Os cinco grupos que vão disputar o Carnaval Mindelense já estão na fase final de preparação para os desfiles dos dias 12 e 13.
“África mãe da humanidade” é o tema que o grupo Vindos do Oriente, campeão em título, está a trabalhar este ano. Josina Freitas, da direcção do grupo diz que, o objectivo é valorizar o continente africano.
“E mostrar, realmente, a sua força, mostrar como também influenciou o mundo novo”, explica.
Vindos do Oriente leva para as ruas do centro histórico três carros alegóricos e um total de 12 alas. Os detalhes são mantidos em segredo, mas Josina Freitas promete “harmonia” no desfile.
Relativamente à realeza, mestre-sala e porta-bandeira, “esses já estão todos definidos”. Kiddy Bonz será o rei do carnaval do grupo da ‘Morada’.
Monte Sossego
No maior bairro da cidade os ensaios e trabalhos decorrem a bom ritmo. Para o Carnaval 2018, o Grupo Carnavelsco de Monte Sossego escolheu como tema “As grande civilizações”. O presidente, António Duarte, avança que as estruturas estão na fase final de montagem.
“Já iniciámos a fase de acabamentos. As nossas fantasias estão a ser ultimadas, os ensaios estão a decorrer normalmente, já com a estratégia de desfile consolidada. Está tudo preparado ao mínimo detalhe para atingirmos o nosso objectivo, que é voltarmos a ser campeões do Carnaval de São Vicente”, promete.
Três carros alegóricos, 1.600 figurinos, 16 alas. Números expressivos, anunciados pela organização.
“Cada ala vai tratar uma civilização”, revela António Duarte. O desfile será ao ritmo de “Nação Motsu”, de Constantino Cardoso.
Flores de Mindelo
Este ano, Flores de Mindelo decidiu relembrar as brincadeiras tradicionais de Cabo Verde. Bem a propósito, a presidente do grupo, Ana Soares, diz que o enre
do deste ano é “Duna, duna, trina, catarina berimbau são deus”.
“Temos três carros alegóricos e dois destaques no chão”, avança.
Ana Soares assume um pequeno atraso nos preparativos, mas promete que tudo estará pronto a tempo e que as 14 alas vão ajudar a abrilhantar o Carnaval de Mindelo.
“Contamos ter entre 400 e 600 foliões. Temos uma rainha no primeiro andor, um rei no segundo e uma outra rainha no terceiro”, diz.
A música “Brincadeira de Outrora”, de Vadi Soares, fala das brincadeiras tradicionais, numa época em que as crianças parecem mais preocupadas com a tecnologia.
Cruzeiros do Norte
De Cruz, outro grupo em blemático, o Cruzeiros do Norte. Para as artérias da cidade, a direcção espera levar 800 figurantes e três carros alegóricos, sob o lema “Vencer as misérias humanas é sobreviver”.
“Trazemos coisas diferentes, esperamos que o público, em primeiro lugar, goste do nosso trabalho e que consigamos conquistar o júri. Estamos a lutar contra o tempo para ter três carros alegóricos de grande nível, com qualidade, e estamos a ver se conseguimos ainda apresentar alguma surpresa”, comenta Jailson Évora, presidente do Cruzeiros do Norte.
Os ensaios das dez alas que compõem o cortejo do grupo de Cruz estão a decorrer a bom ritmo, no polivalente do bairro. O grupo tem 10 alas. João Carlos Silva, que também assina a música, será mais uma vez o mestre-sala.
Samba Tropical
Não entra para as contas oficiais, mas continua a oferecer um dos momentos altos da festa do Rei Momo mindelense. Segunda-feira à noite, a Escola de Samba Tropical põe o pé no asfalto e enche a cidade de ritmo e cor. Cesária Évora será homenageada.
David Leite, presidente do grupo, conta que está tudo a “noventa e nove por cento”.
“A partir desta semana, começamos a receber os emigrantes da Holanda e Estados Unidos, portanto, estamos mesmo na recta final, à espera do dia 12. Este ano, decidimos fazer uma homenagem a uma grande figura de São Vicente, Cesária Évora”.
“30 anos de Escola de Samba Tropical, São Vicente veste-se de gala para receber Cesária Évora, sua vida e sua história” é o enredo que dá o mote para o desfile, contado em torno da vida da ‘diva dos pés descalços’.
Este ano, o grupo coloca na estrada apenas um carro alegórico. “Temos toda a beleza, o brilho, o glamour característico da Escola de Samba Tropical, mas este ano a nossa aposta é emocionar o público com o nosso projecto e o carro vai causar este efeito”, assegura David Leite.
Para lá da festa
De ano para ano, consolida-se a percepção de que o Carnaval de São Vicente está a ganhar dimensão e a movimentar cada vez mais a economia local.
A Liga do Carnaval, mudanças no regulamento, gestão de direitos de imagem, aumento dos lugares sentados e pagos no centro da cidade, uma nova forma de atribuição de subsídios por parte do Estado. Eis algumas inovações introduzidas no Carnaval de 2018. A partir de agora, os interessados em transmitir o entrudo mindelense, passam a negociar com a Liga o preço a pagar para o efeito. Também o júri deixa de ser anónimo.
Os cinco grupos oficiais consideram que são passos importantes para a profissionalização do evento.
António Duarte, presidente do grupo Monte Sossego, entende que o carnaval mindelense está a caminhar para a sua sustentabilidade.
“Isso tudo vem no sentido do aumento qualitativo do Carnaval de São Vicente que, este ano, não vai ser do nível do Carnaval que queremos, mas já vai ser melhor que o de 2017”, observa.
“A criação da Liga vem exactamente neste sentido: a criação da sustentabilidade do Carnaval. Os dirigentes dos grupos têm sofrido muito, têm investido muita energia pessoal para que o Carnaval aconteça na cidade do Mindelo. A intenção é exactamente aliviar a carga pessoal dos dirigentes”, acrescenta.
O presidente do Grupo Samba Tropical, David Leite, fala em evolução e na criação de um produto turístico.
“Hoje em dia, em termos de patrocínio, é muito difícil conseguir empresas para financiar o orçamento de um grupo. Então, os grupos têm que se organizar de forma alternativa, para trazer receitas para o grupo. A Liga surgiu nesta perspectiva de criar uma união entre os grupos e começar a apostar nos direitos de imagem”, realça.
Josina Freitas, do Vindos do Oriente, aplaude as novidades mas sem deixar de realçar que é importante salvaguardar a genuinidade do Carnaval da ilha. “É bom termos em mente as características do nosso Carnaval, para não perdermos aquilo que o define”.
Com os hotéis cheios (alguns há vários meses), os restaurantes com mais movimento, os voos com poucos lugares disponíveis e as empresas de aluguer de automóveis com bastante procura, a Liga quer arranjar formas de fazer chegar os ganhos aos verdadeiros protagonistas: os grupos.
“As pessoas ainda não estão a sentir, mas depois do Carnaval vão ver”, antecipa Jailson Évora, do Cruzeiros do Norte, optimista com o que aí vem.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 845 de 07 de Fevereiro de 2018.