e a promoção da investigação e da recolha de dados sobre os oceanos em África, esta expedição quer lançar as bases para um impacto sustentado a nível regional e mundial. Esta viagem é mais do que uma expedição - é um apelo à ação em prol do futuro dos oceanos.

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Sobre a OceanX

A OceanX tem a missão de apoiar os cientistas na exploração do oceano e de o dar a conhecer ao mundo através de meios de comunicação cativantes. Unindo os principais parceiros dos media, da ciência e da filantropia, a OceanX utiliza tecnologia de última geração, ciência arrojada, narração de histórias cativantes e experiências imersivas para educar, inspirar e ligar o mundo ao oceano e construir uma comunidade mundial profundamente empenhada em compreender, desfrutar e proteger os nossos oceanos. A OceanX é um programa operacional da Dalio Philanthropies, que promove os diversos interesses filantrópicos dos membros da família Dalio.

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Sobre a OceanQuest

A OceanQuest é uma fundação sem fins lucrativos da Arábia Saudita, dedicada a revelar as maravilhas do oceano e a explorar os seus segredos para benefício da humanidade. Tem como missão acelerar as descobertas oceânicas, impulsionar a inovação neste domínio, apoiar a cooperação global e entusiasmar o público. A OceanQuest e os seus parceiros globais iniciarão um novo capítulo de exploração das profundezas dos oceanos e de partilha de conhecimentos. A OceanQuest está sediada no campus da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (KAUST) em Thuwal, no Reino da Arábia Saudita. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1219 de 9 de Abril de 2025.

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Autoria:Jorge Montezinho,13 abr 2025 8:28

Editado porAndre Amaral  em  14 abr 2025 14:22

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