Em jeito de homenagem e em modo nostálgico, escrevo estas notas tendo por música de fundo a rapsódia de mornas em solo de violão do LP Sodade – Rapsódias de mornas e coladeiras, gravado em Roterdão em 1967, enquanto rememoro o “Recado” mandado do exílio para as suas gentes:
Recado d’Humbertona
Humbertona! Manhã
’ma ta ba lançode pa s’ilha
Bô ca tem n’hum sinal d’amor
Pame levâ bôs gente?
… … …
Bai! Bo dzê Soncente
C’ma sombra dnha corpe ê cruz
Longe de sol dnha terra
… … …
Bai! Bô dzê Porte-Grande
Pa ca tchomo-me sodade
– Pão & Fonema, Corsino Fortes, 1974
Humbertona, na altura, estudava na Universidade de Louvaina, na Bélgica, onde iniciou a sua militância política no PAIGC.
A referência do Poeta à saudade tanto pode estar a referir-se ao sentimento que caracteriza quem vive na terra-longe como ao disco “Sodade”, gravado por Humbertona em 1967.
O violão da saudade
Considerado um dos melhores solistas de Cabo Verde, ombreando-se com Luís Rendall (1898 – 1986), toda a sua obra a solo foi produzida entre 1966 e 1971. A sua discografia integra sete clássicos:
Morna ca so dor, LP, Roterdão, 1969
Humbertona ma Chico Serra, MR. Roterdão, 1969
Lágrimas e dor – Mornas dedilhadas por Humbertona, LP, MR, Roterdão, 1969
Dispidida, Lp, MR, Roterdão, 1972
Stora stora, LP, MR, Roterdão, 1972
Sodade – Rapsódias de mornas e coladeiras, LP, MR, Roterdão, 1973
Dispidida d’sodade (compilação), CD, MR, Roterdão, 1992.
Participa ainda nos dois discos de intervenção política do PAIGC gravados em Roterdão – “Poesia cabo-verdiana – Protesto e luta” (1970), em que, com Valdemar Lopes da Silva assegura o fundo musical, e “Música cabo-verdiana – Protesto e luta” (1973).
Calou-se o violão. A saudade ecoa no ar.
Quem mostra’ bo
Ess caminho longe?
Quem mostra’ bo
Ess caminho longe?
Ess caminho
Pa são Tomé
Sodade sodade / Sodade
Dess nha terra São Nicolau
Si bo ‘screve’ me
‘M tá ‘screve be
Si bo ‘squece me
‘M tá ‘squece be
Até dia
Qui bo voltà
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1133 de 16 de Agosto de 2023.