Após fazer a produção de festivais fora do país, Júlio do Rosário, resolveu fazer o Morna Fest e a primeira edição aconteceu em São Vicente, em Dezembro de 2013. Desde então tem realizado este evento todos os anos.
“Desde essa altura estamos a realizar o Morna Fest todos os anos, muito antes da elevação da Morna a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Só para terem ideia do que temos estado a fazer pela cultura cabo-verdiana e da morna”, aponta Júlio do Rosário ao Expresso das Ilhas.
Este ano já aconteceu no concelho de Porto Novo, em Santo Antão, no mês de Junho, aquando das festividades de São João. Para além disso, o festival vai percorrer mais cinco concelhos do país, com noites de morna.
O sócio-gerente da Boa Música, Júlio do Rosário, explica que o objectivo do Morna Fest é a cada ano chegar a uma ilha diferente pois pretendem levar esse evento a todas as ilhas e depois internacionalizá-lo.
“Estamos em seis ilhas e nas próximas etapas queremos ir para as ilhas do Sal, da Boa Vista e do Maio. São essas três ilhas que pensamos atingir nos próximos anos. Este ano começamos no dia 21 de Junho, em Porto Novo. Nesta 10ª edição vamos pela primeira vez à ilha Brava, onde teremos a 9 o Morna Fest”, destaca.
Este produtor conta que todos os anos tem tido dificuldades em ir às ilhas. “Temos tido dificuldades em relação às viagens. Não são as viagens em si, mas os parceiros para nos ajudar a suportar as viagens, quer nacionais quer internacionais”.
“Hã momentos que pensamos alto, queremos fazer cada vez mais para levar o Morna Fest a um patamar mesmo elevado, mas temos que ir devagar dando um passo de cada vez porque sabemos das dificuldades que vivemos no dia-a-dia, no país”, relata.
Objectivo
O objectivo, conforme disse, é dar a conhecer este festival a nível internacional. “Temos muitos artistas cabo-verdianos da música tradicional. Estamos a trabalhar no país para sedimentar este projecto e o objectivo é depois lançá-lo a nível internacional para promover a nossa cultura e os artistas e fazer cada vez mais e melhor para Cabo Verde”.
O Morna Fest tem conquistado paulatinamente as ilhas, cada ano a organização leva o evento que promove a morna para um palco diferente sem deixar os palcos que já conquistou para trás.
“No ano passado estivemos pela primeira vez na Vila da Ribeira Brava, em São Nicolau, e logo que terminou o evento o presidente da Câmara Municipal confirmou o evento para o ano seguinte. Com isso, no dia 2 de Dezembro, estaremos lá de novo”, apontou Júlio do Rosário.
Foi a mesma coisa na cidade de São Filipe, na ilha do Fogo. Júlio do Rosário explica que o Morna Fest chegou à ilha do Fogo pela sua persistência e isso deu resultado. “Este ano estaremos novamente na ilha do Fogo. Para a ilha Brava apresentei o projecto ao presidente da Câmara Municipal, procurei parceiros e estamos a trabalhar com uma expectativa muito alta para levar o evento à ilha de Eugénio Tavares”.
Homenagem
Júlio do Rosário afirmou que sempre pensaram em homenagear Humbertona e este ano vão fazer isso, embora sendo uma homenagem póstuma. “Infelizmente o Humbertona não está mais entre nós, mas mantemos a decisão de o homenagear. Pedimos autorização à família e o filho, Dorival Bettencourt, prontamente autorizou-nos a homenageá-lo no Morna Fest deste ano”.
Para o produtor musical, o Humbertona era um dos melhores tocadores de violão, um exímio promotor e divulgador da música tradicional de Cabo Verde. “Teremos uma grande homenagem com grandes guitarristas como Bau, Stephan Almeida (filho do Bau), Ericson Fonseca e Carlos Matos”.
“Humbertona teve trabalhos musicais gravados com violão e piano e teremos um momento no espectáculo que é mesmo dedicado a ele com uma homenagem singela. Em todos os municípios a que vamos levar o Morna Fest vamos ter um momento de homenagem ao músico”, indica.
Contributo
Conforme afirmou, este festival representa muito para Cabo Verde porque a morna é património cultural imaterial da humanidade, “estamos a produzir e realizar um festival de morna em Cabo Verde e este festival significa muito porque assim a UNESCO vê que estamos a fazer algo para a preservação e a promoção da morna”.
“Mesmo que não tenhamos grandes apoios, estamos a produzir anualmente um espectáculo de Santo Antão a Brava para promover a nossa cultura e a morna e o nosso objectivo é internacionalizar o festival com os artistas que temos disponíveis no mercado”, garante.
“Como sócio gerente da Boa Música sinto-me realizado porque a produtora está a fazer a sua parte, outros também têm de fazer, mas Boa Música está a fazer a sua parte para promover a morna”, adianta.
Situação da morna
Júlio do Rosário assegura que o país tem necessidade de ter o ensino de música para as pessoas aprenderem a tocar. “De uma forma geral, temos necessidades de ter o ensino da música de Cabo Verde. E quando falamos da morna estamos a falar da música no geral. Para os alunos aprenderem a tocar, cantar e sentir a morna ou a cultura cabo-verdiana, para os jovens vindouros poderem dar continuidade ao trabalho que os mais velhos conseguiram, como foram os casos de Humbertona, Cesária Évora, Ildo Lobo, Bana, Antoninho Travadinha, entre outros”.
O produtor musical defende que os jovens devem dar continuidade mas, para isso, há que haver lugares de ensino, escolas de música, para aprenderem e sentir a morna. “Tens que sentir a morna para a poderes cantar. Se não tens a alma de cantar a morna não podes transmitir o sentimento que ela transmite”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1148 de 29 de Novembro de 2023.