"Exigimos que o Governo aumente, com urgência, o número de geradores" da central eléctrica que abastece a capital e toda a ilha de Santiago, "que apresente um relatório público sobre o estado real das centrais no país, que invista na modernização do sistema eléctrico e crie uma célula de acompanhamento para monitorizar os riscos e antecipar falhas", afirmou o deputado do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Carlos Tavares, na primeira sessão de Outubro.
O parlamentar acrescentou que é necessário reforçar a fiscalização e auditoria por parte da empresa reguladora, esclarecer publicamente as dívidas da empresa e realizar um inquérito para apurar causas e responsabilidades pelos sucessivos cortes de energia eléctrica, garantindo ainda compensações justas às famílias pelos prejuízos materiais e operacionais provocados pelos apagões.
"Em vários bairros, as pessoas passam mais tempo sem electricidade do que com ela. Esta situação é crítica e insustentável. A falta de energia afecta negativamente a economia, compromete serviços essenciais e prejudica a qualidade de vida. As empresas perdem produtos, clientes e faturação e as famílias ficam sem conforto e segurança", referiu.
O deputado criticou ainda o facto de, enquanto as populações lidam com prejuízos e instabilidade, as explicações se limitarem a declarações técnicas de ministros e administradores de empresas.
"Onde está o chefe máximo deste Governo? É inaceitável que, desde o início desta crise, o primeiro-ministro não tenha dado a cara, nem uma única palavra, permanecendo em silêncio e ausente, deixando famílias e pequenos negócios à mercê da crise. Esta omissão revela descaso, desresponsabilização e total falta de liderança", acrescentou.
O deputado da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), António Monteiro, afirmou que se a central elétrica não está a funcionar corretamente, alguém deve assumir responsabilidades.
"As avarias ocorrem. Quando não se faz manutenção atempada, com reposição das peças genuínas, corremos o risco de ter a situação que temos agora", disse.
António Monteiro defendeu também a realização de um inquérito para apurar responsabilidades.
O deputado do Movimento para a Democracia (MpD, poder), Celso Ribeiro, solidarizou-se com os cabo-verdianos que enfrentam "um período difícil" relativamente ao fornecimento de energia e acusou o PAICV de, com "sede de poder", procurar problemas para levar ao parlamento, sem apresentar alternativas.
"Recentemente foram instaladas três turbinas elétricas maiores para resolver os problemas. Devemos reconhecer que os problemas existem. Estamos aqui para resolvê-los. Temos confiança neste Governo e apelamos para que continue a trabalhar", afirmou.
A capital de Cabo Verde, Praia, e toda a ilha de Santiago, estão a sofrer apagões prolongados todos os dias, desde o início de setembro, devido a avarias que a empresa pública de eletricidade anunciou não conseguir resolver na única central elétrica da ilha, remetendo a solução para geradores alugados que devem chegar ao país no final de outubro.
O ministro da Energia, Carlos Monteiro, pediu desculpas pelo sucedido e o Governo anunciou o desbloqueio de verbas para manutenção e investimento no setor.
Ao mesmo tempo foram anunciadas averiguações à situação, incluindo por parte da Polícia Judiciária.