Tradição e futuro: Frank, mascrinha e um tempo onde …era un vez un tokatina…

PorPaulo Lobo Linhares,17 fev 2021 11:19

Lembrei-me esta semana - com alguma saudade típica de quando se dá os primeiros passos – do meu trabalho de final de curso de produção e marketing musical. Nele, baseei-me em grupos que trabalhavam a música portuguesa tradicional e que voltam às raízes para beber e com os quais devemos aprender – tornam-nos presentes. Mantém assim tais, onde deverão estar – no sempre musical.

Sim, esta semana vi três exemplos interessantes a acontecer. Três acontecimentos musicais que claramente beberam nas nossas raízes com olhos no futuro.

Quase que no mesmo dia saíram dois singles: “Sodade d’mascrinha” dos cada vez maiores Acácia Maior e “Fra Brok” que Khyra Tavares.

O primeiro foi buscar o espírito do Carnaval das ruas para o enaltecer: …”mascrinha cá d’morada…ke carnaval nasce na fralda / Btá binocle d’tribuna, porque carnaval e la na txon” . Contudo, não se esqueceram dos temperos que os “grupos de baile” nos deixaram, num todo emocionante que cruza mensagem com instrumentação, simples, porém eficaz, recheada de pureza e autenticidade – característica que vem marcando esta Acácia.

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No segundo Khyra Tavares foi pescar o tema “Fra Broque” de Frank Cavaquim que apresentou em formato “Fra Brok”. Como tinha dito num artigo há um grupo de nomes que “são mestres e são nossos” – Frank e os Voz de Cabo Verde são com certeza portadores de lugar cativo neste palco. Assim, reconhecendo-o Khyra (em)bebeu-se no universo de Frank que por sua vez (em)bebeu-se numa realidade d’outrora e que tão visionariamente previu o hoje – a arte de “Fra Broque” ou “Fra Brok”, conforme quisermos.

Khyra cantou e representou o tema de forma superior, encarnando-o mas não imitando, o que na maioria das vezes é o erro de muitos.

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Pois é, esses “muitos” não têm a versão-criatividade – e isso acredito que é fruto de observação-sensibilidade-pesquisa-audição e paixão pelo fazer a diferença coerente.

A instrumentação-roupagem ficou expressa de forma clara na sua qualidade quase que me atreveria a dizer, extrema. O ambiente do Yé Yé Yé de Frank foi passado para as sonoridades urbanas e actuais, interpretadas pelo que, na minha opinião, é provavelmente a melhor banda – no seu todo – do nosso panorama musical.

Se os 2 “singles” mexeram nestas duas últimas semanas pondo-as a dançar, teria de haver um descanso, algo que nos acolhesse e aconchegasse.

E houve. Em formato de concerto, o Centro Cultural Português na Praia foi promotor de um evento, de uma tocatina.

…”era un ves un tokatina”…chegou de mansinho aproveitando a abertura do palco do CCP. E como as tocatinas transformam os palcos em espaços, nasceu um jardim com uma tocatina, típica de algumas décadas atrás, e que tanto nos temas como no cenário, recuaram-se décadas, tentando resgatar o tradicional. Um grupo de músicos diferenciados: Totinho, Zé Rui, Fany, Palinh e Body, juntaram-se à anfitriã Teté Alhinho que convidou Nicola, Teresinha Araújo e Lena França (como soube bem ouvir esta surpresa) para uma tocatina à antiga – cheia de mornas, coladeiras, txoradinhas, estórias contadas e cantadas que contou com a produção da inSulada e que acabou por fazer duas salas cheias e uma transmissão em directo. Sonhou-se…

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Assim, fica provado que o passado é valioso, o conceito é precioso, mas de trabalho minucioso.

Bem hajam, fazedores da tradição.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,17 fev 2021 11:19

Editado porClaudia Sofia Mota  em  16 nov 2021 23:20

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