Segundo o governante, deve-se “respeitar o Estado do direito” e Cabo Verde vai reafirmar isto, através do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, esta quinta-feira, numa cimeira extraordinária da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que se realiza por vídeo-conferência.
Luís Filipe Tavares fez essas considerações ao ser instado, à margem da assinatura do acordo alimentar com o Japão, a pronunciar-se sobre o golpe de Estado registado no Mali que derrubou o Presidente, Ibrahim Boubacar Keita (IBK), e o seu primeiro-ministro, Boubou Cissé.
Questionado se Cabo Verde vai reconhecer as novas autoridades malianas, o governante afirmou que a posição do País vai ser aquela que defende a CEDEAO e a comunidade internacional, acrescentando que, depois da cimeira, Jorge Carlos Fonseca fará uma comunicação à imprensa.
Ibrahim Boubacar Keita, no poder desde 2013, anunciou nas primeira horas desta quarta-feira, a sua demissão e a de todo o Governo, numa declaração transmitida pela televisão nacional, após ter sido deposto por um golpe militar, segundo agência de notícias France-Presse (AFP).
Na declaração, disse que tinha trabalhado desde a sua eleição para dar a volta ao país e “dar corpo e vida” ao exército maliano que enfrenta a violência ‘jihadista’ há anos.
Apresentado como “presidente cessante”, Keita referiu-se depois às “várias manifestações” que têm vindo a exigir a sua partida há vários meses, afirmando que “o pior aconteceu”.
“Se hoje pareceu bem a alguns elementos das nossas forças armadas concluir que tudo deveria terminar com a sua intervenção, será que tenho realmente escolha? Não tenho outra escolha senão submeter-me, porque não quero que seja derramado sangue para me manter [no cargo]”, disse.
Os golpistas, segundo um correspondente da AFP, foram recebidos em Bamako com aplausos pelos manifestantes que exigiam a demissão de Ibrahim Boubacar Keita.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, condenou o golpe de Estado, apelando à CEDEAO, à Organização das Nações Unidas e “toda a comunidade internacional” para que “conjuguem, eficazmente, os seus esforços para evitar o uso de força” no Mali.
Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alertou que um golpe de Estado “nunca é a solução” para as divergências num país.
“A União Europeia acompanha de perto o que se passa no Mali. Um golpe de Estado nunca é a solução para uma crise, por mais profunda que seja”, escreveu Michel no Twitter.
Os Estados Unidos da América (EUA), através do seu enviado ao Sahel, Peter Pham, opuseram-se a qualquer mudança no Governo que não cumpra a Constituição maliana.
“Estamos a seguir com preocupação o desenvolvimento da situação no Mali. Os EUA opõem-se a qualquer mudança de Governo extra-constitucional, quer seja pelos que estão nas ruas, quer pelas forças de defesa e segurança”, escreveu Pham na plataforma Twitter.
Um dos catalisadores da actual crise política no Mali foi a invalidação, no final de Abril, de resultados das eleições legislativas pelo Tribunal Constitucional, incluindo cerca de uma dezena em favor da maioria parlamentar.
A decisão, aliada a factores como o clima de instabilidade e insegurança sentido nos últimos anos no centro e norte do país, a estagnação económica e a prolongada corrupção, instigaram várias manifestações contra IBK.