Dezenas de pessoas fizeram-se presentes este sábado, no Centro de Arte e Cultura (CAC) para testemunhar a homenagem à cantora boa-vistense que a 17 de Dezembro de 2020 faleceu vítima de doença prolongada, em Lisboa, Portugal, onde residia.
O presidente da Câmara Municipal da Boa Vista, Cláudio Mendonça, disse que “o acto é de elevado significado simbólico, sobretudo porque se homenageou uma filha da ilha que deu um contributo de elevado valor para a cultura da Boa Vista e de Cabo Verde”, e realçou “o seu protagonismo para o reconhecimento da morna como Património Imaterial da Humanidade, que tanto engrandece o país”.
“Boa Vista e Cabo Verde muito devem a esta ilustre entidade, sendo hoje dia da grande figura Celina Pereira. Prestamos assim uma profunda homenagem à memória e ao rico legado que deixou sobretudo à valorizada juventude cabo-verdiana”, disse o edil, enaltecendo os cantares, as histórias e a entusiástica vivência que prestou ao orgulho de ser cabo-verdiano.
Para o autarca, esta homenagem “deverá se repetir com outras iniciativas para valorizar a riqueza cultural da ilha da Boa Vista nos domínios da música, da indústria criativa, das artes plásticas e da afirmação da identidade social, cultural e política do país”, concretizando também que “se deverá preservar como património de Cabo Verde as histórias ancestrais de ninar as crianças que tão bem soube preservar e que constam do seu acervo cultural”.
À família de Celina Pereira, Cláudio Mendonça manifestou “o sentimento de profundo reconhecimento pela presença no acto”, assegurando que “espera continuar a contar com a colaboração dos parentes para o aprofundamento do conhecimento que deu para o desenvolvimento cultural da ilha e de Cabo Verde”.
O presidente da Associação de Músicos da Ilha da Boa Vista (AMBV), Manuel Brito, explicou que a sessão extraordinária da Assembleia Municipal é justificada pela importância que se atribui à personalidade que atinge o estatuto de figuras públicas ao longo da sua existência.
Por isso, aquele representante analisou que “a malograda Celina Pereira não está isenta desta classificação enquanto artista multifacetada”, e destacou “as suas excelentes qualidades como musica e interprete”, caracterizando-a ainda “como grande impulsionadora da cultura e defensora da identidade cultural cabo-verdiana”.
“Celina Pereira conseguiu com a sua mestria e versatilidade cativar grandes e pequenos pelas suas criações e intervenções”, disse, frisando que “a associação enquanto representante de músicos não poderia deixar de abraçar a causa, tendo os membros se dignado em comparecer para contribuir para o brilho no acto apesar do sentimento que acarreta”.
Manuel Brito parabenizou o presidente da Assembleia Municipal, Walter Évora, pela “feliz ideia de homenagear a conterrânea da ilha” que, para ele, “soube durante o seu percurso de vida artística de vida erguer a bandeira da Boa Vista e de Cabo Verde, através da sua notável sensibilidade cultural, capacidade de interpretação e a sua voz peculiar cantando a morna ‘Boa Vista nha terra’ que foi sempre o seu cartão de visita como tema presente nas suas mais diversas actuações pelo mundo fora”.
O porta-voz dos músicos da Boa Vista frisou também a iniciativa da câmara municipal ao acolher de pronto a ideia desta consagração para a “ilustre filha desta terra”, e ao ministro da Cultura, Abraão Vicente, dirigiu o apreço pela elevação do acto com a sua honrosa presença, pelo que, indicou, “o que consta bem claro a grandiosidade que Celina Pereira deixou e que deverá ser aproveitado da melhor forma possível pela geração actual e as vindouras, a bem da cultura cabo-verdiana”.
Aos familiares e amigos o presidente da AMBV “endereçou palavras de conforto pela irreparável perda de um ente querido, e estima pela feliz ideia e iniciativa de homenagear o ícone da cultura”, augurando que “a sua alma tenha o repouso merecido, e que o seu corpo nunca deixará de fazer parte integrante desta ilha com a deposição dos seus restos mortais em cinzas na baía de Sal Rei, terra que a viu nascer”.
Marina Pereira, em representação da família da homenageada, leu a biografia da embaixadora da cultura cabo-verdiana, reiterando a sua forma “muito peculiar” de interpretar a morna, hoje Património Mundial da Humanidade cujo processo teve nela uma das principais impulsionadoras, quando em 2012 enviou ao Governo uma petição propondo a elevação deste género musical, primeiro a Património Imaterial Nacional e depois a Património Imaterial da Humanidade.
Marina Pereira, que é prima de Celina Pereira, enfatizou o orgulho que sente pela personalidade, e em nome da família agradeceu a todos que se associaram a homenagem, aos presentes, aos que seguiram o acto de longe, à Associação dos Músicos da Boa Vista, à Câmara Municipal e Assembleia Municipal da ilha da Boa Vista, e ao Ministro da Cultura referiu “a amabilidade e disponibilidade do governante para trazer as cinzas da querida Celina Pereira de volta à terra que a viu nascer”.
A parente endereçou ainda um especial agradecimento a Lara Camareiro, sobrinha de coração e à sua mãe, “por todo o carinho que dedicaram à cantora sobretudo na última fase da sua vida”.
Os representantes das bancadas municipais do MpD, Elisabete Évora, do PAICV, Risete Évora, e do Partido Popular, Sergio Corrá, centram os seus discursos na biografia de Celina Pereira, considerando-a “uma das mais importantes referências culturais, exaltando o seu legado que ficará eternamente na memória e que será lembrado por todos”.
A homenagem à cantora boa-vistense Celina Pereira, que a 17 de Dezembro de 2020 faleceu vítima de doença prolongada, em Portugal, onde residia, culminou com um momento cultural no restaurante Casa da Sopa.