Fátima Alves falava à Rádio Morabeza à margem da “Jornada de Reflexão sobre Género e Política”, realizada no Mindelo e promovida pelo ICIEG.
“Bem, nós temos conseguido alguns avanços e os dados sobre a paridade e as disparidades de género indicam isso. Mas persistem, de facto, muitos e muitos desafios ainda por enfrentar. E até perguntamos por que é que tem de ser ainda um desafio a enfrentar e um objectivo a atingir. Os dados indicam-nos que, até 2016, como tivemos a oportunidade de partilhar, só em 2081 conseguiremos atingir uma paridade e uma igualdade mais plena, mais efectiva, em relação à nossa participação política em determinados cargos de decisão e órgãos de soberania. Há muitos obstáculos ainda por vencer, nomeadamente a nível interno da estrutura dos partidos políticos”, afirma.
Apesar do progresso reconhecido internacionalmente, a presença feminina na política cabo-verdiana ainda enfrenta fortes barreiras estruturais.
“Os partidos são, maioritariamente, liderados por homens e toda a constituição do partido apresenta disparidades. Vemos claramente que, não obstante toda a contribuição que as mulheres têm dado no seio dos partidos e a nível da sua participação , sendo os partidos o meio para se eleger , ainda não conseguem chegar às lideranças. E precisamos, em Cabo Verde, de facto, criar consciências em relação à igualdade de género. Perceber, como também falamos, que o país perde muito com essa fraca ou deficiente participação das mulheres nos cargos de decisão e de poder. Porque damos a nossa contribuição em tudo, em todas as áreas”, lamenta.
Noutra frente, Fátima Alves considera que o discurso de vitimização pode travar o avanço da igualdade e defende o empoderamento individual e colectivo das mulheres.
“A mulher precisa perceber que não é vítima. Cabe a cada uma tomar consciência e dar o primeiro passo, com o apoio das políticas públicas e da sociedade”, sublinha.
A representante da Morabi alerta que o país perde quando não aproveita plenamente o potencial das mulheres e lembra que os compromissos internacionais, como a Agenda 2030 e as recomendações da Conferência de Pequim, colocam a igualdade de género no centro do desenvolvimento sustentável.