A avaliação é do investigador e professor da Universidade de Barcelona (Espanha) Jacob González-Solís. Segundo o especialista, Cabo Verde é um dos locais mais importantes do mundo para aves marinhas, abrigando oito espécies reprodutoras, das quais cinco são endémicas do arquipélago, mas algumas dessas espécies enfrentam ameaças significativas devido à captura acidental em actividades da pesca artesanal, em especial a cagarra e o rabo-de-junco, mas também o Alcatraz e o Pedreiro, em menor grau.
“A pesca artesanal não afecta todas as espécies, mas o número de capturas acidentais é elevado. Felizmente, há soluções, e elas passam necessariamente por trabalhar em conjunto com os pescadores”, afirmou Jacob González-Solís.
O especialista que há vários anos trabalha com organizações ambientalistas em Cabo Verde lembrou que a pesca com linha de mão, predominante nas comunidades locais, é uma das mais selectivas do mundo e deve ser preservada, mas com ajustes para reduzir o impacto ambiental.
Entre as soluções estudadas estão a utilização de aves artificiais para afugentar espécies e reduzir a atração delas pelos barcos de pesca, mudanças nos horários e profundidade de pesca e restrições temporárias em áreas sensíveis durante períodos críticos, como a fase de voo de juvenis de cagarras.
O mesmo avançou que estudos-piloto com estas soluções já foram realizados por organizações como BirdLife, BirdLife-Dakar, Biosfera, e outras ONG nacionais, apontando caminhos promissores de mitigação.
Ao longo da última década, uma rede de investigadores, incluindo universidades e organizações como Associação Projecto Vitó, BioCV, Lantuna, Fundação Maio Biodiversidade e Associação Projecto Biodiversidade, rastreou com GPS as oito espécies de aves marinhas que nidificam em Cabo Verde e o resultado é um mapa detalhado das zonas mais utilizadas por estas aves para alimentação, descanso e reprodução.
O especialista salientou que duas áreas se destacam, sendo uma na região entre Fogo, Rombos e Brava, sendo que nos Ilhéus Rombos se encontra um dos principais locais de nidificação, e a outra a zona dos ilhéus de Barlavento – Branco, Raso e Santa Luzia, também considerados de alta importância ecológica, apesar de Santa Luzia ainda não ter colónias activas, mas no futuro poderá ter com a sua recolonização.
Outras áreas de forte utilização incluem a costa nordeste de Santiago, especialmente importante para o Gongon, uma espécie endémica com ameaças adicionais, como predação por espécies invasoras (gatos e ratos), poluição luminosa e pressão humana directa.
“Estas zonas costeiras próximas às colónias, conhecidas como extensões de navegabilidade, têm uma intensa actividade das aves e são prioritárias para proteção”, explicou Jacob González-Solís.
O investigador sublinhou que este é o momento ideal para criar uma rede de áreas marinhas protegidas em Cabo Verde, antes que o aumento da pesca, da mineração submarina ou de projectos como parques eólicos offshore compliquem a gestão do espaço marinho.
“Estamos num ponto crucial. Proteger estas áreas agora é garantir um futuro para a biodiversidade marinha e uma base sólida para o desenvolvimento sustentável. O que definirmos hoje será essencial para gerir os interesses que surgirão amanhã”, sublinhou.