O governante falava à Inforpress no contexto do Orçamento do Estado para 2024, tendo afiançado que o Ministério da Cultura e da Indústrias Criativas carece de um maior investimento, apesar de o valor do orçamento para ano ter aumentado, passando de 505.932.789 escudos cabo-verdianos para 527.774.723 escudos, em 2024.
“Cabo Verde precisa ainda de um maior investimento na cultura, no sentido de: São Vicente precisa de uma sala de espectáculos, cidade da Praia precisa também, à altura do público”, afiançou.
Isto porque, segundo Abraão Vicente, quando qualquer artista de música contemporânea em Cabo Verde atinja a meta de 4 a 5 mil pessoas num concerto, o Estado deve ambicionar a criar espaços públicos para gestão público-privada, para dar resposta àquilo que são as expectativas para os grandes concertos dos artistas de massa, mas também para concertos de ópera, de música clássica e de grandes nomes internacionais que só actuam em contexto de sala fechada.
Outra ambição necessária, acrescentou Abraão Vicente, passa pela profissionalização dos festivais de música em Cabo Verde.
“Continuamos a ser de certa forma muito pouco ambiciosos porque quando vemos os investimentos das câmaras municipais nos festivais e depois percebemos que não há merchandising, não há formalização dos negócios à volta, e criar barracas provisórias durante três dias ou uma semana é economia que gera naquele momento”, mencionou.
Por isso, defendeu a necessidade de criar uma cadeia de valor à volta dos festivais de música e criar a marca Cabo Verde com o destino para festivais de música.
“Como é óbvio iremos continuar, juntamente com o IGQPI, que faz parte com a tutela dividida com Ministério da indústria, o processo de consciencialização da nova geração de artistas e criadores da importância dos direitos de autor, porque sem direito de autor e de propriedade, não se monetiza e não se amplie e não se cria a escala para a economia criativa de Cabo Verde”, ressaltou o ministro.
Por outro lado, manifestou uma vez mais a sua preocupação com a música tradicional cabo-verdiana, e pediu um “djunta mon” para que a música tradicional conquiste o seu espaço.
“Não compartilho com as opiniões das pessoas que estão sempre a criticar, nas redes sociais, os artistas que supostamente não sabem cantar, não sabem tocar, mas são convidados para shows. Hoje estamos num mundo em que o público escolhe o seu artista, se um artista tem público, tem produtor, tem espetáculo marcado e sala cheia, não é problema dos demais”, salientou.
“A música tradicional não concorre com a música contemporânea, agora é preciso encontrar um espaço para a música tradicional e isso passa sem dúvida por um maior incentivo de Estado e por uma melhor organização do sector, de um djunta mon”, completou.
Os músicos contemporâneos, referiu Abraão Vicente, fazem colaborações para que haja esta transferência de público entre eles, pelo que entende que é isso que deve ser feito na música tradicional e criar espetáculos que “encham os olhos e almas”.
O governante aproveitou ainda a ocasião para chamar atenção dos artistas para estarem atentos aos lançamentos dos editais para se candidatarem a financiamentos atempadamente, pois este tem sido o único meio que o ministério financia projectos.
“Chamar atenção que a verbas para editais são muito limitadas entre 10 a 15 mil contos para financiamentos em editais, e continuamos a perceber que há artistas que não se candidatam a editais, mas continuam a enviar pedidos de apoio ao Governo, desde o primeiro momento decidimos que não apoiamos nada concretamente, é preciso organizar. Há pessoas a pedir apoio em cima da hora, tem que planificar (…)”, alertou.