​Recomendação para ouvir: Quando Marcelo (e o seu quinteto), Humbertona e a música se encontram

PorPaulo Lobo Linhares,17 nov 2018 17:36

As décadas de 60 e 70 foram marcantes para a música Cabo-verdiana. As canções de protesto, face à época sócio-política que se vivia, começaram por se fazer sentir. Vários foram os nomes de letristas e músicos que emprestaram o que tinham de coragem e amor pela música para nascerem obras discográficas, de relevada importância.

Nessa altura, talvez já para os finais da década, a produção nacional concentrava muito do seu palco nas novas labels que iam surgindo na Holanda e Portugal. Quantos vinis produzidos fora não terão ficado sem conhecer as nossas ilhas?

Desta altura, é impossível não focar o nome da label Morabeza Records e do seu mentor, o incontornável Djunga D’Biluca.

Nessa editora, surgia um nome que viria a gravar obras sublimes da nossa música, e que já mereceu a mais humilde atenção desta coluna, de forma repetida – o magnifico instrumentista, Humbertona.

Ainda na década de 60 Humbertona estava fora de Cabo Verde a estudar, e o violão do nosso mestre conquistava a atenção de outros ouvintes, que não Cabo-verdianos. Por entre muitos outros a música do arquipélago e de Humbertona cativou a admiração do violonista brasileiro Marcelo Melo que mais tarde viria a formar o Quinteto Violado, nome referencial da música brasileira. O interesse foi tal que Melo grava dois trabalhos com as sonoridades vinda das ilhas: primeiro o histórico Stora Stora onde Humbertona participa e no final dos anos 80, já com o quinteto, grava o disco “Ilhas de Cabo Verde” onde temas como “Nhonton Scaderode”, ou “Nho Miguel Pulnore” eram parte do repertório.

Neste disco o tema instrumental “Facada”, tipo de homenagem a uma residência universitária, onde Marcelo Melo terá travado laços de amizade com Humbertona, uma amizade duradoura, que ultrapassou distâncias e tempo.

Pois, no final desta semana, num palco improvisado, porém intimista e recheado de emoção – para quem assistiu e para os músicos – tive o privilégio de presenciar o encontro de Marcelo Melo e Humbertona, cuja distância os separava há décadas, apesar de…como acima referi …nunca terem deixado de estar próximos…pois a amizade que os unia era maior.

O que podíamos ver, o que nos era oferecido, o que ouvíamos e nos deleitava, o que construíamos no momento (se é que o conseguíamos…) com base no que o percurso e história comum dos dois músicos - era absolutamente arrebatador.

Assim, em estilo de conclusão, acrescentava que, para além do efeito-amizade, que manteve sempre perto Humberto e Marcelo havia ainda algo a acrescentar a esta fórmula que conseguiu manter atada com linhas bem fortes a relação dos dois … com toda a certeza – o inigualável poder da música!... essa forma de arte a que tanto nos rendemos.

Para proposta o disco “ Ilhas de Cabo Verde” do Quinteto Violado, onde Marcelo leva o que aprendeu a admirar, com Humbertona para o grupo que viria a ser a sua grande referência musical.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 885 de 14 de Novembro de 2018.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,17 nov 2018 17:36

Editado porClaudia Sofia Mota  em  10 ago 2023 16:01

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