Documento base do Plano Nacional de Leitura deve estar pronto até final do ano

PorChissana Magalhães,21 abr 2018 11:11

​Todos são desafiados a colaborar na edificação do Plano Nacional de Leitura. Foi a mensagem repetida pelos principais intervenientes da 1ª Conferência Internacional organizada pelos parceiros que trabalham na criação do documento e definição da “estratégia nacional” que, nas palavras do ministro Abraão Vicente, está longe de limitar-se a criar uma lista de livros de leitura obrigatória.

Em Setembro do ano passado, a equipa conjunta do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas e do Ministério da Educação reuniam-se pela primeira vez para começar a esboçar aquelas que seriam as primeiras acções no longo caminho que há a fazer até dotar o país de um Plano Nacional de Leitura à sua medida. Esse grupo de trabalho, coordenado pela Biblioteca Nacional, pretendia concretamente discutir e traçar as estratégicas, os objectivos e demais aspectos do Plano, entre os quais definir um calendário de preparação e conclusão do documento orientador e do início da implementação do PNL.

Meses depois, em Dezembro de 2017, o Governo viria a anunciar formalmente a intenção da criação de um Plano Nacional de Leitura, com um conjunto de estratégias e acções para aumentar os níveis de literacia e os hábitos de leitura e escrita no país.

O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas define a conferência de ontem como “o ponto inicial para a concretização do primeiro esboço” do PNL e diz acreditar que até ao final deste ano será possível ter um documento base para socializar com os professores e os chamados mediadores de leitura (que irão participar na selecção dos livros e orientar formações aos professores).

“A par disso, temos uma política de mobilização e enriquecimento das bibliotecas municipais, porque não vale a pena ter planos municipais sem acesso ao livro e sem que as bibliotecas municipais e escolares tenham livros. Ao mesmo tempo em que construímos o Plano-documento, já estamos a concretizá-lo através de acções efectivas de formação e através da concretização das próprias bibliotecas” explica Abraão Vicente que avança ainda que a actualização do PNL será feita anualmente, introduzindo novos títulos, livros nacionais e livros pedagógicos.

Vicente disse ainda que “o objectivo principal nos próximos meses é conseguir introduzir no sistema educativo uma lista obrigatória de livros, por ciclo escolar”. Contudo, volta alertar que o PNL “mais do que uma lista de livros será uma estratégia nacional para que a promoção da leitura seja intensa e intencional e abarque todos os sectores, sendo que o mais importante é o sistema educativo que terá, de facto, um papel essencial na concretização do projecto, já que é o Ministério da Educação quem tem a tutela do ensino e da divulgação das práticas de leitura e de literacia”.

A experiência portuguesa

Convidada a proferir a conferência magna do evento, Teresa Calçada – Comissária do Plano Nacional de Leitura de Portugal – referiu ao Expresso das Ilhas que o seu país tem uma experiência já de uma década de implementação do seu PNL, “e desde o ano passado iniciamos uma nova década de PNL a que chamamos PNL 2027. De algum modo isto testemunha que a gente percebe – e politicamente também se perece – que isso [um PNL] não se faz num ápice, que é preciso tempo e políticas duradouras para levar a bom termo esta missão de aumentar os níveis e os hábitos de leitura, e as literacias em geral”, explicou.

Em tempos responsável máxima da rede de bibliotecas escolares de Portugal, Calçada ressalva que o país tinha a seu favor [aquando da criação do PNL] o facto de já ter uma rede de bibliotecas públicas e, em especial, uma rede de bibliotecas escolares [composta por mais de duas mil unidades] e que foram o suporte do PNL.

“Ou seja, sabemos que para montar uma acção que valorize socialmente a leitura e ajude a melhorar os hábitos dos leitores precisamos de recursos e de infra-estruturas. O facto de haver esse apoio [as bibliotecas] cria uma condição muito boa para que um PNL se venha a afirmar para toda a sociedade”.

Sobre o tema que deu o tom à conferência, a especialista partilha da ideia de “fazer crer à sociedade que cada um de nós tem nesse propósito um papel diferente de parceria, de colaboração, e o Governo chamou a si essa responsabilidade de política pública: a afirmação da leitura como um bem que tem que ser protegido, valorizado e incrementado, com normas, com regras, compromissos e impactos definidos.

Já Abraão Vicente deixa “um apelo a que todas as instituições incorporem este desafio como próprio delas”.

Um dos muitos professores a acompanhar de perto a conferência foi a professora do ensino básico Ana Mendonça, que diz já ter na sua rotina lectiva a prática contínua de promover junto aos seus alunos o livro e o hábito da leitura.

“A minha expectativa é grande. Neste momento sinto-me feliz de ver iniciar este processo, esta dinâmica de fazer isto pelas nossas crianças”, diz. E aponta, em jeito de sugestão, a necessidade de se escolherem livros que possam integrar a bibliografia de uma disciplina a denominar Educação Literária. E, repetindo o também dito pelo ministro da Cultura, frisa a necessidade de se valorizar mais os autores nacionais.

A escola como lugar privilegiado da implementação do PNL foi também defendida por Teresa Calçada.

“As famílias têm um papel, mas quando as famílias não são muito letradas, se a escola não ocupa este papel, a inclusão e a equidade não se realizam. Tem que haver nas escolas alguns kits, algum núcleo duro de livros, embora quando falo de leitura fale de qualquer suporte. Mas, obviamente, o contacto com o livro impresso nas crianças é extraordinariamente importante”, conclui, não sem antes voltar a defender a necessidade de uma atitude política de colocar a leitura e a cultura da leitura no centro das escolas, em particular, e alargá-lo depois às sociedades.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 855 de 18 de Abril de 2018.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Chissana Magalhães,21 abr 2018 11:11

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  21 abr 2018 18:04

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.