Titina cantá B.Léza
Ainda menininha, nos finais dos anos cinquenta, Titina foi levada pelo pai, Nhô Toi Lulu, para conhecer B.Léza, o grande compositor da morna da época, já no ocaso da vida, preso a uma cadeira de rodas, seu vizinho da Rua do Matadouro Velha. O encontro fez nascer uma estrela para o mundo da morna e da música de Cabo Verde, tendo sido seu ponto alto a gravação do LP “Titina canta B.Léza”, unicamente com músicas desse seu compositor de eleição, com mornas: Terra longe, Bejo de sodade e Noite de Mindelo ou coladeiras como Galo bedjo.
Titina cantá Ti Goy e Frank Cavaquim
Nos finais dos anos cinquenta e sessenta, “coladera e que tá na moda” e Titina é conquistada por esse ritmo mexido, letras insinuantes, maliciosas e cativantes. Titina canta na Rádio Barlavento onde, com 14 anos, aparece em disco e grava Estanhadinha, coladera de Frank Cavaquim.
“Antes, só se cantava morna, uma ou outra mais galopada, mas a força da coladera foi nessa época”. (…). Mas foram precisamente essas músicas que fizeram com que eu me tornasse mais conhecida”, como chegou a confidenciar à investigadora musical Gláucia Nogueira.
Titina cantava em recepções e saraus. Em 1962, por ocasião da visita do Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, que estava a percorrer as colónias portuguesas, o governante propôs que se criasse um grupo musical para actuar em Portugal. Criou-se então o Conjunto de Cabo Verde, que percorreu Portugal durante um mês e gravou três discos. O grupo regressou a São Vicente, mas Titina ficou.
Discografia
- Mornas de Cabo Verde, EP, Casa do Leão, São Vicente, 1960. Com Djosinha;
- Titina, EP, Alvorada, Porto, 1963. Acompanhada pelo Conjunto de Marino Silva;
- Titina, EP, Alvorada, Porto, 1966. Acompanhada pelo Conjunto de Marino Silva;
- Titina, EP, DCM, Lisboa, 1979. Com Voz de Cabo Verde;
- Titina canta B.Léza, Discos Porto Grande, Setúbal, 1988;
- Cruel Destino, CD, Astramusic, Lisboa, 2008. Produção e arranjos de Humberto Ramos.
A par disso, Titina participou em vários discos colectivos ou compilações, dos anos 60 aos anos mais recentes.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1067 de 11 de Maio de 2022.