Lançamento de bolsas de investigação sobre a morna, atribuição de prémios aos alunos através de concursos sobre a morna e publicação de livros sobre este género musical são algumas actividades que deveriam ser financiadas com o fundo de cinco mil contos e acabaram por ficar comprometidas não só por falta de recursos, mas também por causa da situação de pandemia que impede a realização de actividades que implicam ajuntamento de pessoas.
“Ou seja, grande parte das actividades que nós programamos para serem executadas durante o ano de 2020 ficaram comprometidas, precisamente porque eram actividades que implicavam em certa medida aglomeração de pessoas. Estamos a falar de acções desde a formação até concertos e outras actividades de cariz lúdico-pedagógico com um público diferenciado, desde crianças até jovens e pessoas adultas e que devido ao contexto sanitário que vivemos hoje não permitiu a realização de tais actividades”, explicou o presidente do Instituto da Promoção Cultural (IPC), em entrevista ao Expresso das Ilhas.
Socialização do Plano de Salvaguarda
Contudo, esclareceu que no mês de Junho, com o fim do estado de emergência, o IPC começou a trabalhar a todo o vapor algumas actividades que as limitações do contexto sanitário tinham criado. “A partir daí, fizemos uma larga socialização do plano de salvaguarda que foi a primeira actividade criada; estivemos na Ilha Brava, na ilha do Fogo, em São Nicolau, Santo Antão, na ilha do Maio e aqui em Santiago estivemos em alguns municípios, ficando as restantes ilhas e municípios por realizar”.
Ainda no âmbito da implementação do Plano de Salvaguarda da Morna, Jair Fernandes destacou a parceria estabelecida com o projecto do Ministério da Cultura que é a Bolsa do Acesso à Cultura permitindo que escolas e associações que forem beneficiadas com este programa comecem a materializar o plano de salvaguardana sua vertente formação e disseminação.
Em meio da pandemia e da limitação de recursos, atenção especial mereceu o item sítios e representação. Assim, foi inaugurada recentemente a primeira fase da reabilitação da Casa/Museu Eugénio Tavares na Ilha Brava e a Casa da Morna/Sodade, no município do Tarrafal, na ilha de São Nicolau.
Institucionalização da Semana da Morna
No âmbito da Semana da Morna, que foi institucionalizada este ano e começou a decorrer precisamente no Dia Nacional da Morna e vai até 11 de Dezembro, data que assinala o primeiro aniversário da classificação da morna como património da humanidade, foi inaugurada este fim-de-semana uma exposição na Casa Museu Eugénio Tavares, na Ilha Brava, e no dia 10, quinta-feira, é a vez da inauguração da exposição “Terra da Morna/Terra de Sodade”, no município do Tarrafal, na ilha de São Nicolau.
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O que é o Plano de Salvaguarda?
O plano de salvaguarda é uma ferramenta que incluiu medidas de políticas relativamente à preservação e divulgação de um bem património mundial, no caso a convenção da UNESCO de 1972, e de um bem património cultural e imaterial da humanidade, no caso a convenção de 2003. É uma ferramenta exigida pela UNESCO, através do Centro do Património Mundial, que obriga que um Estado ao apresentar o dossiê de candidatura de um bem tenha em devida conta as acções para a salvaguarda deste mesmo bem. No caso particular da morna, as acções devem ser centradas na investigação, na formação e disseminação, na diplomacia cultural e nos espaços de representação.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 993 de 9 de Dezembro de 2020.