Luciény Kaabral explica que “Ken Ke Mi” busca compreender e reflectir sobre o processo de descoberta e os contínuos desafios do mundo/ser artístico. Assim, também é uma peça sobre autoconhecimento e autoimagem. “A minha descoberta na dança, a escolha de ser bailarina e viver da arte fez minha vida mudar, permitindo-me conhecer-me melhor”, acrescenta a artista.
Em co-criação com Nuno Barreto, bailarino e coreógrafo, com quem Luciény Kaabral começou a dançar, a artista sublinha que pretende explorar todo o conhecimento que adquiriu num curto espaço de tempo, mas que considera que foi intenso, o que a permitiu dedicar-se à exploração do movimento e expressão corporal como arte.
Para Nuno a dança é uma forma de devoção do corpo ao universo pela perfeição da criação.
“Juntando esses dois universos muito semelhantes queremos materializar esse solo, interpretado por um corpo feminino, com memórias transcendentais”, reitera.
Por outro lado, Luciény Kaabral diz inspirar-se na força e resistência do povo negro, na mulher cabo-verdiana e nas suas lutas diárias.
“Inspira-me o meu corpo e espírito que herdou esses traços. Inspira-me todo o processo de autodescoberta que tenho vivido com a decisão de ser bailarina. Inspira-me a lendária Harriet Tubman. Após conhecer sua história, sua luta e conquista como abolicionista e activista, despertou-me o instinto de mergulhar nessa história querendo saber mais sobre a minha própria descendência, sobre mim mesma que de certa forma herda no corpo no espírito e na mente a história, a força e traços de um povo que ainda luta pela liberdade e igualdade”.
A bailarina sublinha que a expressão corporal, a dança, a arte do movimento e a criatividade comunicativa serão fortemente explorados no solo “Ken Ke Mi?”.
O espetáculo aconteceu no auditório do Centro Cultural Português.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1139 de 27 de Setembro de 2023.