Esta audição visa escolher 38 bailarinos africanos. Os escolhidos terão a tarefa de remontar a peça de Pina Bausch, depois a peça será apresentada em vários países.
Os bailarinos cabo-verdianos candidataram-se e foram seleccionados. Nos primeiros dias vão participar nos workshops, que é uma forma de audição e no final será escolhida uma equipa que vai montar a peça de Pina Bausch.
Além de coreógrafa, dançarina, pedagoga de dança, Pina Bausch foi directora de balé alemã. Ficou conhecida principalmente por contar histórias enquanto dançava as suas coreografias, que eram baseadas nas experiências de vida dos bailarinos.
De Cabo Verde, dois bailarinos do grupo Raiz di Polon partem esta quarta-feira, 11, para participar no evento. Ansiosos e cheios de vontade de aprender mais, é assim que os dois bailarinos disseram estar, logo no início da nossa conversa.
Para Djamilson Barreto, mais conhecido por Nuno, será importante participar deste evento. O bailarino já tem uma larga experiência no mundo da dança, já apresentou várias peças a solo e tem ensinado aos mais novos esta arte cénica.
“Para nós é importante participar, tendo em conta que estarão nesta audiência bailarinos de vários países africanos. Além de participar, o nosso objectivo é passar para podermos remontar essa peça”, assegura.
“Estamos muito motivados e contentes, porque fomos seleccionados para participar deste evento. Só nos resta chegar lá e saber o quê que vai acontecer”, reforça Djamilson Barreto.
A iniciativa é da Fundação Pina Bausch e Ecole des Sable, que pela primeira procuram bailarinos africanos para remontar uma peça de Pina Bausch. Djamilson Barreto acredita que os organizadores deste evento querem conhecer o potencial dos bailarinos africanos.
“Como bailarinos também queremos estar lá para aprender, conhecer e ganhar experiência a nível da dança, para depois partilhar com os nossos colegas em Cabo Verde, porque no país temos muita carência”, frisa.
Na opinião de Djamilson Barreto, Cabo Verde precisa de bailarinos com competência e capacidade para dar continuidade ao trabalho de Raiz di Polon, por isso mostrou-se ansioso em participar deste evento. “Para termos razões de sobra para continuar a fazer a dança. Só nos resta fazer a dança, temos objectivo de fazer carreira como bailarinos e então, estamos muito contente”.
Já Luciene Cabral, da nova geração de bailarinos de Raiz di Polon, mostrou-se ansiosa por mais uma experiência na área.
Está é a sua segunda viagem fora do país por causa da dança, primeiro tinha ido para Angola, no âmbito da Bienal dos jovens criadores. “Foi uma experiência muito boa”, salienta.
Luciene integrou o grupo de dança Raiz di Polon há um ano, mas disse que tem vontade de fazer muita coisa nesta área. “Posso fazer da dança uma autorrealização como forma de intervenção social”.
“Dança precisa de mais atenção”
A dança em Cabo Verde, diz Djamilson Barreto, merece mais reconhecimento artístico e criativo dos trabalhos já feitos e dos que serão feitos.
“Porque fala-se muito pouco da dança. O Dia Internacional da Dança é desvalorizado em Cabo Verde. A dança recebe pouca atenção”, sublinha.
“Não sei o que é preciso fazer para as pessoas perceberem que a dança é beleza da nossa alma. A dança está na nossa alma e é das manifestações culturais cénicas mais antigas que existem. Foi dançado religiosamente, espiritualmente e culturalmente desde que o mundo é mundo, então porquê que em Cabo Verde ainda não está a ser valorizado”, questiona.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 941 de 11 de Dezembro de 2019.