Fattú Djakité quer internacionalizar-se e pisar outros palcos

PorDulcina Mendes,25 dez 2022 13:16

A cantora Fattú Djakité lançou recentemente, na Cidade do Mindelo, o seu primeiro álbum intitulado “Praia-Bissau”. O álbum está disponível nas plataformas digitais e à venda em formato físico. Em conversa com o Expresso das Ilhas, a cantora falou desse seu primeiro álbum que chega depois de vários anos de luta.

O álbum, que espelha a cantora e compositora que reside em Cabo Verde desde os seus cinco anos, é uma demonstração de carinho pelas duas cidades “da sua vida”: Praia e Bissau. Composto por 12 faixas (11 músicas e um remix), sendo sete composições inéditas, o álbum foi produzido pelo brasileiro Maurício Pacheco.

Este primeiro trabalho discográfico de Fattú Djakité conta com composições da autoria de Elida Almeida, Djoy Amado e participação especial do rapper brasileiro Emicida.

Fattú Djakité diz que está muito feliz com a gravação deste álbum. “Estou a realizar o meu sonho. Afinal é possível. Estou muito contente e orgulhosa de mim, porque não desisti, continuei a lutar e consegui”.

A cantora, que está a promover o seu primeiro disco, explica que pretende fazer o lançamento com uma banda ao vivo, no Mindelo, na Praia e eventualmente em outras ilhas no próximo ano.

Praia-Bissau

Fattú Djakité explica que o título do álbum foi escolhido pelo músico Princezito que é uma pessoa muito especial na sua carreira artística, “ele acompanhou-me desde os 13 anos de idade. Ele é daquelas pessoas cujas opiniões são decisivas na minha tomada de posição artística”.

“Para o meu disco estava a pensar em colocar o título Minina d’Oru, mas o meu produtor não achou bem e disse-me para pensarmos em algo como Bissau. Falei com o Princezito e ele sugeriu-me Praia-Bissau. Gostei da sugestão porque é um nome que tem tudo a ver com a minha trajectória, pois cresci na Cidade da Praia, mas nasci na Guiné-Bissau. F faz todo o sentido Praia-Bissau, para mostrar esses meus dois lados”, explicou.

O disco traz temas cantados no crioulo da Guiné e de Cabo Verde e conta com a participação especial do rapper brasileiro Emicida. “Então, é uma mistura de ritmos. Quando ouvires o disco sentes que é word music, pois são músicas para o mundo e não é só ritmo da Guiné e de Cabo Verde”, frisa a cantora.

Sem falar que o disco conta com temas da sua autoria: Kumake e Minina d’Oru. “Kumake é um tema da minha autoria e é a primeira música que fiz em crioulo da Guiné e Minina d’Oru é em crioulo de Cabo Verde que mostra a minha outra vertente. É um tema que mostra o empoderamento feminino, sem esquecer as crianças que existem dentro de nós”.

Kumake (“o quê?” em português) é um tema que compôs há mais de dez anos e que fala de uma história de amor, de liberdade e um convite para aceitar a história como ela é e para guardar as recordações bonitas da vida.

Minina d’Oru é um apelo para cuidar das nossas crianças, fala de segredos, fomes, amores, liberdade e tudo o que nos faz sentir mulheres fortes e nos dão aquele power. “Somos power, mas não sabemos o porquê. Então temos que ir à nossa infância para descobrir tudo o que nos criou aquele calo, sofrimento, alegria e aquilo que nos faz ser Minina d’Oru”.

“Tenho músicas mais para latino, funaná fora de caixa, que é uma releitura de um funaná que foi gravado em 89, de Zezé di Nha Reinalda. Fiz dele um funaná mais electrónico, pois sempre tive influências do mundo, não sou uma artista tradicional de Cabo Verde ou da Guiné-Bissau, sempre ouvi todas as músicas como a americana e a brasileira. É nessa mistura que está a minha essência e as minhas influências”, salienta.

A cantora explica que procurou muitas parcerias para a realização do álbum, “O álbum conta com a participação de outros artistas como Dieg, que participou em toda a produção, na guitarra tenho Jorge Almeida. Tenho ainda o músico guineense Manecas Costa, Kaku Alves, Maurício Pacheco, que é produtor da cantora brasileira Vanessa da Mata, e que fez a produção do álbum. Também conto com participação de italianos, israelitas e brasileiros, guineenses e cabo-verdianos. É um álbum do mundo”.

O disco conta com temas de Elida Almeida, José Carlos Soares, inéditos de Toy Delgado, que é um artista guineense. Tem ainda temas de Justino Delgado, Zezé di Nha Reinalda, Stefany Santos, que gravou com Emicida, e um samba de um baiano.

Propósito do disco

A cantora explica que com este álbum pretende defender o conceito Praia-Bissau e trazer a união de Cabo Verde com a Guiné, “porque temos uma história em comum que não nos foi ensinado na escola. E acho que é por causa disso que existe muita ignorância acerca da Guiné, porque não sabemos que temos irmãos ao nosso lado. Tenho verificado que em Cabo Verde os guineenses são tratados de uma forma diferente, mas quero acabar com isso, pois não me sinto assim. Sinto-me cabo-verdiana e guineense ao mesmo tempo e sinto que sou uma pessoa que tanto Cabo Verde como a Guiné podem ouvir”.

“Sou filha dos dois e gosto dos dois da mesma forma, quero juntar esses dois países e no meu álbum vês todo o histórico e todo o conceito e no CD físico podes ver nas ilustrações que fiz e que representam a união desses dois povos. No disco físico há um folheto com letra das músicas e ficha técnica, como antigamente. “Sei que existem pessoas que gostam disso. Então fiz 20 exemplares, mesmo sabendo que as pessoas estão mais para o digital”, conta.

Depois da chegada do disco a cantora quer pisar todos os festivais de música em Cabo Verde e alcançar o mercado internacional. “Acho que é um disco internacional também. O meu objectivo é internacionalizar-me com o disco e pisar vários palcos, fazer grande barulho em Cabo Verde e na Guiné-Bissau para que os nossos povos possam sentir que estamos a trabalhar. Este é um álbum contemporâneo, gravei-o há cinco anos, mas sinto como se o tivesse gravado agora porque a música não tem idade”.

Quanto ao feedback que tem recebido desse trabalho discográfico, diz estar a ser muito bom “e é muito gratificante quando alguém aprecia o teu trabalho”.

Pintura

Além da música, Fattú Djakité tem uma paixão muito grande pela pintura. Uma paixão que descobriu desde os seus 11 anos de idade. “Desenho desde os meus 11 anos de idade, há, portanto, 21 anos que desenho, não é algo que veio agora. Tanto a música como a pintura fazem parte de mim, comecei a desenhar antes de cantar”.

A artista revela que futuramente pretende ter um espaço para vender os seus produtos de merchandise que vai tirar juntamente com as suas ilustrações. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1099 de 21 de Dezembro de 2022. 

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Autoria:Dulcina Mendes,25 dez 2022 13:16

Editado porSheilla Ribeiro  em  16 set 2023 23:28

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