Eurico Monteiro fez essa constatação quando falava no colóquio “25 de Abril, 50 anos a construir a paz”, que decorreu no auditório da Câmara Municipal do Seixal, promovido pelo Movimento de Municípios pela Paz, sobre o tema “Colonização, soberania e desenvolvimento”.
No final, em declarações à Inforpress, o embaixador, que abordou a perspectiva de Cabo Verde sobre “Soberania e desenvolvimento a partir do processo de independência”, destacou a “estreita” ligação entre os processos de luta contra o fascismo em Portugal e em Cabo Verde.
“Eu quis apenas salientar a circunstância de nós termos, também, tido no passado uma luta comum, seja daqui em Portugal, do povo português, libertando-se do fascismo, do regime autoritário, e Cabo Verde, simultaneamente, também lutando para se libertar do fascismo e para construir um país em uma luta pela independência”, ressaltou.
O diplomata destacou a importância de recordar as dificuldades enfrentadas por ambos os países durante os períodos de colonização e autoritarismo, enfatizando os desafios enfrentados por Cabo Verde, incluindo condições naturais adversas e o abandono por parte das autoridades coloniais, que resultaram em fome e emigração forçada.
“Quis passar essa imagem que também temos causas próprias de um país que foi martirizado, de uma região que foi muito castigada, sobretudo, pelo abandono, com condições naturais extremamente difíceis, de seca, que passamos muita fome e muita gente morreu pela fome. Fomos forçados a emigrar para as roças de São Tomé para tentar trabalhar para sobreviver e emigrar também para sobreviver, causado, fundamentalmente, pelo abandono das autoridades coloniais”, ressaltou.
Eurico Monteiro sustentou a relevância de manter viva a memória desses momentos “dolorosos” da história, para evitar que se repitam no futuro, tendo mencionado a importância de homenagear lugares emblemáticos, como o Campo de Concentração do Tarrafal, onde pessoas de diversas nacionalidades, incluindo cabo-verdianos, portugueses, angolanos, moçambicanos e guineenses, sacrificaram suas vidas em prol da independência e liberdade.
“Nós tínhamos todas as razões do mundo para querer assumir o nosso próprio destino, para construir a nossa própria pátria, para dar oportunidade às pessoas (…). Convém sempre deixar viva esta memória e, às vezes, estar a honrar isto, em parceria com Portugal, torna ainda mais viva a memória do Campo de Concentração do Tarrafal”, considerou.
Neste sentido, Eurico Monteiro lembrou que uma vez o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, realçou que quando se está a falar do 25 de Abril, também se fala de processos de luta para a independência nacional.
“Essas duas realidades estão muito interligadas e é por isso que vamos tendo aqui e acolá várias acções em comum. Significativamente, também na comemoração do dia de libertação dos presos políticos do Campo de Concentração do Tarrafal, com a presença do Presidente da República português e das altas autoridades e o Presidente da República [José Maria Neves] também virá a Portugal participar nas cerimónias do 25 de Abril”, contou.
No painel com o embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, esteve o coronel e ex-combatente português José Baptista Alves.
O colóquio “25 de Abril, 50 anos a construir a paz” é uma iniciativa organizada em parceria com o Conselho Português para a Paz e Cooperação e integra as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril no concelho do Seixal.
Para além do painel que participou o embaixador, o colóquio teve um outro painel sobre “Solidariedade e cooperação internacional” que abordou a questão da justiça social e o combate a todas as formas de discriminação, o acolhimento e a integração de imigrantes, a cooperação internacional e a solidariedade entre os povos.