Para além da sua faceta oficial, a lírica e a música deverão traduzir a ligação ou sentimento de um povo com o seu país.
O importante é a tal identificação entre as duas partes, onde sentimos que a música nos pertence; que haja emoção, exaltação interior, enfim…ser nosso e apropriarmo-nos da musica, também pelo facto dela nos conquistar.
Acabo de receber a versão do nosso hino – “ Cântico da Liberdade “ interpretada pelo que para mim é uma dos nossos grandes guitarristas – Hélder Rodrigues, ou Pelada para muitos.
Criativo e imaginativo, é dono de um virtuosismo impressionante o que lhe dá a liberdade para abordagens menos comuns. Falando em liberdade, Pelada, aproveitou este dia - o da Liberdade - para lançar o seu sentir do hino originalmente interpretado num dedilhar emotivo da guitarra clássica, usando a versão eléctrica do instrumento para o fôlego final do tema.
Já estamos habituados a ver a guitarra clássica em palcos onde a nobreza e o distinto se misturam.
Também é frequente usar o instrumento para traduzir emoções, louvores e estados de elevação musical.
Rodrigues, tendo presente o que acima foi referido, ofereceu-nos a sua própria visão do tema que foi escrito e musicado por Amílcar Spencer Lopes e Adalberto Silva.
Aqui, o guitarrista arriscou (indo buscar todo o potencial acima referido das cordas) fazendo-o não só por ter acrescentado a sua personalidade musical, mas também por ter criado uma nova versão de considerável categoria do hino do país que lhe pertence.
Conforme disse, Hélder arriscou, a música ganhou, e Cabo Verde é agora traduzido musicalmente pelas cordas de um envolvente violão.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 895 de 23 de Janeiro de 2019.