Nessa altura, talvez já para os finais da década, a produção nacional concentrava muito do seu palco nas novas labels que iam surgindo na Holanda e Portugal. Quantos vinis produzidos fora não terão ficado sem conhecer as nossas ilhas?
Desta altura, é impossível não focar o nome da label Morabeza Records e do seu mentor, o incontornável Djunga D’Biluca.
Nessa editora, surgia um nome que viria a gravar obras sublimes da nossa música, e que já mereceu a mais humilde atenção desta coluna, de forma repetida – o magnifico instrumentista, Humbertona.
Ainda na década de 60 Humbertona estava fora de Cabo Verde a estudar, e o violão do nosso mestre conquistava a atenção de outros ouvintes, que não Cabo-verdianos. Por entre muitos outros a música do arquipélago e de Humbertona cativou a admiração do violonista brasileiro Marcelo Melo que mais tarde viria a formar o Quinteto Violado, nome referencial da música brasileira. O interesse foi tal que Melo grava dois trabalhos com as sonoridades vinda das ilhas: primeiro o histórico Stora Stora onde Humbertona participa e no final dos anos 80, já com o quinteto, grava o disco “Ilhas de Cabo Verde” onde temas como “Nhonton Scaderode”, ou “Nho Miguel Pulnore” eram parte do repertório.
Neste disco o tema instrumental “Facada”, tipo de homenagem a uma residência universitária, onde Marcelo Melo terá travado laços de amizade com Humbertona, uma amizade duradoura, que ultrapassou distâncias e tempo.
Pois, no final desta semana, num palco improvisado, porém intimista e recheado de emoção – para quem assistiu e para os músicos – tive o privilégio de presenciar o encontro de Marcelo Melo e Humbertona, cuja distância os separava há décadas, apesar de…como acima referi …nunca terem deixado de estar próximos…pois a amizade que os unia era maior.
O que podíamos ver, o que nos era oferecido, o que ouvíamos e nos deleitava, o que construíamos no momento (se é que o conseguíamos…) com base no que o percurso e história comum dos dois músicos - era absolutamente arrebatador.
Assim, em estilo de conclusão, acrescentava que, para além do efeito-amizade, que manteve sempre perto Humberto e Marcelo havia ainda algo a acrescentar a esta fórmula que conseguiu manter atada com linhas bem fortes a relação dos dois … com toda a certeza – o inigualável poder da música!... essa forma de arte a que tanto nos rendemos.
Para proposta o disco “ Ilhas de Cabo Verde” do Quinteto Violado, onde Marcelo leva o que aprendeu a admirar, com Humbertona para o grupo que viria a ser a sua grande referência musical.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 885 de 14 de Novembro de 2018.