Todos os anos, em todos os mais de 50 países onde há brigadas médicas cubanas, são realizadas jornadas científicas. A data escolhida é Dezembro, evocando o dia de nascimento (3 de Dezembro) de Carlos Juan Finlay, médico cubano que identificou o mosquito como transmissor da febre amarela, e que se tornou também o dia de comemoração da Medicina Latino-Americana.
“Tem significado especial para a medicina cubana”, resume o embaixador de Cuba em Cabo Verde, Turcios López.
Cabo Verde não é, pois, excepção e tem assinalado a data com jornadas anuais desde 2018. Este ano, outras comemorações se alinham com o evento. Cumpre-se em 2025 o centenário do nascimento de Fidel Castro, líder histórico da Revolução Cubana e impulsionador da cooperação médica internacional. Uma cooperação iniciada em 1963 na Argélia, como conta o diplomata, e que em 1976 chegaria também a Cabo Verde.
Assim, às portas da comemoração do cinquentenário desta relação, marcada pela presença continuada de médicos cubanos no arquipélago e pela formação de mais de 300 cabo-verdianos na área da medicina em Cuba, realizou-se, no dia 20, mais uma jornada, na Praia.
A jornada
A jornada científica contou com uma participação massiva dos médicos cubanos. Segundo explicou o coordenador nacional da Brigada Médica Cubana, Noslando Ramos González, todos os médicos que trabalham no Hospital Universitário Agostinho Neto, na Praia, apresentaram trabalhos científicos, desenvolvidos em conjunto com médicos cabo-verdianos.
Seis desses trabalhos foram seleccionados pela Comissão Científica Nacional para exposição pública, incidindo sobre áreas como pediatria, neonatologia, gastroenterologia, medicina interna, anestesia e reanimação, e oncologia.

De acordo com o coordenador da Brigada, todos os estudos apresentados tiveram como base casos clínicos observados em Cabo Verde. “São trabalhos de interesse tanto para a cooperação cubana como para a contraparte cabo-verdiana, porque deixam contributos concretos para a melhoria da resposta à população. O objectivo principal é esse: responder às necessidades da população cabo-verdiana”, explicou, acrescentando que se trata de investigações com “um grande impacto para a população cabo-verdiana”.
Também o embaixador de Cuba destacou a vertente científica da cooperação. “O objectivo é exactamente esse: responder às prioridades de saúde de Cabo Verde. Os hospitais podem propor à Brigada Médica pesquisas específicas ou apresentar casos de pacientes que exigem tratamentos especiais”, refere Turcios López.
Presente e Futuro
No próximo ano, em Maio de 2026, os dois países vão assinalar os 50 anos desta cooperação histórica. Até lá, está prevista a chegada de novos médicos cubanos, incluindo especialistas em imagiologia, medicina intensiva e medicina geral integral, bem como o alargamento da presença da Brigada a ilhas onde ainda não está implantada.
Actualmente, como referem os entrevistados, a Brigada Médica Cubana integra mais de 70 cooperantes, dispersos em sete ilhas, e distribuídos por 12 especialidades clínicas e sete cirúrgicas. Aliás, cerca de metade dos médicos especialistas do país são cubanos. Entretanto, a presença dos cooperantes vai ser, como referido, alargada a todas as nove ilhas do arquipélago com a chegada de médicos para o Maio e Tarrafal de São Nicolau.
Formação
De igual modo, e como atestam as jornadas, a questão científica e da formação médica é vista como de grande importância por ambos os países.
Tanto o embaixador como o coordenador da Brigada sublinham a disponibilidade de Cuba para apoiar Cabo Verde, não apenas na assistência médica directa, mas também na formação de especialistas e, a médio prazo, no reforço da capacidade docente nacional.
"Estamos abertos", refere o coordenador nacional da Brigada Cubana. Lembrando que 65% dos cooperantes têm categoria docente, Noslando Ramos González sublinha que existe a possibilidade de prestar esse apoio, aproveitando os recursos humanos qualificados que já se encontram no terreno.
“Queremos contribuir para a formação de especialistas em Cabo Verde”, assume também o embaixador Turcios López, destacando, igualmente, que os médicos cubanos que já residem no país podem apoiar nesse sentido. Este suporte, acredita, graças a toda a experiência de Cuba neste âmbito, inclusive nos países de língua portuguesa, como Angola, Guiné-Bissau e Timor-Leste, poderá ser uma grande valia para o desenvolvimento do sistema de saúde cabo-verdiano.
A proposta passa, pois, por aproveitar a presença dos cooperantes cubanos para criar um sistema de formação contínua que permita a Cabo Verde não só formar os seus próprios especialistas, mas também, a prazo, desenvolver um corpo docente nacional capaz de assegurar autonomamente a formação médica no arquipélago, resume-se.
Tem havido conversas nesse sentido, inclusive com o Ministro de Saúde e a Directora Nacional de Saúde. Contudo, salvaguarda o diplomata: “o ministério da saúde de Cuba disponibiliza-se para ajudar, temos os médicos, temos os professores, mas é Cabo Verde que tem de solicitar e organizar.

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A Cooperação Médica Cubana em números
A nível mundial, desde 1963, os médicos cubanos cooperantes espalhados pelos vários continentes:
- Atenderam mais de 2,3 mil milhões de pessoas
- Realizaram 17 milhões de intervenções cirúrgicas
- Contribuíram para o nascimento de mais de 5 milhões de crianças
- Salvaram 12 milhões de vidas
- Através da Operação Milagre, foram realizadas mais de 3,3 milhões de cirurgias oftalmológicas
- Durante a COVID-19, 58 brigadas médicas cubanas prestaram apoio sanitário em 42 países
- Cuba mantém, actualmente, mais de 24 000 colaboradores em 56 países.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1256 de 24 de Dezembro de 2025.
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