Em 2016, mais de 472 milhões de pessoas, em todo o mundo, tinham o espanhol como língua materna. O espanhol é a segunda língua materna do mundo, por número de habitantes, atrás do chinês mandarim.
A percentagem de população mundial que fala espanhol como língua nativa está a aumentar. Igualmente, são cada vez mais aqueles que procuram aprender a língua: acima de 21 milhões, há dois anos, de acordo com as contas do Instituo Cervantes.
Que papel deve ter a Real Academia Espanhola neste contexto em que a língua nasce em Espanha mas já não é apenas espanhola?
Estamos totalmente integrados na Associação de Academias de Língua Espanhola. É fundamental o trabalho que fazemos, com uma atitude de absoluta equiparação. Ou seja, defendemos que o espanhol é uma língua multicêntrica. Não é uma língua que tenha um centro e o resto seja periférico. Para nós, o espanhol é uma língua que tem muitos centros e todos estão ao mesmo nível. Os trabalhos que fazemos são pan-hispânicos, no sentido em que são consensualizadas pelo conjunto de todas as academias.
No mundo de hoje, também há concorrência entre línguas?
Eu não vejo as coisas como uma competitividade. Concretamente, posso dizer-lhe que não temos essa atitude. A nós, parece-nos muito bem que o inglês ocupe a posição que ocupa, que é um fruto da II Guerra Mundial. O inglês ganhou a Guerra. Antes, a língua da ciência era o alemão e a língua da diplomacia e dos negócios era o francês.
Não estamos obcecados em competir com o inglês, nem com o chinês, ou com o português, que consideramos uma língua irmã, muito próxima. Existe um organismo que é a Secretaria Ibero-Americana que que gere as cimeiras dos países que falam espanhol e português e eu colaboro muito com essa secretaria, temos um entendimento franco e sincero com o que é a lusofonia.
A Academia criou recentemente um dicionário online. A abertura àquilo que é a realidade do mundo actual, digital, é importante?
Aos académicos de hoje coube-nos uma refundação da Academia para ser a Academia dos nativos digitais. Depois de termos servido aos falantes de espanhol durante 300 anos, agora estamos num ciclo novo, uma civilização nova e a Academia, se não quer desaparecer, tem de estar à altura destes desafios, pensando na noção de nativos digitais. Por nativos digitais entendemos todas as pessoas que nasceram já na era da Internet. A Internet popularizou-se a partir de 1995, o quer dizer que os nativos digitais já têm 22, 23 anos e para esta gente não faz sentido falar de novas tecnologias, porque para eles não são novas, são as tecnologias que tiveram desde sempre.
Adaptar-se ou morrer. Uma Academia que não esteja à altura destes desafios acaba por se converter numa espécie de clube de sábios mas sem nenhuma influência na sociedade.
A língua é dinâmica, está em permanente mudança. Como é que se conciliam as posições mais conservadoras e ortodoxas com aquelas que são mais progressistas?
O ponto de equilíbrio é o que procuramos praticar. A chave está numa ideia muito clara que é a seguinte: as línguas evoluem continuamente e nessa evolução quem toma as decisões são os falantes. As academias não têm autoridade, nem poder para impor nada em relação a uma língua. A Academia tem de ir sempre atrás da própria evolução linguística. O que tem de ser é um pouco prudente.
O Expresso das Ilhas e a Rádio Morabeza estão em Tenerife e viajam a convite do Campus África.