Desde a sua primeira edição, em 2010, o festival de jazz de Mindelo integra na sua programação uma exposição de fotografia. Às vezes, de um fotógrafo em particular e outras, mostras colectivas.
Desta coube a vez a Doca, ele que já foi algumas vezes o fotógrafo oficial do evento – registando as imagens dos concertos, dos artistas que marcam presença e do ambiente envolvente. Este ano a sua participação é como fotógrafo convidado para a exposição do programa Mindel Summer Jazz 2018.
São onze as fotografias da mostra “Improvisações Visuais”, patentes no Centro cultural do Mindelo de forma inusual, num formato de instalação artística que tem a mão do curador da exposição, o artista plástico Bento Oliveira.
“São fotos do planalto Norte, em Santo Antão, onde tento fazer uma ponte entre o agreste do lugar e a harmonia das duas cores predominantes nesse espaço. A condição climatérica desse mesmo espaço faz-me pensar em quantas improvisações não serão precisas para se habitar no mesmo”, diz do seu trabalho o fotógrafo.
Há poucos anos em entrevista, Doca já admitira que ainda que não tenha um tema de eleição para o seu trabalho como fotógrafo não sente atracção por paisagens verdes, o famoso cartão postal bucólico, considerando mais forte até a paisagem seca característica das ilhas. Daí não ser surpresa que traga de Santo Antão, a ilha de verdejantes montanhas e vales, imagens tão incomuns.
O curador da mostra, por seu lado, escreveu na sinopse sobre a mesma uma apresentação mais poética:
“Entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, uma paisagem insular ao sul do Saara... O olhar sonda a magnitude agreste da ilha de Santo Antão, e lá para norte, que é Sul, extasia seu magnetismo cromático de inúmeras escalas poéticas. Helder Doca faz um movimento sentimental na geografia da paisagem. Os alísios sopram sonoros nos ocres do imaginário dos montes”.
As fotografias de “Improvisações Visuais” parecem inspirar palavras. O colega fotógrafo Zé Pereira – este ano o fotógrafo oficial dos concertos do MSJ – também registou algumas sobre a exibição, que denomina de “partitura que conforma uma peculiar exposição fotográfica e dos quadros dos quais emanam notas musicais de paisagens agrestes mas não menos melódicas. Alma fotográfica, a soulvision diríamos, aquela a que o fotógrafo Hélder Doca já nos habituou e cujos acordes, são verdadeiramente seus”.
O recurso a expressões do universo musical para descrever as fotografias não são por acaso e ajustam-se ao slogan que acompanha o título da exposição: “Ben uvi um Jazz”.
O Mindel Summer Jazz chega ao fim já amanhã. Mas quem quiser continuar a “uvi” jazz pode visitar a exposição “Improvisações Visuais” no Centro Cultural de Mindelo até 18 de Agosto.