Declarações feitas, esta segunda-feira, durante uma conversa com alunos da Escola Secundária da Boa Vista, no âmbito da Semana da Literatura promovida pela Câmara Municipal.
Com base nos relatos ouvidos em várias localidades da ilha, a activista manifesta grande preocupação com os casos de crianças que sofrem abusos, frequentemente ignorados pelas próprias famílias.
“A situação da Boa Vista deixa-me com o coração apertado. Em apenas uma semana na ilha, estou realmente bastante preocupada. Já dei palestras a alunos do ensino básico e secundário e ouvi vários relatos de sofrimento, várias feridas emocionais que os meninos carregam de casa para a escola”, afirma.
A activista refere casos de crianças com apenas 10 anos a colocarem questões na terceira pessoa, mas sublinha que, pela sua experiência, percebe que estão a falar de si mesmas.
“Dizem hipoteticamente: ‘Imaginem que uma menina foi violada pelo padrasto, contou à mãe e a mãe não acreditou. Nesse caso, o que é que a menina deve fazer?’”, relatou a activista.
Miriam Medina afirma que a idade das crianças envolvidas torna a situação ainda mais preocupante, e refere-se também à sobrecarga dos professores, que muitas vezes têm de lidar com estas questões sozinhos.
“Tenho falado com vários professores sobre a necessidade de terem um psicólogo na escola. Mas não um psicólogo que também tenha de dar aulas. Alguém que esteja ali apenas para atender os meninos. Porque são os professores que acabam por lidar com todas essas feridas emocionais, com todos os problemas de várias ordens que os alunos trazem de casa para a escola”, refere.
A escritora defende a necessidade de um trabalho "de raiz" que comece no seio familiar e envolva toda a comunidade para erradicar a violência sexual e proteger as crianças de Boa Vista e de Cabo Verde.
Apesar da gravidade da situação, elogia a iniciativa da autarquia em organizar um encontro multidisciplinar com o ICCA e outras entidades para discutir soluções.