Na baixa da ribeira, os sinais da enxurrada ainda saltam à vista, com parcelas de terreno cortadas, muros derrubados e linhas de água abertas à força pela corrente.
Algumas famílias perderam parte dos seus terrenos, outras viram desaparecer quase toda a produção de cana-de-açúcar, cenoura, banana, mandioca e outras culturas de subsistência.
O agricultor José Gomes de Pina recorda que, em poucas horas, a água subiu, saiu do leito e levou tudo o que encontrou pela frente.
“Muitos tinham investido nas sementeiras à espera de uma boa campanha agrícola, mas acabaram por ver o trabalho de anos arrastado pelas cheias”, lamentou.
Apesar da destruição nos campos, os agricultores olham com esperança para a barragem de Flamengos, que está cheia, com cerca de 16 metros de água e a transbordar pelos descarregadores.
Para os agricultores, esse reservatório representa uma nova oportunidade para recomeçar.
Ernesto Pereira, que perdeu toda a sua plantação, afirma que a água armazenada é um incentivo para voltar a cultivar, diversificar culturas e garantir produção ao longo de todo o ano, sem depender apenas das chuvas.
Os camponeses acreditam que, com rega assegurada, será possível recuperar as áreas perdidas e aumentar a produtividade, tanto para o consumo das famílias como para abastecer os mercados da região.
No entanto, o entusiasmo choca com velhos problemas como a falta de equipamentos, escassez de mão-de-obra e fragilidade económica das famílias agrícolas.
A agricultora Alice Fernandes reconhece que, sozinhos, dificilmente conseguirão reconstruir muros de protecção, preparar novamente os terrenos e repor as culturas destruídas.
Por isso, os produtores pedem apoios concretos, não apenas com sementes ou pequenos materiais, mas também com acesso a máquinas para preparar o solo, sistemas de rega adequados e programas que ajudem a garantir mão-de-obra, sobretudo nesta fase de recuperação.
Os agricultores defendem ainda que a cheia da barragem deve marcar o início de um novo ciclo na ribeira, com melhor organização das parcelas, construção de infra-estruturas de protecção e um plano de uso racional da água, de forma a reduzir danos em futuras chuvas intensas.
Apesar das perdas sofridas em Novembro, o sentimento dominante entre os agricultores de Flamengos é de resistência.
Dizem que “a mesma água que destruiu também encheu a barragem” e, com apoio adequado, esperam transformar a tragédia numa oportunidade para fortalecer a agricultura e a segurança alimentar das famílias da zona.
Santiago Norte ficou em estado de calamidade após as chuvas de 13 Novembro, que causaram uma vítima mortal e estragos em infra-estruturas, habitações e actividades económicas em Santa Cruz, São Miguel e Tarrafal.
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