Vivíamos a década de 90 quando foi lançado o disco Mar Azul – disco este que não me canso de elogiar a banda base de suporte instrumental de luxo que acompanha Cesária e que depois viria a gravar um disco a solo (Os Mindel Band – Mindelo) que salvo uma ou outra alteração em relação ao disco, foi formada por Bau, Tey, Voginha e Humberto – grupo que se hoje pensarmos na excelência de cada um dos músicos ofusca de tanto respeito musical.
Apesar do termo “world music” ter nascido na década de 60, significando nessa altura algo que fugiria mais para o sublinhar da diferença entre o “conviver” das várias culturas representadas pela sua arte. Este conceito ligado à música é vincado na década de 80. Nasce assim claramente o estilo/género/classe da world music que celebra as músicas de cada país. Nascem festivais e este género torna-se real. Hoje o nome dado ao género musical é discutível e discutido…” principalmente no pós-globalização”.
Neste contexto, Cesária Évora de mansinho se aproximava da nova corrente musical pela pureza com que conseguia transportar consigo as nossas ilhas e deixá-las soar através da música. Aos poucos a nossa “Diva dos pés nus” vai subindo, afirmando-se, colhendo fãs e levando o nome de Cabo Verde para o mundo.
Logo a seguir a “Mar Azul” lança o que, para mim, está certamente na prateleira dos cinco grandes discos da nossa música – “Miss Perfumada”, já referido numa das minhas escolhas desta coluna. Na verdade, uma das referências da World Music. Com este álbum, o tema “Sodade” passa a ser um dos emblemas de Cabo Verde e a nossa Morna cada vez mais conhecida.
E aqui, quase que pararia, impregnado pelo que o disco oferece. É praticamente uma obra de inspiração e excelência da música do mundo inteiro. Com isso, não desfavoreço – de todo – o que vem depois – até porque Cesária é um todo indivisível. Vai-se completando com cada pedacinho seu, mas é e sempre será Cize. Contudo, conforme disse, poderia continuar a falar da discografia da Diva, caso houvesse espaço…, mas perdoem-me a arriscada afirmação – na obra de Cize há o “antes e o depois” de “Miss Perfumada”-
Sempre defendi que um percentual enorme do músico cabe à sua humildade e à capacidade de fazer da música sua companheira e não a usá-la como algo que o faça brilhar. Acredito que Cesária pertence a esse grupo relativamente restrito de músicos que o souberam fazer. Aliás, que o fizeram … fazer … ser … sobretudo ser, pois Cesária era ela.
Assim, se por um lado, cada ano que vai passando, é normalmente intitulado como mais um ano sem Cize, musicalmente creio que será mais um ano com Cize, pois nela tudo é crescente, nada para nem nunca vai parar. Pela voz, pela pessoa e pela alma.
Multipliquem-se as homenagens pois todas as que forem feitas serão poucas.
Eu, retiro-me mais uma vez a ouvir o disco “Miss Perfumada”, entrelaçado de voz e música que me envolve e me transporta para o mundo da música.