Dear Ella” … quando a alma que traduz um universo

PorPaulo Lobo Linhares,25 mai 2020 7:32

Seguindo o roteiro de grande parte dos músicos de Jazz, encontrou a música em casa no trompete do pai. Apaixonou-se pelo Jazz e com cerca de 15 anos já fazia o roteiro dos bares e pubs. Frequenta escolas de jazz e, mais tarde de novo mais uma ligação à música por meio de um familiar. Casa-se com Cecil Bridgewater, também trompetista e membro da banda de Horace Silver.

Durante algum tempo, envolveu-se em projectos diversos, inclusive na área dos musicais e, encostou-se a ambientes do soul/funky. Contudo antes passa pela Big Band de Thad Jones-Mel Lewis Jazz Orchestra e no seu primeiro disco “Afro Blue” o Jazz já é marcante.

Vive algum tempo em Paris, onde consta que a mesma terá confessado ter sido a cidade onde “se encontrou “e onde lança uma selecção de “standards” - o disco “Live in Paris”.

Outro “Live” o de Montreaux, já nos anos 90 destaca-se por três motivos que viriam a ser essenciais na obra de Dee: os imperiais “scats” que em “mood” de Ella Fitzgerald virão a ser uma das preciosidades da cantora, a homenagem a compositores que mais tarde viriam a ser frequentes e de intensa qualidade na discografia da cantora e a incursão por “outros caminhos” como a Bossa ou os ritmos africanos.

Começa os tributos, abrindo com um dos seus melhores álbuns – o disco “Love and Peace: A Tribute to Horace Silver”, passa também por Duke Ellington e por Billie Holiday com “Eleanora Fagan (1915-1959): To Billie With Love From Dee” com o qual ganha o Grammy de melhor Voz do Jazz, para meia dúzia de anos mais tarde oferecer-nos o que para mim foi o grande momento de Dee. Outro tributo. Desta vez a Ella Fitzgerald – o disco “Dear Ella”.

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Com a direção e arranjos de Cecil Bridgewater, o disco reúne um grupo de luxo de intérpretes fazendo alusão às big-bands que na altura acompanhavam as divas apesar de também haver temas com formatos menores. Nomes como Diego Urcola – trompete, Antonio Hart – saxofones, Milt Jackson – vibrafone ou o enorme Ray Brown – contrabaixo destacam-se e dão corpo a este trabalho.

Notável a maneira como Dee consegue fazer claramente a aproximação à diva Ella Fitzgerald, contudo dando o seu próprio cunho pessoal. Precioso. Homenagem sem qualquer tipo de colagem.

O swing puro do tema “A-Tisket, A-Tasket” abre as portas do disco, convidando-nos a entrar numa viagem ao mundo que Ella celebrizou. Pelo meio, pedacinhos de arte como “Let’s Do It (Let’s Fall in Love)” ou a beleza de “My Heart Belongs to Daddy”.

Na verdade, os tributos a Ella, são imensos. “Dear Ella” não será mais um. É com certeza um dos mais conseguidos relativamente à música e à intensidade da alma que Dee emprestou a este projecto.

Intenso, é impossível de não voltar a mencionar uma das características que marca a obra desta artista – a exploração de caminhos novos. Foi sempre uma constante – desde formatos dos agrupamentos, estilos musicais e a musicalidade de outros países. Sobre a procura de novas músicas é referência obrigatória – Mali, para onde a cantora viaja, de forma absolutamente programada, à procura das suas origens. Nasce a obra-prima “Red Earth”.

Gravado com músicos locais, que dão corpo musical à obra, Dee oferece um tipo de espiritualidade intensa. Disco fortemente musical e musicado, feito realmente de muito ser.

Deixo então a proposta de “Dear Ella” …espreitando ainda “Red Earth”.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,25 mai 2020 7:32

Editado porSara Almeida  em  26 mai 2020 9:46

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