Foi uma vitória categórica e inédita do PAICV. O partido liderado por Rui Semedo tornou-se [pela primeira vez] a maior força autárquica de Cabo Verde, com mais do dobro das câmaras do MpD. 15-7, resultado final.
Claríssimo
A capital, primeiro. Um dos grandes vencedores da noite, Francisco Carvalho (PAICV) saiu reforçado da ida às urnas e prepara-se para iniciar um segundo mandato à frente da Câmara da Praia, desta feita com condições políticas mais favoráveis.
Na emissão especial da Rádio Morabeza, a politóloga Risanda Soares antecipou uma “mudança de chip”.
“O cenário é diferente. Tínhamos um Francisco que também estava fragilizado dentro da câmara, porque não teve o apoio de alguns vereadores do próprio PAICV e um deles (Samilo Moreira) até quis concorrer como independente. Agora, ele tem todos os vereadores da sua ala e também a assembleia”, evidenciou.
Com maioria segura e depois de derrotar o candidato do MpD por mais de 26 pontos percentuais de diferença, Francisco Carvalho está numa posição de força. Para a também professora da Universidade do Mindelo, isso deve fazer o governo alterar a estratégia de relacionamento com a autarquia praiense.
“Os bloqueios de antes estavam sustentados na situação de que ele estaria a incumprir a lei, ao fazer votar propostas sem aprovação da assembleia. Há que mudar o chip”, observou.
Também presente no estúdio da rádio, a antropóloga Celeste Fortes notou que “Francisco saiu altamente reforçado” e que o resultado alcançado lhe permitirá seguir caminho de forma “um pouco mais calma” e “mais organizada”.
Sobre Abraão Vicente (MpD), que perdeu uma eleição que não chegou a ser especialmente disputada, a docente da Universidade de Cabo Verde espera para ver.
“[A derrota] não significa ‘a morte política de Abraão Vicente’, até porque não podemos negar que o seu capital político dentro da MpD é muito forte”, declarou.
Vira o disco… e toca o mesmo
Em São Vicente, a ida às urnas ditou a repetição da maioria relativa que tanto deu que falar entre 2020 e 2024, embora com uma alteração na correlação de forças. Augusto Neves voltou a vencer e o MpD assegurou quatro mandatos. O PAICV, com António Duarte ‘Patcha’ como cabeça-de-lista, tornou-se a segunda força política autárquica da ilha, com três mandatos. Na sexta contenda de António Monteiro, a UCID perdeu força face há quatro anos e acabou relegada a terceiro partido, com dois mandatos.
Celeste Fortes não escondeu o seu cansaço perante a aparente incapacidade de diálogo e entendimento entre os protagonistas da política local.
“Não podemos deixar que se repitam quatro anos de não gestão. Não houve gestão, mas por culpa de todos os partidos”, comentou.
Risanda Soares pediu “maturidade” política.
“É o que se espera de quem tem décadas de experiência política partidária. Pelo menos, esperemos que se respeite a decisão do eleitorado, que trabalhem em conjunto”, observou.
Surpresas e confirmações
De norte a sul do país, foram sete os municípios que mudaram de cor – todos no mesmo sentido, de verde para amarelo. Na emissão especial da Rádio Morabeza, a antropóloga Celeste Fortes destacou Porto Novo e a vitória de Elisa Pinheiro, que garantiu para o PAICV uma câmara que desde 2016 era liderada por Aníbal Fonseca (MpD).
“Não consigo dizer o que terá acontecido a Aníbal Fonseca, mas acho que ele não estava à espera, nem o MpD estava à espera. É interessante ver como foi uma campanha [do PAICV] muito discreta, muito porta-a-porta, muito pedagógica, que funcionou”, realçou.
A comentadora Morabeza estará particularmente atenta a Tarrafal de São Nicolau, depois da vitória de Neivo Araújo (MpD), mas sem maioria. Com dois mandatos, os mesmos que o PAICV, o MpD terá de negociar com a oposição, da qual também fará parte o até agora presidente, José Freitas de Brito, que, preterido pelo Movimento para a Democracia, avançou com uma candidatura independente (MITSN), através da qual conseguiu eleger-se vereador.
“Tarrafal de São Nicolau terá gestão partilhada e espero que não sigam o exemplo de São Vicente”, apelou.
No Fogo, onde o PAICV fez o pleno ao vencer nas três câmaras da ilha, o desempenho de Nuías Silva em São Filipe mereceu nota particular de Celeste Fortes.
“O capital de Nuías capitalizou as outras câmaras municipais. A própria figura de Nuías Silva. Não se viu o Nuías a acusar o governo de empatar a gestão, sempre a tirar vantagens dessa relação. É um político muito inteligente, que não se vitimizou”, sublinhou.
A reconfirmação de Cláudio Mendonça (PAICV) na Boa Vista, a vitória de Elisa Pinheiro (PAICV) em Porto Novo, ou o triunfo de Valdino Brito (PAICV) no Maio foram notas de destaque para a politóloga Risanda Soares, que também realçou a aposta falhada do MpD em Evandro Monteiro (Santa Catarina do Fogo), negando a Alberto Nunes a possibilidade de disputar um terceiro mandato. “Falhou redondamente”, disse.
Sobre Santa Catarina de Santiago, o painel Rádio Morabeza foi unânime em como a vitória de Armindo Freitas (PAICV) começou a ser desenhada no instante em que o MpD preteriu a actual presidente da edilidade, Jassira Monteiro, em benefício de Jacinto Horta.