“Há comunicados a anunciar uma resolução do problema, mas depois não se resolve. Há cortes permanentes, não estruturados, não definidos e isto afeta brutalmente a economia e provoca prejuízos enormes”, referiu Marcos Rodrigues, presidente da Câmara de Comércio do Sotavento (CCS).
“Nos últimos tempos, com esses eventos dos cortes constantes e alguma incerteza em relação a informações, aos comunicados que são feitos, criou-se no mercado uma instabilidade grande para as pequenas e microempresas, provocando prejuízos enormes, e também para as famílias, obviamente, afetadas com estes cortes consecutivos”, apontou.
Aquele responsável estima que “os prejuízos provocados” pela falta de eletricidade já devem atingir um valor “superior ao que é preciso para aquisição de máquinas para resolver este problema”, provocado por avarias nos geradores da central elétrica da capital.
A empresa diz que são necessários “grandes investimentos” em equipamentos de produção de energia, mas o “prejuízo que causa na economia é superior ao valor dessas máquinas”, afirmou.
“Cabo Verde já não está num patamar de desenvolvimento em que possa aceitar incertezas em relação a matérias criticas como a questão da energia: temos de ter previsibilidade, com investimentos sérios e gestão altamente eficiente” no fornecimento de eletricidade, referiu, apontando o dedo à Empresa de Produção de Eletricidade de Cabo Verde (EPEC), que resultou na desagregação da empresa estatal Electra, em 2024.
“Não podemos estar a aceitar desculpas permanentes” sobre avarias, tal como os empresários também não sobrevivem desculpando-se aos clientes: “um hotel não pode dizer aos clientes que não tem carne ou peixe”, exemplificou, numa alusão à degradação de produtos perecíveis.
Como na "maioria dos países que tem uma responsabilidade em relação à sua economia, deveria haver uma compensação para os prejuízos provocados às empresas e famílias. O problema não é só o corte da energia, em si, mas o efeito num negócio: há empresas que encerram porque não há computador para emitir faturas, há produtos que se estragam, empregados que não trabalham, uma série de problemas” descreveu, para ilustrar um cenário em que chega a haver 10 a 15 horas sem energia.
“Tem de haver reserva” para produção de energia na central elétrica, disse, exigindo qualidade da gestão.
A CCS “continua a fazer a sua pressão e a comunicar às autoridades que é inconcebível e inaceitável que a situação se prolongue por muito mais tempo”.
“Se não há solução a curto prazo, isso tem de ser dito ao país”, referiu, questionando os comunicados que têm sido divulgados pela EPEC, que apontam para uma solução breve, que nunca surge.
O dia-a-dia “tem sido alimentado com a ideia de uma solução que está à porta, mas, se não houver, que haja clareza. Tudo menos continuar na incerteza que é inimiga dos negócios”, concluiu.
O ministro da Indústria, Comércio e Energia, Alexandre Monteiro, explicou, há uma semana, que metade dos seis grupos geradores da ilha de Santiago tem sofrido avarias e depende de peças do exterior.
"Nunca tivemos esta situação nos últimos anos", disse, numa entrevista à televisão pública, classificando-a como uma "anormalidade" e prometendo planos para haver mais potência de reserva nestas situações.
Na segunda-feira, a Empresa de Produção de Eletricidade (EPEC) informou que um conjunto de peças tinha chegado e chegou a ser instalado, mas voltou a registar-se uma nova avaria.
"Até à resolução, com apenas três grupos operacionais, poderá ser necessário manter cortes de energia por défice de potência", comunicou a empresa, acrescentando que vai reforçar a manutenção da central, mas sem dar prazos para resolver o problema.