O Inquérito Multiobjectivo Contínuo (IMC) 2024 trouxe uma análise abrangente das condições de vida em Cabo Verde, com destaque para os agregados familiares, condições habitacionais, acesso a serviços básicos, educação e tecnologias de informação.
Segundo os dados do IMC 2024, a população residente no país foi estimada em 511.534 indivíduos, distribuídos por 155.732 agregados familiares. Em termos médios, cada agregado conta com 3,3 pessoas, com uma diferença entre o meio rural (3,5) e o urbano (3,4). O número de famílias aumentou em relação a 2023, que registava 155.534 agregados.
A estrutura familiar em Cabo Verde apresenta diversidade, com 21,5% dos agregados a serem do tipo conjugal nuclear, ou seja, constituídos por um casal e seus filhos; 20,4% são unipessoais, formados por uma única pessoa; e 18,3% são monoparentais nucleares, compostos por um dos pais e os seus filhos. Quando se analisa a composição segundo o sexo do chefe do agregado, observa-se que, entre os agregados liderados por homens, predominam os do tipo conjugal nuclear (31,2%) e os unipessoais (29,9%). Já entre os agregados chefiados por mulheres, destacam-se os monoparentais nucleares (29,3%) e os agregados compósitos (25,1%), que incluem outros familiares além do núcleo principal.
Perfil demográfico e social
A população de Cabo Verde mantém-se jovem, com 27,4% com menos de 15 anos e 16,1% entre os 15 e os 24 anos. A população idosa (65 anos ou mais) representa 7,5%. A distribuição por sexo é equilibrada, sendo 49,6% mulheres e 50,4% homens. A ilha de Santiago alberga mais de metade da população (55,7%), sendo que a Cidade da Praia concentra 30,1% do total nacional. A Ilha Brava tem o menor peso populacional, com apenas 1,1%.
No que diz respeito ao estado civil da população com 12 anos ou mais, 54,6% são solteiros, 12,3% casados legalmente e 23,9% vivem em união de facto. A proporção de viúvas é significativamente maior entre as mulheres (5,9%) do que entre os homens (1,3%).
Educação e instrução
A taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais é de 88,5%, sendo superior no meio urbano (90,1%) do que no rural (83,5%). Os homens têm maior taxa (92,9%) do que as mulheres (84,1%). Entre os jovens de 15 a 24 anos, a alfabetização ultrapassa os 98%.
Quanto ao nível de ensino, 44,7% frequentaram o secundário, 39% o básico e 8,9% o superior – com forte disparidade entre o meio urbano (10,6%) e o rural (3,6%). As mulheres superam os homens no ensino superior (10,4% contra 7,5%). O número médio de anos de estudo é de 8,0 anos, sendo 8,1 para mulheres e 7,8 para homens.
Condições habitacionais e acesso a serviços
A maioria dos agregados vive em moradias independentes (72,1%), com 3 divisões em média, e 1,9 dedicadas ao sono. O acesso à electricidade cobre 92,9% dos agregados, com diferença entre o urbano (94,3%) e o rural (88,6%). Quando não há electricidade, 5,3% recorrem a velas, sendo esta prática mais comum nas zonas rurais.
Em relação à água canalizada, 73,7% dos agregados têm ligação à rede pública. No urbano, esse número é de 75,7%, e no rural, 59,3%. No entanto, 14,9% dos agregados rurais ainda dependem de fontes como poços ou nascentes. O tempo médio para a recolha de água é de 20,1 minutos, sendo maior no meio rural (24,8 minutos).
Apenas 27,2% dos agregados utilizam água engarrafada para beber. Entre os que não utilizam, 26,3% tratam a água, sobretudo com lixívia. Contudo, 46,5% consomem água não tratada, o que representa um desafio sanitário.
No saneamento, 89,4% dos agregados possuem sanitas ou retretes, mas 44,5% ainda despejam águas residuais ao redor da casa, prática muito comum nas zonas rurais (70,6%). A evacuação de resíduos sólidos é feita maioritariamente através de contentores (73,7%) e da recolha municipal (15,1%), mas 38,1% dos agregados rurais não têm destino adequado para o lixo.
Energia e tecnologia
O gás é a principal fonte de energia para cozinhar (85,1% dos agregados), com maior prevalência no meio urbano (91,6%). No rural, 33,1% ainda utilizam lenha.
Quanto ao acesso a tecnologias, 68,7% dos agregados têm acesso à internet, sendo 71,8% no urbano e 58,9% no rural. Apenas 29,6% possuem computador, sendo essa percentagem muito inferior nas zonas rurais (15,1%). A televisão está presente em 82,3% dos lares, mas apenas 33,6% têm acesso a canais por assinatura.
Equipamentos e bens
A nível de bens domésticos, 93,7% dos agregados possuem fogão, 80,5% frigorífico e 57,3% máquina de lavar roupa. No que respeita a bens de produção, 25,3% possuem animais de criação, 15,9% têm terrenos agrícolas e 4,5% detêm motos ou motociclos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1235 de 30 de Julho de 2025.