Saline Barbosa, que tinha a missão de orientar jovens para o mercado de trabalho, considerou que num mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, pequenos erros podem custar grandes oportunidades.
Em Cabo Verde, o cenário é preocupante, uma vez que jovens licenciados chegam às entrevistas sem saberem redigir um e-mail, apresentam currículos com filtros de redes sociais e demonstram falta de preparo básico para ingressar no mundo profissional.
Diante dessa realidade, iniciativas voltadas para a orientação e qualificação comportamental ganham cada vez mais relevância.
Em declarações à Inforpress, a especialista em Gestão de Recursos Humanos, explicou que tem recorrido às redes sociais para partilhar dicas semanais sobre os desafios do mercado laboral, abordando temas como a preparação para entrevistas, elaboração de currículos e cartas de apresentação, além da postura adequada em eventos corporativos.
“A nossa imagem fala por nós e a postura, numa entrevista, pode influenciar bastante o resultado do processo”, afirmou Saline Barbosa demonstrando preocupação com o “despreparo comportamental” de muitos jovens, inclusive licenciados, que ainda não dominam noções básicas como redigir um e-mail estruturado ou elaborar uma candidatura espontânea.
De acordo com a especialista, é comum encontrar jovens sem conta de e-mail ou que enviem currículos com fotografias com filtros, tiradas em locais inadequados e com informações desactualizadas.
“O maior desafio que enfrento, enquanto gestora de recursos humanos é o comportamento, a comunicação, o compromisso e a responsabilidade dos recém-contratados”, sublinhando que a iniciativa surge como resposta a essa realidade.
Por meio de conteúdos acessíveis, Saline procura orientar os jovens sobre a diferença entre currículo e carta de apresentação, a importância do autoconhecimento profissional e a personalização das candidaturas conforme o perfil das vagas.
Outro ponto destacado é o papel das plataformas digitais, como o LinkedIn, na construção de redes de contacto (networking) e na valorização das competências.
“É essencial apostar no LinkedIn, actualizar formações e entender o poder do ‘networking’ actualmente”, aconselhou.
Saline Barbosa defende ainda a formação contínua, sobretudo em áreas como informática e inglês, cada vez mais exigidas pelas empresas.
“Hoje em dia, os empregadores procuram jovens com domínio de ferramentas tecnológicas e, no mínimo, com competências básicas em inglês”, reforçou.
Participar de eventos corporativos e integrar associações profissionais também é apontado como estratégia para desenvolver novas habilidades e expandir o círculo de aprendizagem.
A situação do desemprego juvenil em Cabo Verde permanece preocupante.
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, no segundo trimestre de 2024, 24,5 por cento (%) dos jovens entre 15 e 35 anos estavam desempregados e fora do sistema de ensino ou formação, o que representa 41.852 indivíduos.
Esses números evidenciam os desafios na transição dos jovens para o mercado de trabalho, ressaltando a urgência de políticas públicas voltadas para a qualificação profissional, inclusão educacional e criação de oportunidades.
A persistência desses indicadores exige medidas estruturais para melhorar a empregabilidade juvenil e impulsionar o desenvolvimento socioeconómico do país.