“Sempre acreditei que cada cidadão pode contribuir para transformar o seu país. Quando me deparei com o cenário caótico da recolha de lixo urbano na cidade da Praia, percebi que era preciso agir, não só como cidadão, mas também como promotor de impacto ambiental e social”, explica Kenira Alves ao Expresso das Ilhas.
Inicialmente concebido como um esboço de ideia, o projecto ganhou forma quando Keven partilhou o plano, Kenira.
“Juntos, estruturámos o EcoAtlântico com uma visão mais ampla, integrando sustentabilidade, inovação tecnológica e impacto social”, explana Kenira.
A grande aposta do EcoAtlântico é a tecnologia. A iniciativa combina inteligência artificial (IA), drones e contentores inteligentes num sistema integrado de gestão de resíduos.
“Enquanto os métodos tradicionais dependem de recolhas fixas e manuais, o EcoAtlântico funciona de forma dinâmica e inteligente, com base em dados reais e alertas automáticos”, detalha Kenira.
“Os drones farão o mapeamento aéreo das cidades, transmitindo imagens em tempo real para o centro de controlo, e a inteligência artificial vai identificar focos de lixo, permitindo uma resposta rápida e precisa”.
Os contentores inteligentes, equipados com sensores de enchimento, enviarão alertas automáticos quando atingirem a capacidade máxima.
“Isso permite optimizar as rotas de recolha, evitar transbordos e reduzir custos operacionais”, acrescenta Kenira Alves.
A fase-piloto do EcoAtlântico será implementada nas ilhas da Boa Vista e do Maio, escolhidas pela sua vocação turística e pelas parcerias locais já existentes.
“Queremos testar o modelo num contexto controlado e ajustá-lo antes da expansão nacional. São ilhas com forte vocação turística, onde a limpeza urbana tem impacto direto na economia e na imagem do país”, explica a jovem.
Após a fase-piloto, o projecto será expandido para a cidade da Praia, onde a produção de resíduos é mais elevada e o desafio da limpeza urbana é mais urgente.
Nos primeiros 12 meses, o EcoAtlântico pretende reduzir em 30% o lixo urbano que chega ao mar e cobrir 95% das necessidades de recolha na zona-piloto.
“O nosso trabalho começa em terra, porque a verdadeira solução para a poluição marinha está na origem do problema. Ao melhorarmos a recolha e gestão de resíduos urbanos, impedimos que o lixo chegue ao oceano”, defende Kenira.
Além da componente ambiental, o projecto tem também uma forte dimensão social, com programas de formação e integração de trabalhadores informais da limpeza urbana.
O EcoAtlântico será financiado por meio de fundos de economia azul, parcerias internacionais e modelos de Parceria Público-Privada (PPP).
O projecto, segundo Kenira, já atrai o interesse de entidades como o Fundo Verde para o Clima, a União Europeia e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).
“A maior dificuldade é o acesso ao financiamento inicial, porque projectos tecnológicos de saneamento ainda são vistos como de alto risco em pequenos países insulares. Mas temos recebido sinais positivos, sobretudo devido à combinação entre inovação, sustentabilidade e impacto social”, diz.
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