Natural de Santa Catarina de Santiago, a primeira actuação de Tikai no teatro foi no ano de 1994, na sua cidade natal, na festa de Nossa Senhora de Fátima, mas desde de pequeno tinha vontade e aquele espírito de fazer teatro.
“A minha paixão começou através de um grupo de teatro que existia na minha zona em Pedra Barro, com o grande mestre de Santa Catarina e de Cabo Verde que é que Xixo e com a Ana Mafalda que me fez actuar pela primeira vez, quando tinha sete anos. Depois disso, entrei no grupo religioso ‘Boa Esperança’ em que só fazíamos actividades religiosas. Quando entrei no grupo, juntamente com outras pessoas, criamos um grupo de teatro. Todas as peças que já saíram desde Tikai e Pindoko foram feitas nessa época”, recorda.
Tikai disse que a peça “Rapazinho Intentado”, é uma peça que fez antes de sair do país, em 1998, que homenageava a cantora Nha Nácia Gomi, antes dela falecer.
“Desde então tenho estado a lutar para que o teatro na ilha de Santiago e em Cabo Verde não morra, por isso senti um enorme vazio durante esses cinco anos que estive fora.
Tikai afirma que o público cabo-verdiano, as instituições públicas e privadas devem apoiar cada vez mais os jovens, para que não entrem no mundo da violência e da criminalidade.
O actor indicou que a sua companhia já está com 16 filmes gravados, sendo oito de longa-metragem e oito de curta-metragem. “Posso dizer que estamos com oito longa-metragens e oito curta-metragens: são um total de 16 filmes que gravamos desde 2009. O primeiro filme que gravamos é `Nha Fia`, no ano 2009. Foi a partir de lá que se abriram as portas para a gravação de outros trabalhos”.
Teatro em Cabo Verde
Em Cabo Verde, conforme Tikai, o teatro não tem evoluído da forma que gostaria e que se não for feito nada a tendência é de cada vez mais para decrescer, porque não há uma motivação.
“No meu caso não tenho muito que queixar. Há grupos de teatro com muita força como Juventude em Marcha, Fladu Fla que têm estado a fazer um grande trabalho, mas perguntamos onde estão os outros na ilha de Santiago? Temos o Mindelact que tem estado a fazer um excelente trabalho, mas precisamos de um teatro de abrangência nacional e que tenha aquela característica de teatro que identifica com o povo cabo-verdiano”, indicou.
Para o actor, há um trabalho que deve ser feito, no sentido de dar mais atenção e incentivar aos grupos de teatro. “Não é só ver o grupo na rua e dar gargalhadas e dizer que gosta daquilo que fazem, mas é necessário contribuir para que o grupo possa continuar a fazer esse trabalho. As pessoas recuam, as empresas privadas que não acreditam no nosso trabalho devem apoiar, mas também instituições públicas que nunca nos apoiaram na gravação dos novos trabalhos. Então é isso que devemos trabalhar para que tenhamos cada vez mais grupos de teatro como Tikai, em Cabo Verde”, realça.
Conforme disse, até Abril de 2023, vai levar o seu mais recente filme “Boita e Raboita des Mundo” para outros palcos como a nossa diáspora. “O meu sonho é de em 2023 levar os meus meninos (actores) para Europa. Acho que eles merecem mais respeito e carinho. Acho que se fizermos uma digressão para Europa era um grande prémio para eles. Então vamos trabalhar para levar este filme e uma peça que será ou `Pikinina` ou `Filho Pródigo”.
Música
Desde 2013 que Tikai gravou o seu primeiro funaná e desde então disse que tem estado a gatinhar no mundo da música.”Em 1994 quando comecei no teatro não era conhecido como hoje. Então vou continuar a treinar e com os amigos que tenho no mundo da música posso chegar um dia a realizar o meu sonho de ser chamado cantor do funaná”.
“Em 2013, Kidy gravou a minha primeira música e desde então tenho estado a fazer música. A maioria das minhas músicas são resumo dos meus filmes. Transformo os meus filmes em música e é uma forma das pessoas não se esquecerem do meu teatro”.
Tikai revelou que se sente na obrigação de fazer com que o nosso batuque, tabanka, funaná e o teatro não morram. “E é isso que estou a fazer, entregar a minha voz para o meu funaná e batuque e tenho estado a trabalhar para que isso aconteça. Neste momento tenho cerca de nove músicas gravadas a solo e temas feito com outros artistas”.
Literatura
Além de teatro e música, João Pereira já entrou no mundo da literatura com o lançamento do seu primeiro livro intitulado “Tikai: Grogue não é amigo do homem”, baseado na peça de teatro “Nha Fia”.
O livro é um resumo da peça de teatro “Nha Fia”, mas a intenção do autor não fica por aqui. “A minha intenção é transformar todos os meus filmes em livro. “Como a maioria dos meus fãs são crianças, então é bom incentivá-las a ter o hábito de leitura, por isso que fiz o resumo da peça ‘Nha Fia’ em livro”.
“No meu projecto, ainda tenho `Pindoko e `Rapazinho Intentado’’ tudo escrito e assim que conseguir um tempinho vou lançar os outros livros, para que as crianças ganhem hábito de leitura”, anuncia Tikai .
Além dessas paixões, o actor disse que já experimentou de tudo na vida.“Já fui carpinteiro, mecânico, pedreiro, estudante. Fiz licenciatura em Serviço Social, já fui vereador na Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago, e neste momento sou assessor do Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro para a Juventude e Desporto e sou deputado suplemente”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1101 de 4 de Janeiro de 2023.