Em declarações ao Expresso das Ilhas, a antropóloga e técnica do IPC, Rosângela Miranda, revelou que o foco do museu será a história da emigração cabo-verdiana. A história será retratada através dos factos, as motivações, os ganhos e as contribuições dos emigrantes em prol do desenvolvimento de Cabo Verde.
“Toda a história quer individual, quer colectiva, das várias gerações, dos nossos emigrantes. A segunda grande janela é retratar a importância que todo o processo migratório tem para Cabo Verde como para a expansão da nossa diáspora. Sobretudo, a sua importância na construção e no reforço da identidade de Cabo Verde. Tudo aquilo que o emigrante tem estado a dar, o seu contributo, a nossa forma de ser e de estar além-fronteiras”, disse.
Uma outra questão que será retratada também neste espaço museológico é a dimensão da emigração nacional. Uma dimensão, conforme Rosângela Miranda, que vai além de números e que está sobretudo na questão da sua diversificação.
“Nós hoje já vamos na quarta geração e uma geração que sente Cabo Verde, mesmo não tendo nascido cá, mas que os nossos antepassados conseguiram passar de geração em geração essa forma de ser e de estar do cabo-verdiano”, explicou.
Por agora, o objectivo da apresentação do projecto é abrir espaço para recolher inputs, o contacto com os parceiros e, por isso, não será adiantado nenhuma data para a sua implementação.
O IPC, segundo garantiu a antropóloga, quer que o Museu da Emigração seja reconhecido pela qualidade, fazendo justiça à própria história da emigração cabo-verdiana que “projecta Cabo Verde e ajuda inclusive nas relações diplomáticas lá fora”.
A questão da localização ainda está a ser analisada, tendo em conta que todas as ilhas contribuíram para o processo migratório.
“Na verdade, desde o então ministério das Comunidades, foi trabalhada esta ideia e agora temos o feliz momento do IPC querer materializar esse projecto. Posso ousadamente dizer que será uma resposta à própria história de Cabo Verde porque a nossa emigração e a história do país, concluem-se, está tudo interligado. Portanto, tem todas as justificações possíveis para a existência de um Museu da Emigração”.
“Porque conta a história do próprio país, conta a história do próprio homem cabo-verdiano. É uma ideia que já tem alguns caminhos, já foram feitas algumas iniciativas nesse sentido para a sua concretização mas que, infelizmente, não foi possível. Acreditamos, contudo, que será desta que o projecto sairá do papel”, proferiu.
Perpetuar a memória
Para Rosângela Monteiro, a beleza da museologia dá a oportunidade de haver um espaço para exaltar, homenagear e perpetuar as histórias e as memórias. Tudo o que ao seu ver o Museu da Emigração dará.
Um outro propósito do IPC é fazer com que o Museu seja um espaço de convergência, de fluxo de informações da própria diáspora que se pretende que seja “mais activa”. Daí a ideia de criar núcleos desse museu nos países onde há maior concentração dos cabo-verdianos para a actualização das informações, mas também como uma forma das comunidades se conhecerem entre si.
“O cabo-verdiano em Portugal às vezes não tem ideia de como é que vive o cabo-verdiano nos EUA, ou tem uma ideia daquilo que a comunicação social passa ou daquilo que são informações não oficiais”, referiu.
É nesse sentido que a antropóloga explana que o museu terá um papel pedagógico de analisar e de dar ferramentas à população não só em Cabo Verde, como também aos emigrantes para contribuir para um “processo migratório positivo”.
“Ou seja, conhecendo todo o processo desde o início, o que é que aconteceu, o que poderá existir ou de menos positivo, isso indirectamente contribuirá para que um potencial emigrante, por exemplo, crie a sua própria proposta de emigração de uma forma mais consciente”, detalhou.
De acordo com Rosângela Miranda, o Museu de Emigração terá três pilares fundamentais. O primeiro pilar são factos históricos, através de demonstração de registos de todo o processo migratório inicial.
Haverá em segundo pilar, a exposição de objectos que “falem por si” tanto permanentes como temporárias para exaltar outras peças.
O terceiro pilar são os testemunhos orais que o IPC projecta apresentar através de vídeos e de filmes sobre a emigração cabo-verdiana.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 986 de 21 de Outubro de 2020.